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Gravação mostra Ronald Reagan chamando delegados africanos na ONU de 'macacos'

Governador da Califórnia na época, Reagan ficou irritado com o fato de delegados africanos na ONU terem se oposto aos EUA em uma votação.

31 jul 2019 - 16h05
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Quando era governador da Califórnia, Ronald Reagan (esq.) descreveu uma delegação da Tanzânia como 'macacos' em um telefonema com o então presidente Richard Nixon (dir.)
Quando era governador da Califórnia, Ronald Reagan (esq.) descreveu uma delegação da Tanzânia como 'macacos' em um telefonema com o então presidente Richard Nixon (dir.)
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O ex-presidente dos EUA Ronald Reagan (1981-1989) descreveu delegados africanos na Organização das Nações Unidas (ONU) como "macacos", como mostram gravações em fitas recém-descobertas publicadas pela revista americana The Atlantic.

Ele fez o comentário durante uma ligação telefônica em 1971, com o então presidente americano Richard Nixon - na época, Reagan era governador da Califórnia.

O republicano ficou irritado com o fato de delegados africanos na ONU terem se oposto aos EUA em uma votação.

Membros da delegação da Tanzânia começaram a dançar depois que a ONU votou para reconhecer a China e expulsar Taiwan.

Reagan, que era defensor do regime de Taiwan, ligou para o presidente no dia seguinte para expressar sua frustração.

Num dado momento da conversa, ele diz: "Ver esses... macacos desses países africanos - malditos, ainda não se sentem confortáveis nem de usar sapatos!"

Nixon, que deixou a Casa Branca em 1974, pode ser ouvido rindo. Tanto Reagan quanto Nixon eram políticos do partido Republicano.

Trecho racista escondido

A gravação foi descoberta por Tim Naftali, historiador e professor de História na Universidade de Nova York. Ele dirigiu a biblioteca presidencial de Nixon de 2007 a 2011.

Segundo Naftali, o trecho com a fala racista foi removido das fitas por razões de privacidade. O material foi publicado no Arquivo Nacional dos EUA no ano de 2000, quando Reagan ainda era vivo - ele morreu em 2004, aos 93 anos.

Sigilo de trechos das conversas de Reagan caiu após sua morte
Sigilo de trechos das conversas de Reagan caiu após sua morte
Foto: BBC News Brasil

Uma decisão judicial posterior à morte do ex-presidente permitiu que o material fosse divulgado na íntegra, sem edições. "A morte de Reagan, em 2004, eliminou as preocupações com privacidade", disse Naftali.

"Pedi que as conversas envolvendo Ronald Reagan fossem reavaliadas e, duas semanas atrás, o Arquivo Nacional divulgou versões completas", acrescentou.

Segundo Naftali, Reagan ligou para o então presidente Nixon para pressioná-lo a se retirar da ONU. Mais tarde, Nixon disse que "as queixas de Reagan sobre os africanos se tornaram o tópico principal do telefonema".

Naftali também disse que o presidente disse mais tarde a seu secretário de Estado que "o sr. Reagan descreveu a delegação da Tanzânia" como "canibais" que "nem estavam usando sapatos".

Reagan defendeu publicamente as políticas de apartheid na antiga Rodésia - atual Zimbábue - e na África do Sul. Naftali disse que a gravação recém-revelada "lança nova luz" sobre essa postura.

Ele foi presidente dos EUA de 1981 a 1989, em um momento marcado pelo auge da Guerra Fria e o desmoronamento do comunismo soviético.

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