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G20 terá Brasil coadjuvante e 'guerra' entre EUA e China

Líderes se reúnem entre sexta-feira e sábado em Buenos Aires

29 nov 2018 - 13h18
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Por Fernando Otto - Começa nesta sexta-feira (30) a 10ª Cúpula de Líderes do G20, grupo que reúne 19 das maiores economias do mundo e a União Europeia, em Buenos Aires, na Argentina. No centro das discussões, estará a guerra fiscal entre Estados Unidos e China, que tem efeitos na economia global. O Brasil, assim como os demais países da América Latina, tenta recuperar o ritmo de crescimento da economia e será coadjuvante. Esta será a primeira vez que o grupo se reúne na América do Sul.

    Os temas oficiais divulgados pela organização da reunião neste ano são o futuro do trabalho, a infraestrutura para o desenvolvimento e o futuro alimentar sustentável, que serão debatidos por líderes políticos e ministros de finanças dos países-membros, além de mais de 50 reuniões entre políticos e organizações sociais, mesas de trabalho e discussões entre membros permanentes e convidados. Ao final das tratativas, a cúpula redigirá uma declaração final em que os líderes se comprometerão a cumprir os acordos firmados.

    Também participam do G20 a Organização das Nações Unidas (ONU), o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), a Organização Mundial do Trabalho (OIT), a Organização Mundial da Saúde (OMC) e a Organização Mundial do Comércio (OMC). Guerra comercial - Em 2017, os países do G20 se comprometeram a limitar o protecionismo na economia, defender um sistema de comércio internacional regulado e favorecer políticas que repartam os benefícios da globalização. Pelo menos com relação ao protecionismo, esse não foi o caminho adotado pelo presidente norte-americano, Donald Trump. Desde a metade do ano, o magnata republicano está em atrito com a China e já impôs sobretaxas a US$ 250 bilhões em importações de produtos do país asiático, alegando que Pequim quebra patentes e não cumpre compromissos de abertura de mercado. "O Trump adota um estilo de negociação que é duro, militante. Ele deixa a corda esticar para depois relaxá-la. Durante o G20, vamos ver mais disso. Não acredito que ele tenha interesse em uma ruptura, mas ele usa essa tática como instrumento de barganha", explica Matias Spektor, coordenador da Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

    Para Arnaldo Cardoso, professor de Comércio e Relações Internacionais da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o multilateralismo na política e comércio mundiais, um dos pilares da criação do G20, em 2008, vive uma onda de contestação. O fenômeno é motivado, em grande parte, pela recessão que atingiu a economia mundial na última década, associada às guerras e crises sociais no Oriente Médio e América Latina, que causaram grandes fluxos de migratórios. "A eleição e formação de governos de direita e extrema direita, como o surpreendente caso de Donald Trump nos Estados Unidos, Viktor Orban na Hungria, Luigi Di Maio e Matteo Salvini na Itália, Erdogan na Turquia, Putin, que se perpetua no comando da Rússia, e agora o novo presidente no Brasil [Jair Bolsonaro], passaram a dar condições e escala para a prática de políticas de confronto ao multilateralismo e ao 'globalismo' que vem sendo tratado por esses governos como uma ideologia perniciosa aos interesses nacionais", destaca. A reunião também marcará o encontro de Trump com o rei da Arábia Saudita, Salman Bin Abdulaziz, após o departamento do Tesouro dos Estados Unidos ter aplicado punições a 17 suspeitos de envolvimento na morte do jornalista Jamal Khashoggi, crítico do governo de Salman, que trabalhava para o jornal "The Washington Post". Ele foi assassinado no último dia 2 de outubro após entrar no consulado saudita em Istambul, na Turquia. O serviço de inteligência dos Estados Unidos acusa o filho do monarca e líder "de facto" do reino árabe, Mohammad Bin Salman, de ser o mandante do crime, mas Trump reluta em admitir a culpa do aliado.

    Brasil - O Brasil chega à reunião em um momento de transição, com a expectativa sobre como será a política externa do presidente eleito, Jair Bolsonaro. O atual ocupante do cargo, Michel Temer, o convidou para a viagem, mas Bolsonaro decidiu ficar o Brasil para continuar a recuperação do atentado a faca que sofreu durante a campanha eleitoral. Ao chegar ao poder, em 2016, Temer sofreu resistência e não assumiu papel de liderança na América do Sul. "Quando houve o impeachment, boa parte dos analistas, empresas e países se manifestaram contra, mas isso foi realinhado. Ninguém deixou de receber o Temer, nem de fazer negócios com o Brasil", explica Matias Spektor. Para o professor, a crise econômica que atinge todo o continente faz com que nenhum país exerça a liderança local. "Quem primeiro conseguir reverter essa situação será aquele que terá condições de aspirar exercer liderança", projeta.

    "O Mercosul, que desde muito se encontra estagnado, deverá passar por reformas que, se não provocarem seu fim, reduzirão o bloco a uma área de preferência tarifária", diz Arnaldo Cardoso, referindo-se ao Mercado Comum do Sul, que é alvo de críticas tanto de Jair Bolsonaro, no Brasil, quanto de Mauricio Macri, na Argentina. Os dois consideram as barreiras impostas pelo bloco um entrave para o crescimento econômico. "O Mercosul se transformou em um manto protecionista para alguns setores, como o automotivo, garantirem que não teriam competição internacional", analisa Matias Spektor, que acredita na formação de uma coalizão Brasil-Argentina para rever as condições do bloco.

Ansa - Brasil   
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