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Fedez acusa RAI de censura e ataca Liga por lei contra homofobia

2 mai 2021 - 11h20
(atualizado às 11h44)
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O rapper italiano Fedez provocou polêmica na Itália neste sábado (1º) ao acusar a emissora pública RAI de tentar vetar - sem sucesso - seu discurso em um show no qual atacou a oposição do partido ultranacionalista Liga, de Matteo Salvini, ao projeto de lei contra a homofobia.

A denúncia foi feita durante o tradicional concerto de 1º de Maio, no Auditorium Parco della Musica, em Roma, que foi realizado com público reduzido em decorrência da pandemia de Covid-19, mas transmitido no canal Rai3.

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Durante a apresentação, Fedez revela que seu discurso foi considerado "impróprio pela vice-diretora da Rai3", além de denunciar o bloqueio no Senado do projeto de lei que pune os crimes de homofobia, transfobia, misoginia e violência contra pessoas com deficiência, devido à relutância da Liga e do presidente da Comissão de Justiça da Itália, Andrea Ostellari.

"Ostellari decidiu que um projeto de lei de iniciativa parlamentar, portanto a expressão máxima do povo, já aprovado na Câmara como 'Zan', pode ser facilmente bloqueado pelo desejo de liderar por um indivíduo, ou seja, ele mesmo", acusou o rapper.

Fedez começou a ler uma série de declarações homofóbicas de líderes do partido de extrema direita, como a de Giovanni De Paoli, conselheiro regional da Ligúria: "Se eu tivesse um filho gay, o queimaria no forno".

"Segundo Ostellari, existem outras prioridades no momento, então vamos olhar para essas prioridades: o Senado tinha que discutir a rotulagem do vinho, a reorganização do Coni, o subsídio do bilinguismo dos policiais de Bolzano, a reintegração do direito vitalício de Formigoni", disse ele, citando a alegada justificava para o projeto contra homofobia não ter sido votado.

"Então, segundo Ostellari, provavelmente o direito vitalício de Formigoni é mais importante do que a proteção de pessoas que são discriminadas todos os dias a ponto de sofrer violência?", questionou.

Além disso, Fedez lembrou dos pedidos feitos pela RAI para modificar seu texto, declarando que o conteúdo deveria ser submetido à aprovação. O discurso, porém, foi considerado "impróprio" pela vice-diretora do terceiro canal da emissora pública, Ilaria Capitani.

A fala do famoso rapper provocou a ira de Salvini, que considerou que a Itália já protege os homossexuais, apesar de o grupo insistir que a legislação vigente não é suficiente. O ex-ministro do Interior ainda convidou Fedez para tomar um café e "conversar sobre liberdade e direitos".

"Para mim também o direito de um filho ter mãe e pai é sagrado", defendeu Salvini. "Amo música, arte, sorrisos. Amo e defendo a liberdade de pensar, escrever, falar, amar. Todos podem amar quem quiserem, como quiserem, quanto ele quiser. E quem discrimina ou ataca deve ser punido, nos termos da lei", alertou.

Em meio à polêmica, a RAI negou as denúncias e disse que nunca pediu antecipadamente os textos e que nunca praticou formas de censura preventiva contra qualquer artista. "Isso deve ficar claro, sem mal-entendidos e não aceitamos exploração que possa prejudicar a dignidade da empresa e de seus colaboradores', diz a nota.

Apesar do posicionamento da RAI, Fedez publicou em suas redes sociais um telefonema em que um dirigente do canal é ouvido alertando o rapper de que seu discurso foi "editorialmente inadequado".

"A RAI nega a censura. Aqui está o apelo em que a vice-diretora da RAI3, Ilaria Capitani, e seus colaboradores me pedem para 'me conformar a um sistema' dizendo que no palco não posso dar nomes e sobrenomes", rebateu.

O CEO da RAI, Fabrizio Salini, por sua vez, argumentou que ''certamente nenhum 'sistema' existe e não deve existir na emissora". Ele ainda pediu desculpas se alguém, falando apropriadamente em nome da RAI, usou essa palavra.

"Eu sou um artista e subo ao palco para dizer o que quero assumindo toda a responsabilidade. As frases que levo no meu discurso são declarações de vereadores da Liga que dizem que 'se tivessem um filho gay o queimariam no forno", alega Fedez no telefonema, visivelmente irritado.

Após a polêmica, a esposa do artista italiano, Chiara Ferragni, uma das mais famosas "influenciadoras" do mundo, expressou o "orgulho" que sente pelo rapper.

Reações -

O caso repercutiu em toda a Itália e provocou reações de diversos políticos. O secretário do centro-esquerdista Partido Democrático, Enrico Letta, pediu esclarecimentos da RAI, agradecendo a Fedez o apoio ao projeto de lei Zan, enquanto o ministro das Relações Exteriores, Luigi Di Maio, destacou que "um país democrático não pode aceitar qualquer forma de censura".

"Música é liberdade, transmite emoções e ajuda a compreender, analisar, amadurecer. Acho que o respeito é o mais importante e está na base de tudo, é saber aceitar críticas e ideias diferentes das nossas. E um país democrático não pode aceitar qualquer forma de censura", afirmou o chanceler. "Conheço Fedez há muito tempo, além de ser um cantor muito talentoso, é uma pessoa que sempre põe o coração em tudo que faz. Todo artista deve ter a oportunidade de se expor livremente, expressando suas ideias".

O ex-primeiro-ministro da Itália Giuseppe Conte também declarou apoio a Fedez, assim como a prefeita de Roma, Virginia Raggi. "Fedez foi ótimo e tem razão. Precisamos começar de novo do trabalho, do apoio aos que ficaram e pelos direitos de todos", disse ela.

Já Salvini voltou a criticar a postura do rapper. "Fedez e Rai 3, toda polêmica interna na esquerda. Artista de esquerda, 'censores' de esquerda. Viva a música e a liberdade. Estamos esperando que alguém pague e renuncie ", tuitou.

Projeto de lei -

A Câmara dos Deputados da Itália aprovou o projeto de lei que pune os crimes de homofobia, transfobia, misoginia e violência contra pessoas com deficiência em novembro de 2020.

O texto, que tem Alessandro Zan, do Partido Democrático, como relator, inclui a homofobia e transfobia no Código Penal nos artigos que punem atos de violência e discriminação por motivos raciais, étnicos ou religiosos.

Em caso de aprovação pelo Senado, quem cometer os crimes poderá pegar penas de até um ano e seis meses de detenção no caso de discriminação e instigação à discriminação, e de até quatro anos no caso de atos violentos.

No entanto, o projeto de lei foi agendado para ser discutido no comitê de Justiça do Senado há apenas três dias.

Ansa - Brasil   
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