Rússia condena quatro jornalistas acusados de colaborar com Navalny, opositor de Putin morto em 2024
Um tribunal de Moscou condenou na terça-feira (15) quatro jornalistas a cinco anos e meio de reclusão por colaborarem com a organização do opositor russo morto na prisão Alexei Navalny, em mais um exemplo da repressão a todas as vozes que criticam o Kremlin.
Um tribunal de Moscou condenou na terça-feira (15) quatro jornalistas a cinco anos e meio de reclusão por colaborarem com a organização do opositor russo morto na prisão Alexei Navalny, em mais um exemplo da repressão a todas as vozes que criticam o Kremlin.
Classificado pelo governo russo de "extremista", o movimento de Navalny, o principal oponente do presidente Vladimir Putin até sua morte sob custódia em condições misteriosas em fevereiro de 2024, foi metodicamente erradicado nos últimos anos. Seus aliados e apoiadores foram levados ao exílio ou presos, e a justiça russa não se limita mais aos seus colaboradores diretos.
Os jornalistas Antonina Kravtsova, Serguei Kareline, Konstantin Gabov e Artiom Krieger foram considerados culpados de "participação em uma organização extremista", de acordo com um jornalista da AFP presente na sala de audiências do tribunal de Nagatinski, ao sul de Moscou.
Cada um deles foi "condenado" a "cinco anos e seis meses" de prisão, disse a juíza, Natalia Borissenkova, um pouco menos do que os cinco anos e 11 meses solicitados pelo promotor.
Os réus rejeitaram as acusações do sistema judiciário russo no tribunal. "Todos irão recorrer", disse rapidamente à imprensa Ivan Novikov, advogado de Artiom Krieger.
Liberdade de imprensa "não tem valor" na Rússia
Elena Sheremeteva, a outra advogada do jornalista, denunciou o veredicto como "ilegal e injusto", enquanto Irina Biryukova, que defende Konstantin Gabov, insistiu que "não há evidências de que eles cometeram qualquer crime".
Após a leitura do veredicto, o jornalista Artiom Krieger gritou: "Tudo vai ficar bem, tudo vai mudar! Aqueles que me condenaram estarão sentados aqui em meu lugar", sentenciou.
"Vocês são o orgulho da Rússia", respondeu um apoiador presente na sala de audiências. "Vocês são os melhores", gritaram outros, aplaudindo os jornalistas condenados. "Vocês deixam a Rússia orgulhosa", enalteceu outro apoiador na sala.
"Antonina, Artiom, Sergei e Konstantin são verdadeiros jornalistas e pessoas honestas e corajosas", reagiu Kira Yarmysh, porta-voz da viúva de Alexei Navalny, Yulia Navalnaya, na rede social X, pedindo a libertação "imediata" dos condenados.
Diplomatas europeus também compareceram ao tribunal na terça-feira. A diplomacia alemã viu isso como prova de que a liberdade de imprensa "não tem valor" na Rússia, onde "jornalistas são jogados na prisão".
"Fazer jornalismo na Rússia"
Os quatro jornalistas foram presos em meados do ano passado, antes de serem julgados a portas fechadas, um procedimento que agora é padrão na Rússia para esse tipo de caso.
Antonina Kravtsova, que trabalhava sob o nome de Antonina Favorskaya, cobria regularmente os julgamentos de Alexei Navalny para a SOTAvision. Em 15 de fevereiro de 2024, ela produziu o último vídeo mostrando Alexei Navalny ainda vivo: foi durante uma audiência, um dia antes de sua morte. Ele estava aparecendo por meio de um link de vídeo (sistema de transmissão ao vivo de imagens) de sua prisão no Ártico.
A jornalista falou à imprensa antes do início do julgamento: "Lembrem-se, a escuridão que nos cerca não durará para sempre. Sempre há esperança", declarou Antonina Kravtsova. Os repórteres Sergei Kareline e Konstantin Gabov foram acusados de participar da produção de vídeos para a equipe de Alexei Navalny. O primeiro trabalhou no passado com a agência de imprensa Reuters e o segundo com a Associated Press (AP).
Artiom Krieger, jornalista da SOTAvision, também é acusado de colaborar com a organização anticorrupção do adversário político de Putin.
No tribunal, ele disse, de acordo com o site Meduza: "Eu não queria fugir e ter medo, queria insistir que era possível e necessário fazer jornalismo na Rússia".
"Se eu tiver que pagar por essa condenação com minha liberdade ou minha vida, estou preparado para isso", acrescentou. "Estou na prisão por causa do meu trabalho, da minha atitude honesta e imparcial em relação ao jornalismo e do meu amor pela minha família e pelo meu país", comentou Sergei Kareline, segundo o Meduza.
Nos últimos meses, as autoridades russas aumentaram a pressão sobre o restante da mídia independente e estrangeira no país, em um cenário de repressão generalizada àqueles que criticam a ofensiva na Ucrânia que começou em fevereiro de 2022.
Vários jornalistas russos foram condenados a longas penas de prisão nos últimos anos por várias acusações.
(com AFP)