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Por que o príncipe Harry quer proibir o jogo Fortnite no Reino Unido?

O membro da família real britânica fez duras críticas ao game, afirmando que o produto foi feito para 'viciar'.

5 abr 2019 - 14h48
(atualizado em 11/4/2019 às 14h05)
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Para Harry, o game Fortnite não oferece nenhum benefício para quem o joga
Para Harry, o game Fortnite não oferece nenhum benefício para quem o joga
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Ele foi criado para ser viciante". Assim começou a crítica do príncipe Harry a um dos jogos mais famosos e lucrativos do mundo, o Fortnite.

Durante um evento em Londres nesta quinta-feira, o príncipe expressou o desejo de que o jogo seja proibido no Reino Unido. Ele considera que o game não oferece nenhum benefício aos jogadores.

As duras críticas de Harry se somam a um controverso debate já existente entre profissionais da medicina, governos e lobistas: os videogames podem ser prejudiciais à saúde?

O Fortnite foi lançado pela empresa Epic Games em julho de 2017. O jogo se transformou em um fenômeno global e tem batido recordes de participantes: até agora, ele tem 200 milhões de jogadores registrados no mundo todo.

Fortnite é um dos games mais baixados atualmente
Fortnite é um dos games mais baixados atualmente
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Redes sociais são 'mais viciantes que álcool e drogas'

Os comentários do príncipe do Reino Unido foram feitos pouco antes do Bafta Video Games Awards, um dos mais importantes eventos para os amantes de jogos eletrônicos no Reino Unido, realizado em Londres todos os anos.

"Esse jogo não deveria ser permitido. Onde está o benefício em jogá-lo?", disse Harry. "Ele foi criado para ser viciante. Um vício que te mantém em frente a um computador o maior tempo possível. É muito irresponsável", completou.

Harry também condenou o uso das redes sociais. "São mais viciantes do que o álcool e as drogas", afirmou.

Mas ele tem razão em relação aos games?

O mercado de games no Reino Unido movimenta cerca de U$ 6.4 bilhões por ano
O mercado de games no Reino Unido movimenta cerca de U$ 6.4 bilhões por ano
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Efeitos na saúde

Cada vez mais profissionais têm observado relação entre o vício em videogames e problemas físicos e mentais em jogadores.

Há poucos dias, a BBC publicou uma reportagem sobre um menino de 11 anos que foi proibido de jogar Fortnite e Minecraft pelo médico de sua família. A prescrição durou várias semanas.

O médico afirmou que estava preocupado com o impacto causado pelos jogos na vida do garoto.

Mas as crianças não são o único grupo afetado.

Uma pesquisa recente mostrou que 200 casais que se divorciaram no Reino Unido entre janeiro e setembro de 2018 mencionaram o vício em Fortnite e outros jogos eletrônicos como uma das razões para a separação.

No entanto, outros pesquisadores, como o escocês Andrew Reid, afirmam que Fortnite não é "viciante" e que, ao contrário, ele tem "características positivas".

O game funciona a partir de um objetivo simples: o personagem precisa sobreviver o maior tempo possível. Cada partida tem um total de 99 jogadores com o mesmo objetivo, e dura cerca de 20 minutos, dependendo do sucesso de cada jogador.

O jogo pode ser baixado de forma gratuita, mas os jogadores podem gastar dinheiro em compras feitas por seus personagens durante a partida.

O game inclui exploração, construção de edifícios e batalhas em primeira pessoa, e pode ser acessado em mais de um dispositivo — é possível, por exemplo, começar uma partida no computador e transferi-la posteriormente para o console ou para um dispositivo móvel.

Os usuários podem jogar sozinhos, como parte de uma equipe de quatro ou 20 pessoas, seja com amigos ou desconhecidos.

A Organização Mundial da Saúde afirma que jogos em excesso podem se transformar em transtornos de saúde mental
A Organização Mundial da Saúde afirma que jogos em excesso podem se transformar em transtornos de saúde mental
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Transtorno de saúde mental?

A indústria dos games vive seu auge histórico. Apenas no Reino Unido, ela movimenta U$ 6,4 bilhões por ano, boa parte graças ao sucesso de Fortnite. Esses números foram compilados pela agência de jogos Ukie, que também destacou os "indícios fracos" de que os jogos prejudicam a saúde.

No mundo, o mercado de jogos digitais teve uma receita de cerca de US$ 137,9 bilhões em 2018, com 75% vindo de jogos para dispositivos móveis ou para computador, que costumam adotar modelo de comercialização como o do Fortnite.

"Nos preocupamos com os jogadores. Queremos ajudar os pais que não jogam a se sentirem mais bem equipados e com conhecimento sobre o jogo seguro e responsável, e também sobre o impacto positivo que os jogos podem ter na vida das pessoas", disse Jo Twist, diretora executiva da Ukie e presidente da Bafta Games.

A Ukie cita uma pesquisa realizada pelo professor Andrew Przybylski, psicólogo experimental do Instituto de Internet de Oxford, no Reino Unido, que afirmou que apenas 0,3% dos jogadores têm problemas para controlar o tempo que passam nos games.

O psicólogo disse à BBC que estudos de larga escala sobre o assunto indicam que os jogos podem não ser intrinsecamente viciantes e devem ser considerados como um "mecanismo para lidar com a angústia mental, ao invés de causá-la."

"Culpar os jogos de maneira indevida estigmatiza um passatempo popular desfrutado por quase dois bilhões de pessoas no mundo", afirmou Przybylski.

Por outro lado, a Organização Mundial da Saúde não concorda com essa avaliação. No ano passado, o órgão reconheceu o "jogo excessivo" como um transtorno de saúde mental.

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