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Europa

Itália: jovens extremistas são recrutados por caça talentos

Ação preocupa autoridades italianas

19 jan 2015 - 21h47
(atualizado às 21h50)
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<p>Cartazes com os dizeres "Eu sou Charlie" foram colocados na porta da embaixada francesa em Roma, após os ataques terroristas na França</p>
Cartazes com os dizeres "Eu sou Charlie" foram colocados na porta da embaixada francesa em Roma, após os ataques terroristas na França
Foto: Alessandro Bianchi / Reuters

Com os ataques em Paris, a Itália corre contra o tempo para conter possíveis extremistas que vivem em seu território. Mas, não é fácil identificar quem seriam essas pessoas. A Inteligência está focada em uma lista com centenas de nomes, na maioria, jovens de segunda geração de famílias vindas do Oriente Médio.

Eles residem, especialmente, na Lombardia, na Emilia-Romana, Ligúria, Vêneto e Lazio e - entre eles - há uma dezena de mulheres. Tratam-se de pessoas bastante conhecidas no âmbito investigativo, nas redes sociais e em blogs abertamente favoráveis à "guerra santa" contra o Ocidente. Com isso, eles se expõem não só aos investigadores, mas também aos extremistas do Estado Islâmico (EI, ex-Isis), que selecionam e tentam convencê-los a fazer parte do "califado".

Os aspirantes à "Rambo da Sharia" são representados pelos lobos solitários, que inspirados na Al Qaeda ou no EI, fazem blogs e estabelecem contatos com outros usuários europeus que seguem o extremismo islâmico. Alguns deles já viajaram por zonas de guerra, consolidaram conhecimentos e, na Itália, vivem muito isolados do resto da comunidade islâmica.

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Em cada caso, representam um fragmento diverso nas mãos dos investigadores italianos e não formam uma comunidade nem fora, nem dentro do mundo virtual. O único legado deles são as convicções extremas do salafismo (movimento reformador muçulmano) e que pensam de maneira diferente dos mais avançados jihadistas de Londres, Paris, Bélgica ou Alemanha. E os italianos estão ainda aguardando a terceira geração do grupo na Itália.

Com isso, cresce o mito do guerreiro "faça por si mesmo", enquanto o EI aumenta seu reconhecimento graças às mídias sociais e à espetacularização de seus horrores. Como já acontecia no Oriente Médio, os jovens são cada vez mais monitorados pelos "caça-talentos" do terror, que buscam aqueles que pegam em armas e também aqueles que pensam.

Eles não buscam apenas kamikazes, mas focam em estudantes universitários, engenheiros e médicos com tendências extremistas que começam a dialogar com os jihadistas. O perigo é concreto: são centenas de usuários italianos em alguns dos maiores sites extremistas do Ocidente: o Ansaral-Mujahideen, Shumukh e o al-Qimmah.

Além da rede, o problema também está localizado com as "figuras de encaixe" nas organizações. Mesmo que ainda sejam poucos, os chamados "facilitadores" têm ligações com os extremistas e podem programar rotas de fuga por vários países e a troca de informações. Um alarme foi lançado, segundo fontes, pelo serviço secreto da Tunísia. Eles descrevem o país como um buraco negro no qual é possível embarcar até a Turquia pela Síria e outras zonas de guerra e voltar sem serem notados.

A eles, se juntam - em particular - líderes jihadistas com o grupo Ansar al-Sharia, que após a queda de Ben Ali conquistou uma grande quantidade de seguidores. Tudo começou no início dos anos 2000, quando alguns terroristas foram presos na Itália e expulsos para presídios tunisianos na época de Ben Ali. Após a queda do regime, muitos deles continuaram a manter contato com os italianos e conseguiram desfrutar de certo apoio logístico.

Além da Tunísia, Argélia, Albânia, Kosovo e a região dos Balcãs são outras portas de entrada alternativas para os confrontos nas áreas controladas pelos extremistas.

E nesse tráfico de ambientes, algumas mesquitas parecem ter perdido há muito tempo as suas particularidades. Continuam em situação delicada aquelas da vila Jenner, em Milão e em Aosta, com uma forte presença de egípcios e de membros da Irmandade Muçulmana, expulsos após a Primavera Árabe. Mesmo não professando a Jihad (guerra santa), eles podem representar para Roma a maior ameaça do terrorismo islâmico.

E, muitas vezes, o medo do extremismo acaba recaindo sobre jovens que tentam professar sua fé. Um, entre os tantos empenhados na difusão do credo muçulmano, Usama el-Santawy, refuta veementemente a postura dos extremistas.

O jovem artista islâmico, sunita de segunda geração e nascido em Milão, afirma que "também é vítima das ameaças cotidianas para instrumentalizar midiaticamente sua vida". "Charlie Hebdo? Condeno os episódios de violência em Paris. Aqueles terroristas são da mesma família dos fascistas", afirma o músico.

Segundo o especialista em terrorismo do Instituto de Estudos de Política Internacional, Lorenzo Vidino, "a questão do jihadismo aumenta muito após os atentados porque, nesse ambiente, temos a impressão de que alguns gestos são feitos por todos".

Dados divulgados pelas autoridades italianas apontam alguns exemplos de jovens que estão ou que poderiam estar ao lado dos extremistas. Em 2012, o adolescente Jarmoune foi detido após fazer propagandas de grupos extremistas e ter salvo, em seu Google Maps, o interior de uma sinagoga em Milão - onde pretendia ter feito um ataque.

Já Anas el-Abboubi, 23 anos, era rapper enquanto morava na Itália, foi preso e liberado pela polícia sob a acusação de apologia ao terrorismo, e hoje, está lutando ao lado do EI na Síria. Ele fundou o site "Sharia4Italy" e se radicalizou rapidamente. Segundo informações dos familiares, ele está lutando em Aleppo, no norte sírio. Mesma escolha foi feita por Maria Giulia Sergio e por Giulliano Delnevo, que conheceram Anas online, e morreram em combate na Síria em 2013.

Fonte: ANSA Brasil
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