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EUA e Rússia rompem tratado sobre mísseis de médio alcance

Washington e Moscou confirmaram o fim do Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), que limitou o uso de mísseis com capacidade de atingir alvos entre 500 km e 5.500 km; especialistas temem nova corrida armamentista

2 ago 2019 - 10h41
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WASHINGTON - Estados Unidos e Rússia encerraram nesta sexta-feira, 2, o tratado de desarmamento nuclear INF, assinado no final da Guerra Fria, em uma decisão de faz ressurgir o temor de uma corrida armamentista entre as potencias mundiais.

O Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF, na sigla em inglês) de 1987 limitou o uso de mísseis de médio alcance (de 500 km a 5.500 km), tanto convencionais quanto nucleares. Entre outras coisas, o acordo permitiu a eliminação dos projéteis balísticos SS20 russos e Pershing americanos espalhados pela Europa.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, anunciou a retirada formal de Washington em um comunicado durante um fórum regional em Bangcoc, na Tailândia, minutos depois de a Rússia declarar o fim do tratado.

As duas partes indicaram durante meses sua intenção de retirar-se do tratado, trocando acusações de rompimento dos termos do pacto.

"A Rússia é a única responsável pelo fim do tratado", disse Pompeo em um comunicado ao final de uma reunião de ministros das Relações Exteriores da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean).

"O descumprimento russo do tratado ameaça interesses supremos dos EUA, e o desenvolvimento e instalação russos de um sistema de mísseis que viola o tratado representam uma ameaça direta aos Estados Unidos e nossos aliados e parceiros", disse Pompeo.

Alguns minutos antes, o ministro russo de Relações Exteriores, Serguei Lavrov, afirmou em Moscou que o tratado havia terminado "por iniciativa dos Estados Unidos".

Já o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Riabkov, afirmou que seu país propôs aos Estados Unidos uma moratória no uso dos mísseis nucleares de alcance intermediário apesar do fim do INF.

"Apresentamos aos Estados Unidos e outros membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) a proposta de considerar a possibilidade de anunciar uma moratória no deslocamento de armas de alcance intermediário", afirmou Riabkov em uma entrevista à agência russa TASS.

"Seria uma moratória comparável a que foi anunciada por Vladimir Putin afirmando que, se os Estados Unidos não instalassem suas armas em certas regiões, a Rússia também se absteria de fazê-lo", disse.

Washington acusa a Rússia durante anos de desenvolver um novo tipo de míssil, o Novator 9M729 - conhecido pela Otan como SSC-8 -, alegando que o armamento violava o tratado.

As acusações foram apoiadas Otan. O míssil tem um alcance de 1.500 km, segundo a Organização, mas Moscou alega que o equipamento só é capaz de percorrer 480 km.

Nesta sexta-feira, a aliança atlântica disse rechaçar uma eventual nova "corrida armamentista". "Não queremos uma nova corrida armamentistas, mas garantiremos que nossa (força de) dissuasão seja crível" ante o novo sistema de mísseis russo, anunciou o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.

"A Rússia fracassou em voltar a cumprir totalmente e de forma verificada (o acordo) através da destruição de seu sistema de mísseis, disse Pompeo, em referência ao míssil terra-ar 9M729.

No início do ano, a Casa Branca abriu um período de transição de seis meses para suspender sua participação no INF, que terminou nesta sexta. Pouco depois, Moscou começou seu processo de retirada, e no mês passado Putin suspendeu formalmente sua participação.

Nova Era

Assinado pelo então presidente americano Ronald Reagan e pelo líder soviético Mikhail Gorbachev, o tratado INF era considerado a pedra angular da arquitetura global do controle de armas.

Para os EUA, o pacto havia dado a outros países - principalmente a China - carta branca para desenvolver seus próprios mísseis de grande alcance. Os americanos também acusaram os russos de reiteradas violações.

As tensões entre Pequim e Washington - sobre disputas comerciais e marítimas - foram o centro das reuniões da Asean em Bangcoc nesta semana, na qual Pompeo acelerou a estratégia "Indo-Pacífica" dos EUA para se contrapor ao poder econômico e militar da China na Ásia.

Pompeo garantiu nesta sexta-feira que os EUA "queria uma nova era de controle de armas que fosse além dos tratados bilaterias do passado" e pediu a Pequim que se juntasse às discussões.

"Os EUA convidam Rússia e China a se unirem nesta oportunidade para entregar resultados de segurança reais para nossas nações e ao mundo inteiro", declarou.

O INF era visto como um dos acordos-chave sobre armas entre Moscou e Washington. O outro é o novo tratado START, que mantém os arsenais nucleares de ambos países muito abaixo dos níveis da Guerra Fria.

Este pacto expira em 2021 e parece haver pouca vontade política por parte dos dois países para renová-lo. Além disso, a China já rechaçou o convite americano para fazer parte do tratado no futuro. / AFP, EFE e REUTERS

Estadão
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