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Estátua de D'Annunzio gera crise entre Itália e Croácia

Homenagem marca o centenário da tomada de Rijeka

12 set 2019 - 20h17
(atualizado às 20h38)
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A inauguração de uma estátua do poeta e herói de guerra italiano Gabriele D'Annunzio (1863-1938) provocou uma crise diplomática com a Croácia que chegou aos mais altos escalões da política.

Estátua de Gabriele D'Annunzio em Trieste, na Itália
Estátua de Gabriele D'Annunzio em Trieste, na Itália
Foto: ANSA / Ansa - Brasil

Feita pelo artista Alessandro Verdi, a escultura fica na cidade de Trieste, no extremo nordeste da Itália, e representa D'Annunzio sentado em um banco com as pernas cruzadas e absorto na leitura de um livro.

A estátua foi inaugurada nesta quinta-feira (12), data em que se celebra o centenário da conquista da atual cidade croata de Rijeka, chamada pelos italianos de Fiume, por uma tropa de 2 mil nacionalistas liderados por D'Annunzio. O objetivo era anexá-la à Itália, que brigava com a Iugoslávia pelo espólio do Império Austro-Húngaro, derrotado na Primeira Guerra Mundial.

A homenagem gerou reações furiosas na Croácia, que a considerou uma ofensa por relembrar uma ocupação estrangeira em uma de suas principais cidades.

Por meio de um comunicado enviado à ANSA, o Ministério das Relações Exteriores do país balcânico disse que apresentou uma nota de protesto à Embaixada da Itália em Zagreb e que a inauguração "contribui para perturbar as relações de amizade e boa vizinhança entre as duas nações".

Além disso, a chancelaria croata afirmou que as celebrações pela tomada de Rijeka "homenageiam uma ideologia e um comportamento que estão profundamente em contraste com os valores europeus".

A decisão de inaugurar a estátua nesta quinta foi tomada pelo prefeito de Trieste, Roberto Dipiazza, do partido conservador Força Itália (FI), presidido pelo ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Sua postura teve o apoio de políticos de extrema direita, corrente que idealiza D'Annunzio como um de seus heróis.

"A inauguração em Trieste de uma estátua dedicada a Gabriele D'Annunzio no centenário da façanha de Fiume é uma iniciativa extremamente importante porque rende homenagem à memória de um grande italiano", disse a presidente do partido ultranacionalista Irmãos da Itália, Giorgia Meloni.

Rijeka

Além da nota diplomática de protesto, a Croácia se manifestou por meio de sua presidente, Kolinda Grabar-Kitarovic, que chamou a estátua de "escandalosa". "Rijeka foi e continuará sendo parte orgulhosa de sua pátria croata", acrescentou.

Já o primeiro-ministro Andrej Plenkovic fez a ressalva de que o governo italiano "se distanciou de tudo isso", mas disse que a Croácia "não pretende tolerar nenhum tipo de provocação ou atos que minem sua dignidade".

O prefeito de Rijeka, Vojko Obersnel, chamou o período de ocupação, que durou 16 meses, de "horrendo" e disse que D'Annunzio foi o "precursor da ideologia fascista". A polícia croata também deteve quatro italianos que pretendiam expor bandeiras do extinto Reino da Itália em frente ao palácio que o poeta usava como sede de seu governo.

Em Trieste, skinheads fixaram manifestos na sede do Consulado-Geral da Croácia com as palavras ditas por D'Annunzio ao entrar em Rijeka: "Eu soldado, eu voluntário, eu mutilado de guerra, interpreto a vontade de todo o povo são da Itália proclamando a anexação de Fiume à Pátria".

Ansa - Brasil   
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