Sem maratona, Nova York relembra 11/9 e prolonga luto por destruição
- Allan Brito
- Direto de Nova York
"Como está a cidade após a supertempestade Sandy?". "Virou uma cidade morta". O diálogo aconteceu entre jornalista e taxista na saída do aeroporto. Era apenas uma pista de qual era o sentimento que pairava sobre Nova York nesta semana. O motorista estava certo: a cidade tem transpirado luto. Tanto que não conseguiu renascer para receber a glamourosa Maratona de Nova York, que aconteceria neste domingo. Algo que relembra o que aconteceu após 11 de setembro de 2001, mas com outro desfecho.
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A Maratona de Nova York acontece desde 1970 e jamais foi cancelada. Sempre foi vista como um símbolo de grandeza da cidade, já que é a maior entre as maiores provas de 42 km do mundo - Chicago, Boston, Berlim, Tóquio e Londres têm suas qualidades, mas não recebem mais de 45 mil pessoas por ano. Antes de cancelar a corrida, os próprios organizadores usaram esse poder simbólico como justificava para tentar mantê-la de pé. Mas essa insistência só fez a queda ser maior.
Queda esta que já poderia ter acontecido há 11 anos: após o ataque às torres gêmeas do World Trade Center, a realização da maratona também esteve sob risco. Naquela época, a área atingida na cidade era menor do que atualmente, mas os corredores ficaram mais assustados. Óbvio: um ataque terrorista é muito mais imprevisível que um fenômeno da natureza.
Passagem da tempestade Sandy causou sérios danos em Nova York (Foto: Getty Images)
Mas o prefeito de Nova York na época, Rudy Giuliani, bancou a ideia de manter a Maratona de Nova York. Em seis semanas a cidade provou que estava viva. Morta mais uma vez após Sandy, a cidade viu o atual prefeito, Michael Bloomberg, ser o principal responsável por cancelar o evento deste ano. "Giuliani tomou a decisão certa em 2001. Mas nosso caso é diferente agora", analisou ele, ao tentar justificar sua decisão nesta sexta-feira.
Apesar de ter apelado para o lado emocional para explicar o cancelamento, Bloomberg não usou apenas o coração para fazer o que fez. Ele recebeu mais de 70% dos votos em Staten Island, região costeira que foi a principal vítima da supertempestade. Seria também onde aconteceria a largada no domingo, mas a região deixou clara desde o princípio do fim: o povo não queria a realização da maratona.
Bloomberg recebeu diversas críticas por ter bancado enquanto pôde a realização da Maratona. Na última quarta-feira inclusive foi divulgado um aviso de que a prova realmente aconteceria. A reação mais dura veio do jornal New York Post. "Abuso de poder" era a manchete, que ainda continha um trocadilho: "poder", que se escreve "Power" em inglês, pode significar também "energia". Ou seja, de acordo com a publicação, Bloomberg usou seu poder para desperdiçar com a maratona uma energia que poderia melhorar a vida de milhares de pessoas em Nova York.
O prefeito sentiu o golpe e manifestou isso tanto no comunicado oficial quanto na entrevista coletiva que concedeu após o cancelamento. "A maratona se tornou uma fonte de controvérsia e divisão", afirmou ele, provando que todas críticas da população e da imprensa geraram o cancelamento da corrida.
Restou a Bloomberg tentar diminuir os prejuízos. Em primeiro lugar, ajudar os mais necessitados, as vítimas da supertempestade Sandy. Uma campanha de doações foi organizada desde quinta-feira e segue bancada pela entidade organizadora da Maratona de Nova York. Mas há também os prejuízos de quem ia correr na prova. Ainda não ficou como e o quê os organizadores pagarão para os atletas de volta. E a garantia de inscrição nas provas de 2013 não inclui a taxa de inscrição: ou seja, quem foi prejudicado neste ano se livrou apenas do sorteio. Mas não de um novo pagamento, que ainda pode vir com a dura dor da decepção. Situação que prova como o taxista tinha razão, pois Nova York ainda vai demorar para renascer.