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Especial/Um plano de Macron para o Islã

Presidente quer submeter organizações muçulmanas ao Estado

6 jul 2018 - 15h18
(atualizado às 15h51)
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Por Tullio Giannotti - O presidente da França, Emmanuel Macron, quer regulamentar o culto muçulmano e tornar as organizações islâmicas no país mais transparentes, tanto em questões financeiras das mesquitas como de centros religiosos presentes no país.

Presidente da França, Emmanuel Macron
Presidente da França, Emmanuel Macron
Foto: EPA / Ansa - Brasil

Ele quer que essas comunidades se integrem cada vez mais.

O plano de Macron está pronto há alguns meses - o projeto está em suas mãos - e foi desenvolvido por Hakim El Karoui, um dos colaboradores mais próximos do mandatário. El Karoui é autor de um relatório importante sobre os muçulmanos, realizado em 2016, para o Institut Montaigne, que trabalha pela "eficácia da ação pública, coesão social e competitividade econômica da França".

Desta vez, tratam-se de 20 páginas que foram publicadas pelo jornal "Le Monde" e revelam a estrutura básica do plano estudado por Macron, que deseja criar uma organização dirigida por muçulmanos franceses, a "Associação Muçulmana para o Islã da França" (Amif).

Atualmente as instituições muçulmanas no país não funcionam tão bem porque estão à mercê de diferentes comunidades (argelinos, marroquinos, tunisianos e turcos) muitas vezes "rivais". Essas "potências" islâmicas rivalizam hoje entre si, importando seus conflitos na França, assim como seus interesses no negócio muçulmano (carne halal, peregrinação anual a Meca, coleta de doações, etc.).

Tudo isso hoje não é feito de forma transparente e é deixado em mãos de grupos vinculados às diversas ramificações do Islã. A Amif deve primeiro se ocupar de recolher e distribuir a significativa soma de dinheiro que deveria chegar de um imposto sobre os alimentos halal, de outro sobre a organização da peregrinação à Meca e de doações.

Com isso, se chegaria facilmente, dentro de cinco anos, a uma centena de milhões de euros, assim subdivididos: 60 milhões viriam do imposto sobre a "matança", mensurável em 30 centavos por cada quilo de carne. A Amif, em troca, garantiria a certificação final da preparação de carne com base nas regras muçulmanas. O mesmo princípio caberia às agências que organizam a peregrinação, cujos preços dispararam nos últimos anos. O Estado francês garantiria somente operadores turísticos "certificados", o preço se acalmaria, mas uma parte (13 milhões) terminaria nos cofres da Amif.

Finalmente, as doações: hoje, em grande parte, não ocorrem de forma transparente e são feitas em dinheiro, mas poderiam "emergir" graças a uma isenção de impostos de até 75% das somas doadas.

Os cofres da associação teriam fundos para pagar os imãs e oferecer perspectivas de ensino com uma carreira que atrairia jovens promissores que agora se dão por vencidos dedicando-se ao trabalho remunerado, evitando assim o domínio atual, em algumas mesquitas, das correntes fundamentalistas.

Em resumo, uma associação com o Estado em troca da assinatura de "uma carta política clara e republicana", com a aceitação da liberdade de culto e respeito dos laicos, dos princípios cardeais franceses como a igualdade entre os homens e mulheres e o lugar dos muçulmanos na sociedade francesa.

Ansa - Brasil   
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