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Mundo

ENTREVISTA-Nobel da Paz pede fim de impunidade a estupro como arma de guerra

19 out 2018 - 11h34
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Por Inna Lazareva

IAUNDÉ (Thomson Reuters Foundation) - O médico congolês que recebeu o Prêmio Nobel da Paz deste ano pediu ao mundo para acabar com o estupro como arma de guerra, dizendo que um "sistema de impunidade" ainda prevalece em muitos dos países mais afetados.

Denis Mukwege, que dividiu o prêmio com Nadia Murad, uma sobrevivente yazidi da escravidão sexual do Estado Islâmico, exortou o mundo a "traçar uma linha vermelha clara" contra a violência sexual em conflitos.

"Hoje podemos ver que, infelizmente, existe um sistema de impunidade que reina soberano em muitas zonas de conflito no que diz respeito àqueles que cometem crimes de violência sexual", disse ele à Thomson Reuters Foundation.

"Acho que o mundo tem poder para traçar essa linha, para fazer com que o uso do estupro como arma de guerra seja completamente proibido", disse ele em uma entrevista concedida em Bukavu, no leste da República Democrática do Congo.

Mukwege, de 63 anos, fundou o Hospital Panzi em 1999 para ajudar mulheres e meninas que foram estupradas durante o conflito no leste do Congo.

Ele operou dezenas de mulheres estupradas por homens armados e fez campanhas para chamar atenção para seu sofrimento. Ele também fornece tratamento para HIV/Aids e cuidados gratuitos para mães.

O estupro é um crime de guerra desde 1919, mas só foi processado a partir de 1997, quando Jean-Paul Akayesu, prefeito de uma cidade pequena de Ruanda, foi julgado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) para Ruanda por seu papel no genocídio de 1994.

O TPI emitiu sua primeira condenação por estupro em 2016, quando responsabilizou o congolês Jean-Pierre Bemba por uma campanha de estupros e assassinatos na República Centro-Africana. Em junho de 2018 o TPI reverteu a condenação graças a uma apelação.

Mukwege disse que o sistema de justiça militar do Congo melhorou, mas que o governo ainda é incapaz de ajudar vítimas de violência sexual e de proteger a população em geral.

Mais de 400 mil mulheres são estupradas no Congo a cada ano, e a maior parte da violência sexual é considerada um subproduto dos anos de combates.

"O que realmente nos dá esperança é, acima de tudo, a capacidade das mulheres que tratamos de se recuperarem", disse.

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