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Empresas proíbem mulheres de usarem óculos e causam controvérsia no Japão

Relatos de empresas que restringem o uso de óculos por mulheres reacenderam os debates sobre códigos de vestimenta no Japão.

8 nov 2019 - 17h44
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Veto a óculos em empresas do Japão causou debate acalorado em redes sociais
Veto a óculos em empresas do Japão causou debate acalorado em redes sociais
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Utilizar óculos no trabalho se tornou um assunto polêmico no Japão, após relatos de que algumas empresas pediram às funcionárias para não usá-los.

Entre as empresas que tomaram a medida, algumas redes de varejo disseram que vendedoras que usam óculos passam uma "impressão de frieza".

Essa "proibição" provocou discussões acaloradas nas redes sociais japonesas sobre os códigos de vestimenta para mulheres nos locais de trabalho.

A rede de TV Nippon e o site Business Insider fizeram reportagens sobre o assunto mostrando como empresas de diferentes setores proíbem as mulheres de usar óculos durante o trabalho.

As companhias aéreas, por exemplo, alegam motivos de segurança para os trabalhadores. Outras, do setor de cosméticos, dizem que os clientes não conseguem enxergar a maquiagem adequadamente nas vendedoras.

'Bastante discriminatório'

Não ficou claro se as chamadas "proibições" eram baseadas nas políticas das empresas ou se refletem uma prática socialmente aceita nesses locais de trabalho japoneses.

Nas redes sociais, a hashtag "óculos são proibidos" ficou popular no Japão e o assunto continuou a atrair atenção nesta sexta-feira (08/11).

Kumiko Nemoto, professora de sociologia da Universidade de Estudos Estrangeiros de Quioto, disse que as pessoas no Japão estão reagindo com mais indignação a "práticas ultrapassadas".

"As razões pelas quais as mulheres não devem usar óculos realmente não fazem sentido. É tudo sobre gênero. Isso é bastante discriminatório", diz ela.

Segundo Nemoto, essa "proibição" reflete um "pensamento japonês antigo e conservador".

Em junho, a atriz e escritora Yumi Ishikawa apresentou ao governo japonês uma petição contra códigos de vestimenta
Em junho, a atriz e escritora Yumi Ishikawa apresentou ao governo japonês uma petição contra códigos de vestimenta
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"Não se trata de como as mulheres fazem seu trabalho. A empresa valoriza a aparência 'feminina' das mulheres e isso, para elas, é o oposto de alguém que usa óculos", afirma Nemoto.

A discussão faz lembrar uma recente controvérsia em empresas no Japão sobre o uso salto alto.

A atriz e escritora Yumi Ishikawa lançou uma petição pedindo que o país abolisse os códigos de vestimenta depois de ter sido obrigada a usar sapatos de salto alto no trabalho.

O movimento atraiu um fluxo de apoio e um um grande número de seguidores nas redes sociais.

Os apoiadores tuitaram a petição com uma hashtag #KuToo em solidariedade à causa, espelhando o movimento #MeToo — contra o abuso sexual. O slogan é um jogo com as palavras japonesas para sapatos ("kutsu") e dor ("kutsuu").

As ativistas têm dito que usar salto alto é visto como procedimento obrigatório ao se candidatar a vagas de empregos.

Os apoiadores ficaram ainda mais agitados depois de um ministro do governo japonês dizer que ser "necessário" que as empresas apliquem códigos de vestimenta que exijam sapatos de salto alto.

Kumiko Nemoto disse que o assunto continua sendo discutido por mulheres no Japão com "críticas às políticas de salto alto".

"As mulheres são avaliadas principalmente por sua aparência", disse ela. "Essa é a mensagem que essas políticas estão passando."

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