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Em acampamentos na fronteira, sírios dependem de médicos em caminhões e barracas

23 jun 2019 - 11h57
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A guerra na Síria infligiu todo tipo de dificuldades a Najwa Abdelaziz, mas ela ainda consegue fazer pouco de algumas delas. "A insurreição arruinou meus dentes", brinca ela, ao receber atendimento odontológico pela primeira vez em anos na traseira de um caminhão.

A mulher de 33 anos não conseguia encontrar ajuda para sua dor de dente mesmo depois que fugiu do governo do Estado Islâmico e se refugiou no noroeste da Síria. Mas um dentista em uma clínica móvel chegou agora ao campo Rayyan, onde mora com o marido e quatro filhos em uma barraca entre as árvores.

"Continuamos sendo desalojados, então ficamos sem médicos", disse Abdelaziz, cuja família foi expulsa da cidade de Raqqa há cerca de três anos.

Eles acabaram no canto noroeste da Síria, a última grande fortaleza rebelde do país. Os campos estão transbordando, os médicos são poucos e muitos hospitais foram destruídos pelos bombardeios do governo.

Nos acampamentos ao longo da fronteira turca, muitas vezes a única assistência médica para pessoas como Abdelaziz vem de médicos móveis e clínicas improvisadas em barracas.

"Muitos só tomam pílulas e ficam em silêncio sobre a dor", disse Bassel Maarawi, 57 anos, dentista que percorre sete campos na faixa de fronteira onde estão rebeldes apoiados pela Turquia.

A clínica móvel dentária fica em cada acampamento alguns meses de cada vez, tratando todos os dias dezenas de pacientes que não podem ir à cidade para procurar um médico.

Ela pertence à Associação de Médicos Independentes, um grupo sírio com sede na Turquia que também administra um acampamento gratuito que possui uma clínica para mulheres, crianças e medicina interna e uma farmácia.

O próprio Maarawi foi arrancado no final de 2016 de sua cidade de Aleppo, onde o exército esmagou os rebeldes com a ajuda da Rússia e do Irã depois de um cerco amargo.

As crianças que ele trata agora, vivendo na sujeira e bebendo água poluída, freqüentemente sofrem de desnutrição.

"Muitas pessoas foram deslocadas recentemente, o que realmente as afetou mentalmente, você pode ver quando elas entram", disse ele.

Uma nova onda de combates desencadeou mais um êxodo-- centenas de milhares de pessoas já fugiram de uma ofensiva do exército no noroeste da Síria desde abril.

Em um acampamento para cerca de 14 mil pessoas na aldeia fronteiriça de Shamarin, Ammar al-Omar dirige uma clínica de fisioterapia dentro de uma grande tenda.

A equipe - um médico e três voluntários que ele treinou - fez a maior parte do próprio equipamento, com apenas algumas poucas doações. Eles tratam de tudo, desde dor nas costas até ferimentos de batalha, incluindo entre os pacientes combatentes rebeldes e crianças.

"Há muitos feridos por causa do bombardeio feroz", disse Omar. "Os pacientes não podem comprar comida e muito menos transporte."

Um Mhamad, 29 anos, levou seu filho de outro acampamento nas proximidades e andou por mais de dois anos até chegar à clínica instalada em barracas. Uma lesão no nascimento aleijou o menino de seis anos, cuja família deixou Aleppo em 2016.

"Ele costumava não se mexer", ela disse. "Hoje, ele consegue engatinhar, virar dos dois lados e se levantar."

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