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Draghi defende multilateralismo na ONU e confirma G20 sobre Afeganistão

Em longo discurso, premiê abordou também crise climática, fome e Covid-19

23 set 2021 - 22h14
(atualizado às 22h23)
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Em um longo discurso na Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU), o primeiro-ministro da Itália, Mario Draghi, defendeu o multilateralismo, confirmou a realização do G20 extraordinário sobre a crise no Afeganistão, reafirmou o compromisso com a luta contra as mudanças climáticas e expressou preocupação com o risco de novas variantes do coronavírus Sars-CoV-2.

Em uma mensagem de vídeo, Draghi ressaltou a necessidade de "relançar o multilateralismo e torná-lo eficaz para enfrentar os desafios de nosso tempo".

"Há algum tempo assistimos a um progressivo enfraquecimento do multilateralismo, que desde o pós-guerra garantiu paz, segurança e prosperidade. No entanto, os últimos meses apresentaram problemas que não podemos resolver sozinhos", explicou o premiê italiano.

Draghi citou sua preocupação com o risco de novas e perigosas variantes do Sars-CoV-2, com as mudanças climáticas, além da recuperação econômica, a luta contra as desigualdades, a insegurança alimentar e o terrorismo.

Ele destacou que, "mais de um ano e meio após o início da pandemia, é possível "pensar no futuro com maior otimismo", principalmente por causa do avanço da campanha de vacinação, que "restaurou a confiança na capacidade de conquistar um novo normal".

O premiê italiano recordou que, na Itália e na Europa, a maior parte das atividades econômicas foi reaberta e os alunos voltaram às escolas e universidades. "Depois de meses de solidão, nossa vida social finalmente recomeçou. A pandemia, porém, ainda não acabou e, mesmo quando acabar, teremos que lidar com suas consequências por muito tempo", acrescentou.

Em seu pronunciamento, o líder italiano explicou que, globalmente, houve um enfrentamento de "diferenças dramáticas na disseminação das vacinas". Em países de alta renda, por exemplo, mais de 65% da população recebeu pelo menos uma dose, enquanto que nos países mais pobres, apenas 2%.

Para ele, essas disparidades são moralmente inaceitáveis, já que menos vacinações equivalem a mais mortes. Além disso, enquanto o vírus continuar a circular livremente, ele pode sofrer mutações perigosas e colocar em risco até mesmo as campanhas de vacinação mais eficazes.

Desta forma, o governo italiano defendeu o aumento da disponibilidade de vacinas para os países pobres e a resolução de problemas logísticos para que as doses cheguem onde são mais necessárias.

"Precisamos preservar a livre circulação de vacinas em todo o mundo e as matérias-primas para produzi-las", reforçou Draghi, confirmando que a Itália oferece total apoio político e financeiro ao mecanismo Covax.

De acordo com o político, a Itália pretende triplicar as doações de doses de vacinas de 15 milhões para 45 milhões até o final de 2021, como parte de um esforço europeu mais amplo, principalmente porque "as enormes diferenças nas campanhas de vacinação podem agravar as desigualdades entre os países".

"A pandemia teve um efeito social e econômico negativo para todos, mas as consequências para os estados de baixa renda foram particularmente graves", lembrou.

Draghi explicou que as economias avançadas gastaram 28% de seu Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 para estimular o crescimento - em comparação com apenas 7% e 2% nas economias emergentes e de baixa renda, respectivamente.

O primeiro-ministro da Itália enfatizou que a divergência econômica corre o risco de apagar anos de progresso na luta contra a pobreza e tornar ainda mais difícil alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável.

Ele contou que durante a presidência italiana, o G20 adotou um pacote de medidas econômicas para ajudar os países mais frágeis a superar os efeitos da pandemia e ajudá-los em seus processos de desenvolvimento.

Fome -

Sobre a fome, Draghi ressaltou que a Itália também criou ações específicas sobre segurança alimentar, como a "Coalizão Alimentar", em parceria com a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), para combater a desnutrição causada pela pandemia de Covid-19.

Além disso, lembrou que Roma sediou a reunião preparatória da Cúpula dos Sistemas Alimentares. No entanto, o italiano enfatizou a importância de serem lançadas iniciativas ainda mais ambiciosas para apoiar os países mais pobres, especialmente na África.

"A Itália pretende continuar a garantir seu apoio ao continente africano, que é cada vez mais importante para a segurança e o crescimento econômico mundial", confirmou.

Para Draghi, é preciso "aumentar os investimentos, também para permitir que as novas gerações africanas participem plenamente no desenvolvimento social, econômico e político".

Clima -

Durante seu discurso, Draghi voltou a reforçar o compromisso da Itália na luta contra as alterações climáticas e fez um apelo para a comunidade internacional ouvir os jovens, que trazem mudanças.

"Devemos agir agora para proteger o planeta, nossa economia e as gerações futuras. Nos últimos anos, muitas vezes, foram os jovens que trouxeram mudanças e nos impulsionaram a fazer mais. É nosso dever ouvi-los porque eles vão herdar o planeta", enfatizou.

Além disso, o premiê italiano lembrou que 400 jovens em todo o mundo se encontrarão em Milão, na próxima semana, para formular suas propostas de combate às mudanças climáticas.

Draghi ressaltou ainda que a Itália apoia fortemente o papel de liderança da União Europeia (UE) na transição ecológica, e em particular o seu compromisso com uma redução de 55% nas emissões de dióxido de carbono até 2030 e zerar as emissões líquidas até 2050.

"Entretanto, a UE agora é responsável por apenas 8% das emissões globais, enquanto os países do G20 são responsáveis por 75%", explicou.

O político italiano argumentou que "a luta contra as mudanças climáticas requer um compromisso multilateral e a cooperação pragmática de todos os principais atores globais - economias ricas e emergentes".

"Devemos atuar de forma incisiva coordenada e simultânea, mas com respeito às diferenças nacionais. Pretendemos chegar a um acordo global para acabar com o uso do carvão o quanto antes e, em linha com esse objetivo, bloquear o financiamento de novos projetos desse tipo", garantiu.

A eliminação dos incentivos aos combustíveis fósseis e a promoção da sua substituição por fontes renováveis também estão entre as medidas citadas como objetivo do governo italiano.

"A transição ambiental tem custos significativos e é fundamental que os governos se comprometam diretamente em ajudar os cidadãos e as empresas a apoiá-los. Mas também pode ser um motor de crescimento econômico", assegurou Draghi, fazendo referência ao recente relatório da Agência Internacional de Energia Renovável, segundo o qual mais de 40 milhões de pessoas poderiam ser empregadas até 2050.

Afeganistão -

Entre os principais temas abordados por Draghi também está a crise no Afeganistão. A Itália, que preside o G20 em 2021, insiste na importância de realizar uma cúpula extraordinária dos líderes sobre a situação no país asiático após a tomada de poder pelo grupo fundamentalista islâmico Talibã.

Segundo Draghi, a cúpula "se concentrará nas questões de ajuda humanitária, segurança e direitos humanos" e "deve dar o máximo apoio a esses objetivos".

O premiê formalizou a iniciativa da presidência italiana do G20, evocando o risco de terrorismo e de uma catástrofe social, tendo em vista que a "situação humanitária no Afeganistão é a preocupação mais imediata e compartilhada".

"Devemos também evitar que o país volte a ser uma ameaça à segurança internacional", alertou.

Draghi explicou ainda que a "composição do novo executivo afegão não responde às expectativas da comunidade internacional de um governo inclusivo e representativo dos diferentes componentes étnicos, sociais e religiosos do país".

"Os novos governantes devem demonstrar com suas escolhas, e não apenas em palavras, e acreditar no respeito às liberdades individuais", disse ele, advertindo que todos estão "testemunhando o desmantelamento do progresso dos últimos 20 anos no que diz respeito à defesa das liberdades fundamentais, especialmente das mulheres".

Draghi insistiu que todos que assinaram a Carta das Nações Unidas devem se comprometer com a resolução da crise afegã, além de permanecer unidos para exigir que os cidadãos afegãs sejam capazes de viver com "dignidade, paz e segurança".

"Que seja assegurada a proteção das categorias vulneráveis e que as mulheres mantenham os direitos fundamentais, em primeiro lugar o da educação", afirmou, sem citar a data da reunião.

Líbia -

Já em relação à situação na Líbia, o premiê reforçou que a Itália apoia o processo de transição no país para uma solução sustentável e inclusiva para a crise a nível multilateral, bilateral e dentro da União Europeia.

"O objetivo é completar o caminho traçado pelos próprios líbios para renovar o quadro institucional nacional, de forma unitária, sem interferências externas e sob a égide da ONU", explicou.

De acordo com Draghi, a "comunidade internacional deve trabalhar em conjunto com as instituições e pessoas da Líbia para superar o atual impasse" e deve "assegurar a condução das eleições marcadas para 24 de dezembro e a plena implementação do cessar-fogo".

Por fim, ele abordou a crise migratória, cuja gestão correta requer uma resposta comum, e ressaltou a necessidade de combater com eficácia o tráfico de pessoas, garantir mobilidade internacional regular e proteger a vida das pessoas.

"A ação multilateral, estruturada em torno dos princípios de divisão de encargos e responsabilidade, é essencial. A União Europeia e os seus Estados-Membros devem reforçar o diálogo sobre as questões migratórias com os países de origem e de trânsito dos migrantes, a fim de assumir uma responsabilidade conjunta na gestão dos fluxos", acrescentou Draghi.

Segundo ele, estes princípios inspiram a cooperação entre a União Europeia e os parceiros africanos. "A Itália pretende continuar a trabalhar com o compromisso de promover os ideais universais de paz, desenvolvimento, proteção e promoção dos direitos humanos", concluiu.

Ansa - Brasil   
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