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Oriente Médio

"Resolução da ONU para Síria é grande avanço", avalia especialista

29 set 2013 - 15h58
(atualizado em 16/6/2018 às 12h04)
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Por unanimidade, os 15 países-membros do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovaram uma resolução exigindo o fim das armas químicas na Síria. O secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, e políticos como o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, elogiaram a decisão do grêmio. Neste domingo, o presidente sírio, Bashar al Assad, declarou ao canal italiano de TV Rai News 24 que respeitará a resolução das Nações Unidas.

O cientista político Jochen Hippler conversou com a DW sobre os detalhes e as implicações deste novo passo nas relações internacionais com a Síria. Ele pesquisa questões relativas à paz na Universidade de Duisburg-Essen, com foco regional no Oriente Médio.

Questionado sobre a eficácia da resolução relativa à guerra civil na Síria, Hippler falou que a considera "um grande êxito". "Mas já é de se contar que haverá atrasos no projeto de destruir as armas químicas até meados do próximo ano. E aí a questão é se os Estados Unidos, a Rússia e o Conselho de Segurança da ONU vão chegar novamente a um consenso e tirar as conclusões certas. No tocante às armas químicas, portanto, é uma missão correta, muito importante", avaliou.

Sobre a possível intervenção militar, reação automática caso o governo de al Assad não cumpra o acordo, o pesquisador alemão compara a situação à da Rússia com a Líbia. "Na época, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução permitindo a proteção da população civil, mas a Otan foi muito mais longe prorrogando a medida até a queda do regime. Por isso, estava claro que a Rússia não ia voltar a passar um cheque em branco desses: no caso de o regime sírio não cumprir a resolução, o Conselho de Segurança terá que deliberar novamente", acredita.

"No entanto, considero esta uma evolução positiva, de maneira geral, pois no passado havia a tendência de o Conselho passar cheques em branco baratos a uma coalizão qualquer, o que levou a uma perda de influência pela ONU. Na época, eu sempre tinha a impressão de que o Conselho de Segurança da ONU sempre sabotava sua própria função. Neste ponto, acho essa formulação até bastante razoável", completa.

Hippler entende que existe, sim, risco de Assad usar o acordo para postergar uma tomada de atitude, mas que se isso se provar, "então realmente é o caso de a Rússia, os Estados Unidos e o Conselho de Segurança irem adiante e agirem com base no Capítulo 7 da Carta das Nações Unidas: a ameaça de emprego de medidas coercivas". "Mas é melhor iniciar o processo agora e manter em vista o segundo passo, do que não chegar a nenhum consenso e viver com a possibilidade de que as armas químicas continuarão 'vagueando' pela Síria", pondera.

A reserva da Rússia de vetar uma ofensiva militar, para o pesquisador, ainda não é relevante, uma vez que até entrão o governo sírio aceitou a resolução de "modo humilhante". "Quero lembrar que, algum tempo atrás, o ministro sírio das Relações Exteriores (Walid Muallem) voou para Moscou, para conversar sobre a crise com o ministro do Exterior russo (Serguei Lavrov). Então (Muallem) foi simplesmente enviado de volta para o hotel, sem informações sobre o estado das conversações entre Washington e Moscou. No dia seguinte, ele foi convocado de novo - e informado, sem ser integrado na decisão. E aí, totalmente tresnoitado, foi colocado diante da imprensa internacional, com a permissão de dizer 'sim', sem saber de fato o que as grandes potências haviam decidido", descreve.

"É preciso dizer que também Moscou deixou claro de forma bastante brutal ao aliado sírio quem, no momento, tem algo a dizer nessa questão e quem não tem. Se agora Assad tentar ganhar tempo, será preciso mais uma vez conversar seriamente com a Rússia sobre apertar um pouco mais os parafusos", prevê.

Pelo contexto, Hippler não vê melhora, no entanto, nas perspectivas de paz no país áreabe. "Não vejo a menor relação entre uma coisa e a outra. As possibilidades de um processo político de paz na Síria foram caindo continuamente nos últimos dois anos e meio. O motivo para tal é que a oposição e a resistência armada não conseguiram estabelecer uma posição comum. Atualmente, temos centenas de grupos operando autonomamente, alguns dos quais também perseguem metas extremistas ou terroristas e têm laços com a Al Qaeda. Outros, por sua vez, querem saquear e ficar ricos. Ou seja, é difícil dar fim a uma guerra civil contra dois partidos definidos, mas se sabe com quem se deve falar."

A fragmentação no lado dos opositores de Assad, para o pesquisador, é que inviabiliza a negociação. "Acrescente-se o fato que a internacionalização do conflito cresceu dramaticamente, por exemplo, através das milícias libanesas do Hisbolá. Com isso, as possibilidades de negociação foram minguando progressivamente, à medida que o número de protagonistas violentos aumentou exponencialmente", acrescenta.

Guerra na Síria para iniciantes
AFP
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