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Distúrbios no Mundo Árabe

Entre fuzis e trincheiras, sírios tentam derrubar regime de Assad

Mais de 70 mil mortos, 1 milhão de refugiados e 23 jornalistas assassinados: são os dados alarmantes produzidos pelos dois anos de conflito na Síria

11 mar 2013 - 18h07
(atualizado às 18h08)
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<p>Um rebelde em um raro momento de descanso em uma frente de batalha em Aleppo</p>
Um rebelde em um raro momento de descanso em uma frente de batalha em Aleppo
Foto: Mauricio Morales / Terra

Enquanto as potências mundiais e a ONU, cautelosas – quem sabe calculando qual será o novo cenário da geografia política da região – esperam que o final do conflito chegue como um milagre, a aviação e a artilharia das forças do presidente Bashar al-Assad atacam diariamente diferentes distritos da cidade de Aleppo, a segunda maior da Síria. As crianças pulam de suas camas, enquanto seus pais olham o céu tentando calcular a rota das bombas que começam a cair sobre eles.

Em diferentes distritos e bairros, a guerra de trincheiras é travada metro a metro entre os rebeldes e as forças leais ao governo pelo domínio do território da destruída cidade de Aleppo. O país árabe completa dois anos em uma guerra cujo fim não parece estar próximo.

Existem muitas frentes de combate na cidade. A cerca de 100 metros de um edifício controlado pelo Exército Sírio da Libertação (ESL), outro prédio está sob o controle das forças de Assad. É uma cena habitual em vários bairros de Aleppo.

A média de idade dos combatentes ligados ao ESL não passa de 25 anos. Muitos são provenientes de localidades próximas a Aleppo. Eles repetem o que disseram seus pais: vão fazer sua parte, servir à libertação e construção da nova Síria. Com seus “irmãos” juraram lutar e vingar seus amigos mortos, até o final, até o único final que querem: a queda do governo. 

Antigos campos de futebol, escolas e prédios residenciais são as novas trincheiras. Os ônibus destruídos atravessados nas ruas, assim como montes de escombros, são usados para evitar as balas dos franco-atiradores em posição para disparar desde muitas das construções abandonadas. Entre os escombros aparecem frequentemente bonecas e fotos de família. Esses objetos revelam que alguém viveu ali, em um lar que já não existe.

A guerra na Síria tem um diferencial em comparação com as recentes revoluções da chamada Primavera Árabe: essas foram lutas onde as bombas dos jatos da OTAN, os tanques e os grupos militares especiais das potências mundiais foram determinantes na conquista da vitória.

Na Síria, as armas são roubadas dos inimigos mortos. São fuzis de assalto, granadas e bombas artesanais. A guerra já durou mais do que se esperava, mais do que é possível aguentar, até o ponto que alguns homens dizem que preferem matar suas famílias e acabar com a própria vida do que seguir vivendo o inferno da guerra ou sob o mesmo regime. Muitos temem que a guerra continue durante todo este ano.

Os cartuchos jogados no chão e os buracos dos tiros de fuzil “enfeitam” cada prédio. Os livros agora servem para tapar as janelas, para bloquear as balas dos franco-atiradores. Apenas um passo na direção errada pode colocar qualquer um na mira, por isso há espelhos em todos os edifícios guardados pelos combatentes. Através deles, é possível identificar as bandeiras vermelha, da Síria atual, e a verde, usada atualmente pelos rebeldes e que existia antes da dinastia de Assad.

Depois de longos períodos de combate, há breves espaços de descanso – necessários para que os homens se mantenham em condições de seguir lutando. Os que estavam em guarda saem do edifício que ocupam, enquanto outro grupo entra para substituí-los. Entre algumas risadas, chá e cigarros, eles têm tempo para estender o tapete em direção à Meca e rezar.

Muitos dos combatentes eram estudantes: crianças que a guerra transformou em homens. Homens que a guerra transformou em velhos. Quando um deles morre, seus companheiros juram vingança, levam seu corpo até a família e entregam dinheiro. Caiu mais um herói da revolução, segundo pensam.

Os combatentes sabem que o mundo observa impávido o que acontece na Síria. No entanto, não culpam as pessoas comuns, mas sim alguns governos. Dizem que estão sozinhos nessa guerra, mas não a abandonarão. Vencer ou morrer parece ser o lema não só dos que estão na frente de batalha, mas também da maioria dos civis que resistem em deixar Aleppo, mesmo sabendo das consequências. São cada vez mais frequentes os bombardeios a hospitais, lojas e associações. Nessa guerra, a maioria dos mortos é civil.

Mais um dia nas trincheiras das frentes de batalha não define o destino da guerra. Apenas se trata de um prédio a mais ou a menos, mas esse é o objetivo pelo qual se luta neste momento: por cada centímetros de território, corpo a corpo, morto a morto.

As imagens da Primeira Guerra Mundial e da carnificina nas quais se transformaram as trincheiras nos campos da França não são difíceis de associar ao que acontece na Síria. Nas ruas, muitos sabem que o pior ainda está por vir, já que o momento mais duro costuma ser o final da guerra.

Fonte: Terra
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