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Dado desanimador de medicamento contra Covid destaca importância de ensaios grandes e randomizados

16 out 2020 - 19h33
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Quando se trata de ensaio clínico de qualquer medicamento, o tamanho importa, dando potencialmente uma vantagem ao veredicto desanimador da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o remdesivir, da Gilead Sciences, no tratamento contra a Covid-19, em relação ao estudo mais positivo divulgado pela empresa, segundo cientistas proeminentes.

Ampola de remdesivir 
08/04/2020
Ulrich Perrey/Pool via REUTERS
Ampola de remdesivir 08/04/2020 Ulrich Perrey/Pool via REUTERS
Foto: Reuters

O medicamento da Gilead --um antiviral originalmente desenvolvido para tratar o Ebola-- não mostrou nenhum benefício nas taxas de sobrevivência, de acordo com os resultados do maior ensaio clínico randomizado do mundo com potenciais drogas para combater a Covid-19, conduzido pela OMS.

Um fator marcante dos resultados foi a aparente diferença com o estudo da própria empresa, publicado na íntegra na semana passada, que mostrou que o tratamento reduziu o tempo de recuperação em cinco dias em comparação com os pacientes que receberam um placebo.

Em sua resposta sobre os dados, a farmacêutica norte-americana questionou a precisão do estudo da OMS, estimulando um debate sobre o que torna um estudo mais preciso.

"Isso fornece mais evidências de que o remdesivir não é uma panaceia", disse Peter Galle, professor do hospital Universitário de Mainz, na Alemanha.

Embora os resultados da OMS pareçam diferir das conclusões do estudo da Gilead publicado no New England Journal of Medicine na semana passada, os especialistas disseram que as conclusões não são inconsistentes.

O ensaio da OMS em vários países é, no entanto, maior e melhor, segundo eles, e portanto mais capaz de fornecer resultados confiáveis.

No estudo Solidariedade, da OMS, quatro potenciais tratamentos diferentes de Covid-19 foram estudados em mais de 11.000 pacientes em 405 hospitais de 30 países.

A Gilead informou que outros estudos com remdesivir, incluindo o lançado na semana passada com 1.062 pacientes que o compararam com um placebo, mostraram que o tratamento reduziu o tempo de recuperação da Covid-19.

Ainda assim, disseram os especialistas, os dados do Solidariedade acrescentam um acompanhamento de longo prazo e o peso da evidência para determinar se e em quais circunstâncias o remdesivir pode ajudar os pacientes com Covid-19.

"É um belo ensaio. É grande, em populações relevantes, é randomizado e é focado no resultado que importa, a mortalidade", disse Martin Landray, professor de Medicina e Epidemiologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido. "E os resultados são bastante claros: não há impacto do remdesivir na sobrevida geral", afirmou ele à Reuters.

Andrew Hill, especialista em farmacologia da Universidade de Liverpool, observou que originalmente apenas dados de curto prazo foram relatados no estudo da Gilead.

"Mas quando os resultados do acompanhamento de longo prazo foram adicionados, as taxas de mortalidade começaram a aumentar para o remdesivir", disse ele.

Os dados do Solidariedade também mostraram que três outros medicamentos testados em pacientes com Covid-19 --hidroxicloroquina, lopinavir/ritonavir e interferon-- também ofereceram pouco ou nenhum benefício.

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