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Condenado por crimes contra a humanidade, ex-líder croata 'toma veneno' em tribunal de Haia

Slobodan Praljak foi sentenciado a 20 anos de prisão por seu envolvimento na perseguição e morte de muçulmanos durante a Guerra da Bósnia.

29 nov 2017 - 12h11
(atualizado às 17h54)
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Praljak disse ter ingerido veneno após ter sua pena confirmada pelo juiz | Foto: AFP/ICTY
Praljak disse ter ingerido veneno após ter sua pena confirmada pelo juiz | Foto: AFP/ICTY
Foto: BBC News Brasil

Um ex-general croata morreu após beber veneno em seu julgamento por crimes contra a humanidade no tribunal de Haia, na Holanda, nesta quarta-feira.

Slobodan Praljak, de 72 anos, era um dos seis ex-líderes do país levados à corte por atos cometidos durante a Guerra da Bósnia (1992-1995). Ele havia sido sentenciado a 20 anos de prisão em 2013 e recorria da decisão.

Ao escutar que sua pena havia sido mantida, Praljak se levantou, disse não ser um criminoso de guerra e levou um pequeno frasco de vidro à boca e bebeu o líquido. Em seguida, disse ao juiz Carmel Agius, que presidia a sessão: "Tomei veneno".

Horas depois, a morte de Praljak foi confirmada pelo tribunal por meio de um comunicado.

'Tomei veneno': o momento dramático que suspendeu julgamento histórico no Tribunal de Haia:

Genocídio e limpeza étnica

Após o incidente, equipes de emergência foram chamados, e a sessão foi suspensa
Após o incidente, equipes de emergência foram chamados, e a sessão foi suspensa
Foto: AFP / BBC News Brasil

Após ele ingerir o veneno, o julgamento foi imediatamente suspenso, e uma ambulância foi chamada. "Ok", disse o juiz. "Suspendemos... suspendemos... Por favor, as cortinas. Não levem embora o vidro que ele usou."

Antes das cortinas serem acionadas, foi possível notar o estado de confusão em que ficou o tribunal, diz a repórter Anna Holligan, da BBC. Praljak foi sido levado ao hospital, mas não resistiu. As autoridades holandesas dizem que investigarão o ocorrido.

Na semana passada, Ratko Mladic, comandante do Exército sérvio durante a guerra, foi condenado à prisão perpétua por genocídio, crimes contra a humanidade e por ter promovido uma "limpeza étnica" na região durante o conflito.

A disputa teve início em fevereiro de 1992, quando muçulmanos e croatas da Bósnia votaram pela independência em relação à Iugoslávia. O referendo foi boicotado pelos sérvios. Um mês depois, a União Europeia reconheceu a independência da Bósnia.

Os sérvios deram, então, início à guerra. O Exército de 180 mil homens comandado por Madlic cercou a cidade de Sarajevo e ocupou 70% do país. Com o intuito de estabelecer uma República Sérvia, perseguiram e mataram croatas e muçulmanos.

Aliados contra os sérvios, croatas e muçulmanos travaram ainda uma guerra civil entre si em 1993-94, na qual a cidade de Mostar, no sul da Bósnia, foi o epicentro.

Último caso

Tribunal Penal Internacional da Guerra da Bósnia foi instaurado em 1993 para julgar atrocidades cometidas no conflito
Tribunal Penal Internacional da Guerra da Bósnia foi instaurado em 1993 para julgar atrocidades cometidas no conflito
Foto: BBC News Brasil

O Tribunal Penal Internacional da Guerra da Bósnia foi instaurado em 1993, quando o conflito ainda estava em curso, para julgar atrocidades cometidas durante esse período. Os julgamentos se concentraram em grande parte no papel da Sérvia no conflito, mas mostraram que a Croácia também promoveu uma limpeza étnica para assumir o controle de territórios bósnios.

Ao longo de 24 anos, foram indiciados 161 suspeitos, dos quais 90 foram condenados. A sessão desta quarta-feira faz parte do último caso a ser julgado antes da corte especial ser encerrada no próximo mês.

O juiz proferia as setenças dos recursos, que foram impetrados tanto pelos seis acusados quanto pela promotoria, e já havia confirmado a pena de três deles, inclusive a de Praljak, quando tudo ocorreu.

Pralijak foi considerado culpado por ter sido informado de que fiéis muçulmanos estavam sendo detidos por soldados e levados para a cidade de Prozor no verão de 1993 e por não ter feito nada para impedir isso.

Também não agiu ao saber que havia planos de matá-los, assim como por saber de ataques a membros de organizações internacionais e a locais no leste de Mostar, como mesquitas.

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