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Como Berlusconi saiu do ostracismo a favorito nas eleições

Mesmo inelegível, ex-premier foi principal figura da campanha

2 mar 2018 - 22h47
(atualizado em 3/3/2018 às 12h37)
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Aos 81 anos, condenado por fraude fiscal, acusado de corromper testemunhas e inelegível até 2019, o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi está de volta ao centro da política italiana. E mais: após as eleições de 4 de março, pode se tornar o fiador de um novo governo conservador no país.

Se aproveitando das divisões no Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, e do isolacionismo do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), o ex-Cavaliere é o principal pilar da coalizão que lidera as pesquisas para o pleito legislativo do próximo domingo, que também inclui a Liga Norte e o Irmãos da Itália (FDI), ambos de extrema direita.

Silvio Berlusconi lidera coalizão favorita para vencer na Itália
Silvio Berlusconi lidera coalizão favorita para vencer na Itália
Foto: ANSA / Ansa - Brasil

Há pouco mais de um ano, quando completou oito décadas de vida, após passar por uma delicada cirurgia no coração, Berlusconi parecia condenado ao ostracismo, mas muita coisa mudou. De lá para cá, o então popular primeiro-ministro Matteo Renzi renunciou; o PD, maior legenda do país, se dividiu; a direita, de moderados a ultranacionalistas, se uniu.

Foi o próprio Renzi, em setembro de 2016, quem alertou: "Berlusconi não é um homem do passado, eu esperaria para defini-lo assim, ele tem mais vidas que um gato". De fato, Berlusconi renasceu. Em 5 de novembro passado, seu candidato Nello Musumeci foi eleito governador da Sicília e tirou das mãos do PD a quarta região mais populosa da Itália.

O resultado foi um indício do que estaria por vir e serviu de embrião para a coalizão conservadora, que une partidos que passaram os últimos anos brigando e reatando, mas sem nunca fechar um acordo em torno de um projeto em comum.

O Força Itália (FI), partido de Berlusconi, é apenas o terceiro nas pesquisas, com uma desvantagem considerável para PD e M5S, mas, junto com Liga e FDI, o ex-premier é alavancado para uma confortável primeira posição, ainda que os números não indiquem que a aliança terá maioria no Parlamento.

Vácuo político

Em uma primeira análise, é possível explicar o renascimento de Berlusconi pela rara união entre os partidos de direita. Sozinho, o FI não poderia sonhar com o governo hoje, embora já tenha sido a legenda mais popular da Itália.

Já com o apoio da extrema direita, que ganhou espaço no país com um forte discurso anti-imigração, em meio à emergência humanitária no Mar Mediterrâneo, o cenário muda. Mas há outras explicações para o ressurgimento do "Cavaliere".

O primeiro deles é a fragmentação do PD, e é aí que entra Matteo Renzi. Após ter perdido o referendo constitucional de dezembro de 2016, o então primeiro-ministro renunciou e cedeu o governo a Paolo Gentiloni, mas desde então as coisas não andaram como ele planejava.

Seu projeto era antecipar as eleições, ir às urnas o mais brevemente possível e capitalizar os 40% de apoio que recebera no referendo para voltar ao governo, só que nada disso aconteceu. Contestado pela minoria do PD, abdicou da liderança do partido e teve de disputar uma votação interna para retomar seu comando.

Renzi acabou ganhando por ampla maioria, mas o processo abriu fraturas dentro da maior - e mais heterogênea - legenda política da Itália. Insatisfeitos com o estilo polarizador do ex-premier, integrantes da velha guarda do PD abandonaram o partido e fundaram uma profusão de siglas que se uniram na coalizão Livres e Iguais, que hoje gira entre 6% e 8% das intenções de voto.

Outra explicação é a consolidação do Movimento 5 Estrelas, que parece ter atingido um teto de 25% a 30% do eleitorado, índice suficiente para transformá-lo no mais popular do país, mas relativamente baixo para quem tem pretensões de governar sem alianças.

Independentemente do resultado de domingo, Berlusconi conseguiu se transformar no principal personagem das eleições, embora muitos o dessem como acabado, mas só uma vitória pode consolidar seu renascimento.

Se sua coalizão ganhar, terá de mostrar uma resiliência às picuinhas do dia a dia de um "casamento" que não teve no passado. Em 2016, um comentário machista de Berlusconi ("uma mamãe não pode se dedicar a um trabalho tão terrível") fez Giorgia Meloni, líder do FDI e, na época, grávida, abandonar o candidato do Força Itália e se lançar na disputa pela Prefeitura de Roma. A divisão beneficiou Virginia Raggi, do M5S, que acabou eleita.

Outra incerteza diz respeito ao papel de Berlusconi em um eventual governo. Ele não pode ocupar cargos públicos até 2019 e indicou Antonio Tajani, chefe do Parlamento Europeu, para o posto de primeiro-ministro. Fala-se em elegê-lo presidente da República em 2022, quando termina o mandato de Sergio Mattarella, mas até lá muita coisa pode ocorrer. E, no ano que vem, ele estará livre para sonhar com o cargo que já ocupou por quase uma década.

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