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Cenário: quando nada é certo, tudo é possível, diz autoridade britânica sobre desfecho do Brexit

Enquanto não se sabe exatamente o que está para acontecer, o Reino Unido tem se empenhado na aproximação de potenciais parceiros comerciais

30 jan 2019 - 09h55
(atualizado às 11h55)
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LONDRES - Quando nada é certo, tudo é possível. A frase original é da escritora inglesa Margaret Drabble, publicada no romance The Middle Ground, de 1980. Não poderia ser mais apropriada, no entanto, para a atual situação política do Reino Unido, que vive um longo, complexo e incerto processo de separação da União Europeia (UE), conhecido como Brexit. Não por acaso uma autoridade do governo britânico pinçou a frase numa pequena roda de interlocutores interessados sobre sua opinião a respeito do divórcio durante um evento social a poucos metros do Palácio de Buckingham. A escolha retrata bem a "novela" bem mais arrastada do que as histórias de sua conterrânea e que está a apenas dois meses da data oficial da retirada, o "The End".

Ao avaliar que tudo é possível, essa autoridade não se comprometeu com o que espera sobre o futuro do país e nem apontou para possíveis culpados pelo caos previsto por economistas para o país. O Reino Unido, já em processo de desaceleração econômica como o restante da Europa - e do globo -, deve perder o posto da quinta maior economia do mundo neste ano. A projeção é do Fundo Monetário Internacional (FMI), que prevê uma ultrapassagem pela Índia - deixando a França também para trás.

Não bastasse a nova configuração mundial, com dois dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) despontando economicamente sobre o globo, o Reino Unido pode padecer de seus próprios males. Centro financeiro da Europa, Londres viu vários bancos e instituições mudarem parte de seus escritórios para capitais vizinhas, como Paris, Dublin e Frankfurt, por exemplo. Outros ainda podem aderir à mudança e os que já foram, ampliar as transferências se o cenário de um Brexit sem acordo com o bloco comum acabar sendo o desfecho dessa jornada iniciada em junho de 2016, quando a população votou em um plebiscito a favor do divórcio.

Também por causa de uma separação mais drástica estar entre os fins possíveis, a polícia local alertou grandes varejistas para contratarem seguranças particulares. A preocupação é que haja um assalto às lojas pelos consumidores temerosos de não terem como abastecer suas casas com mantimentos - 30% dos alimentos dos britânicos vem de fora do país. O Exército também já deixou reservistas em alerta caso esse cenário se configure como efetivo. A força extra ficaria à disposição de pontos estratégicos do país, como, por exemplo, nas margens do Canal da Mancha.

O cenário de não acordo já não era o mais aguardado do momento. Hoje mesmo, antes da votação desta noite, o banco suíço Julius Baer reduziu para 20% a chance de uma ruptura mais drástica entre as partes. Se o Reino Unido não deseja uma separação tão brusca, o restante dos europeus tampouco. A votação desta noite, segundo especialistas, faz apenas que se ganhe mais tempo para os "assuntos políticos", mas deixa claro que os deputados não desejam essa separação mais brusca, ao aprovarem uma emenda contrária ao divórcio sem um consenso.

A primeira-ministra, Theresa May, quis ganhar musculatura para tentar uma última cartada em Bruxelas, nas já tensas negociações. Ontem à noite ela conseguiu, os europeus dizem que não cedem mais. A corda está esticando e, como ninguém quer ser derrubado, ainda há chance de a premiê britânica conseguir algumas migalhas para agradar seu Parlamento. Os deputados por sua vez também podem pedir uma extensão do prazo do Brexit, marcado para 29 de março, ou ainda uma extensão do prazo de transição de dois para três anos.

May, que tem mostrado uma resistência impressionante à frente de Downing Street - superando dois votos de confiança em menos de dois meses -, pode conseguir ainda levar a uma separação suave entre as partes, a mais desejada opção entre empresários, investidores e cidadãos dos dois lados. Ironicamente, a primeira-ministra votou contra a separação, mas tem levado a cabo a decisão das urnas, alegando que a democracia está em jogo no país.

Por fim, pode até acontecer de o Brexit nunca ser colocado em prática. Isso pode se dar por meio de uma nova consulta pública, já que pesquisas apontam que a população, assustada com as consequências econômicas que o divórcio pode trazer e alegando não ter tido conhecimento dos reflexos durante o primeiro plebiscito, tem mostrado mudança de posição. "Se um acordo é impossível, e ninguém quer um não acordo, então quem finalmente terá a coragem de dizer qual é a única solução positiva?", questionou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, em sua conta na rede social Twitter.

Ou seja, todos os cenários seguem em aberto, uns com mais e outros com menos chances neste momento. Enquanto não se sabe exatamente o que está para acontecer, o Reino Unido tem se empenhado na aproximação de potenciais parceiros comerciais como um dos pilares de sustentação da sua atividade se tiver de trilhar sozinho um novo caminho agora. Esta é a única certeza do momento. E a aposta da Grã-Bretanha é quando se tem uma coisa certa, nada é impossível.

Estadão
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