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Cenário indefinido pode manter Merkel no poder até fim do ano

Sociais-democratas lideram disputa com conservadores e verdes

21 set 2021 - 14h11
(atualizado às 14h20)
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Com um cenário eleitoral indefinido, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, pode continuar no poder até o fim do ano, mesmo que as eleições legislativas estejam marcadas para 26 de setembro.

No poder desde 2005, Merkel deve ficar mais alguns meses no cargo
No poder desde 2005, Merkel deve ficar mais alguns meses no cargo
Foto: EPA / Ansa - Brasil

No poder desde 2005, a líder não vai disputar o pleito e deixará o cargo após a formação de um novo governo, mas esse processo pode levar alguns meses.

As pesquisas de opinião mostram que o Partido Social-Democrata (SPD), com o ministro das Finanças e vice-chanceler, Olaf Scholz, tem entre 24% e 26% das intenções de voto.

Já a sigla de Merkel, a União Democrata-Cristã (CDU), encabeçada por Armin Laschet, está em segundo lugar, com 20% a 22%. Os Verdes, com Annalena Baerbock, têm de 15% a 17%. Isso indica que, mais uma vez, ninguém terá maioria absoluta no Parlamento, e as alianças serão fundamentais para formar um governo.

"Eu posso estar errado, mas me parece que a formação de um novo governo na Alemanha pode demorar. É bem possível que Merkel fique como chanceler até o final do ano, novembro, dezembro, e aí tem Natal, Ano Novo. As coisas vão ficar mais previsíveis a partir do ano que vem, tem muitas incertezas", diz o professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (IRI-USP) Kai Enno Lehmann, em entrevista à ANSA.

Merkel já se uniu ao SPD em maior ou menor grau para ter governabilidade. Mas, se nos últimos anos os sociais-democratas perderam fôlego nas disputas nacionais ou regionais, o cenário mudou em 2021 - muito por conta do desgaste dos 16 anos consecutivos de poder da chanceler.

"Eu não acredito que ela faça o sucessor porque ela tem o desgaste natural de estar há tanto tempo no poder. A tendência é você ter uma alternância que funcione", pontua o coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília, Márcio Coimbra.

O cientista político ainda compara a situação de Merkel com outra líder conservadora: Margaret Thatcher, a britânica que ficou no poder entre 1979 e 1990.

"É algo paralelo ao que a Margaret Thatcher fez no Reino Unido, que é a mudança do Partido Trabalhista. A gente viu isso na chegada ao poder de Tony Blair: eles mudaram a postura dos trabalhistas, se adaptando às novas teses trazidas por Thatcher", ressalta.

Legado de Merkel 

Apesar do cenário incerto para os próximos meses, os analistas apontam que um dos principais legados de Merkel é a estabilidade proporcionada por seu governo.

"Em termos domésticos, o grande legado é a competência, a previsibilidade. Ela não era como Helmut Kohl [chanceler entre 1982 e 1998] antes da reunificação, ela não era uma grande reformista. O legado dela em termos práticos é o de gerenciadora de crises. Ela sabe fazer isso, embora, em relação aos refugiados, por exemplo, tenha recebido muitas críticas, mas ela foi lá e fez", ressalta Lehmann.

Já Coimbra diz que, mesmo com todas as crises, "a estabilidade sempre foi a principal característica do governo dela" e que Merkel conseguiu "reorientar a política alemã para a centro-direita".

"Essa é a centro-direita que nos falta no Brasil, que é uma direita responsável, pró-livre mercado, que respeita minorias, que tem políticas inclusivas. Quando ela faz esse deslocamento, ela enfraquece uma direita tosca, essa direita mais radical, que se instalou no Brasil recentemente", acrescenta.

Já o professor da Escola de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Pedro Brites divide o legado de Merkel em dois eixos.

"Do legado doméstico, a gente tem uma série de conquistas, como a transformação da matriz energética alemã, mais renovável; a introdução de um salário mínimo nacional; benefícios para os pais cuidarem mais das crianças, o que gera uma paridade de gênero; a questão do casamento das pessoas do mesmo sexo. Ou seja, uma série de transformações do ponto de vista doméstico e social", destaca.

No campo internacional, "o que há de mais relevante é que ela atravessou" muitas turbulências em um período de "crises sucessivas no mundo, mas também do ponto de vista europeu".

"Essa capacidade de dar um elemento de estabilidade à Europa é uma característica muito clara da Angela Merkel." .

Ansa - Brasil   
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