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Caso de tráfico de menores domina política italiana

M5S tenta colar escândalo no Partido Democrático, de oposição

23 jul 2019 - 14h51
(atualizado às 15h39)
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Um caso de falsificação de documentos para tirar crianças de seus pais e entregá-las a outros casais dominou a política da Itália nas últimas semanas e virou arma do governo contra a oposição.

Luigi Di Maio tenta colocar escândalo no PD
Luigi Di Maio tenta colocar escândalo no PD
Foto: ANSA / Ansa - Brasil

No centro da polêmica está Bibbiano, município de apenas 10 mil habitantes situado na região da Emília-Romana, norte do país, e alvo de um escândalo deflagrado por uma operação policial chamada "Anjos e Demônios", que levou à prisão domiciliar de seis pessoas por tráfico de menores.

Segundo a investigação, funcionários públicos da Prefeitura, assistentes sociais e psicólogos montaram um esquema criminoso para tirar crianças de famílias em dificuldades e repassá-las, mediante pagamento, a casais amigos ou conhecidos.

Os suspeitos são acusados de crimes como fraude processual, maus-tratos de menores, falsificação de documentos públicos, violência privada, tentativa de extorsão, abuso de poder, peculato e lesões.

Os menores de idade prejudicados pelo suposto esquema teriam tido inclusive depoimentos manipulados por assistentes sociais e psicólogos, com o objetivo de inventar relatos de abusos e violência familiar.

Após supostas denúncias contra os pais, as crianças eram levadas a um abrigo público gerido por uma ONG chamada "Hansel e Gretel", especializada em abusos contra menores de idade, e onde elas eram submetidas a sessões de psicoterapia. De lá, seriam repassadas para outras famílias.

O caso também envolve algumas cidades vizinhas, como Montecchio Emilia e Cavriago, ambas com cerca de 10 mil habitantes.

Governo x oposição

O escândalo, no entanto, ganhou destaque nacional graças a uma campanha do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), do vice-premier Luigi Di Maio, para colar as denúncias no centro-esquerdista Partido Democrático (PD), principal legenda de oposição.

Di Maio chegou a definir o PD como "o partido de Bibbiano", uma vez que o prefeito da cidade, Andrea Carletti, pertence à sigla. Carletti é investigado por abuso de poder, ao supostamente ter deixado de denunciar um superfaturamento no contrato da Prefeitura com a Hansel e Gretel. O prefeito, no entanto, não está envolvido em crimes contra crianças.

Por outro lado, jornais italianos revelaram que conselheiros regionais do M5S no Piemonte fizeram, em 2014, uma doação de 200 mil euros para algumas ONGs, inclusive a Hansel e Gretel, que tem sede em Turim.

"Até 1º de agosto, será aprovada uma proposta da Liga para criar uma comissão de inquérito sobre os abrigos", anunciou nesta terça-feira (23) o ministro do Interior e vice-premier Matteo Salvini, líder do partido ultranacionalista. "Iremos até o fim, não apenas sobre as 10 mil crianças tiradas de suas famílias na Emília-Romana, mas em toda a Itália", acrescentou.

Di Maio, no entanto, manteve a estratégia de atacar o Partido Democrático. "É verdadeiramente vergonhoso o silêncio do PD. Esse silêncio sobre o caso Bibbiano me dá nojo", declarou. A legenda de centro-esquerda desbancou o M5S nas últimas eleições europeias e hoje aparece em segundo lugar nas pesquisas, atrás da Liga, que lidera com folga.

Além disso, alguns membros do PD vieram a público para cogitar uma aliança com o movimento antissistema caso Salvini derrube o governo, de forma a evitar novas eleições, mas a ideia foi rechaçada pelas lideranças dos dois lados.

Ansa - Brasil   
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