Cardeal admite que Igreja destruiu arquivos sobre abusos
O alemão Reinhard Marx cobrou mais transparência no clero
O cardeal alemão Reinhard Marx, coordenador do Conselho de Economia do Vaticano, admitiu neste sábado (23), durante a reunião episcopal convocada pelo papa Francisco para discutir o combate à pedofilia, que a Igreja Católica destruiu arquivos sobre abusos no clero.
Marx, também arcebispo de Munique e presidente da Conferência Episcopal da Alemanha, discursou para os prelados reunidos no Vaticano e defendeu mudanças no código de segredo que sempre vigorou no clero e o aumento da transparência.
"Os arquivos que poderiam ter documentado esses atos terríveis e indicado os nomes dos responsáveis foram destruídos ou nem chegaram a ser criados", disse o cardeal, um dos aliados mais próximos de Francisco. De acordo com ele, a Igreja também agiu para silenciar vítimas, o que contribuiu para aumentar a crise e afastar fiéis.
Em seu pronunciamento, Marx citou medidas que devem ser implantadas "imediatamente", como uma definição mais clara dos fins e dos limites do segredo pontifício e o estabelecimento de regras transparentes para processos eclesiásticos.
Além disso, pediu a "comunicação ao público do número de casos e dos relativos detalhes sempre que possível" e a "divulgação de atos judiciários". "Não existem alternativas à transparência", declarou. Segundo Marx, a Igreja deve inclusive contar com "especialistas externos" para aumentar a transparência.
Freira
O cardeal alemão falou na sequência da freira nigeriana Veronica Openibo, superiora-geral da Sociedade do Santo Menino Jesus e que também cobrou mais transparência no clero.
"Não escondamos mais esses fatos por medo de errar. Frequentemente, queremos estar tranquilos até a tempestade acabar, mas a tempestade não passará. É nossa credibilidade que está em jogo", disse.
Openibo citou inclusive o filme vencedor do Oscar "Spotlight", que relata o escândalo de abusos na Igreja de Boston, EUA, e disse ter "derramado lágrimas de dor" ao assistir ao longa.
"Como a Igreja pôde se calar, cobrindo aquela atrocidade? O silêncio, os segredos levados no coração de quem cometeu abusos, a duração dos abusos e as constantes transferências dos autores são inimagináveis", acrescentou.
Esse é o terceiro dos quatro dias da cúpula convocada pelo Papa, sendo que os dois primeiros foram dedicados aos temas da responsabilidade e da prestação de contas. O encontro termina neste domingo (24) e deve definir regras mais claras para combater a pedofilia.