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Candidatura de Berlusconi a presidente começa a naufragar

Ex-premiê está longe de garantir o apoio necessário

18 jan 2022 - 12h41
(atualizado às 12h47)
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A candidatura do ex-primeiro-ministro da Itália Silvio Berlusconi a presidente da República está perto de naufragar.

Mural em Roma ironiza candidatura de Berlusconi a presidente
Mural em Roma ironiza candidatura de Berlusconi a presidente
Foto: ANSA / Ansa - Brasil

Personagem mais controverso da política italiana nos últimos 30 anos, o ex-premiê estava empenhado em garantir os votos necessários para chegar ao Palácio do Quirinale, mas, segundo relatos de seus próprios aliados, já dá sinais de desistência.

"Ele estava bastante triste ontem", contou nesta terça-feira (18), em entrevista à emissora Rai, o crítico de arte e deputado Vittorio Sgarbi, que havia sido encarregado por Berlusconi de telefonar para parlamentares em busca de apoio.

Essa campanha foi batizada pelo próprio ex-primeiro-ministro como "operação esquilo", mas a caça por votos parece não ter dado o resultado esperado.

"Acho que existem inquietudes de natureza psicológica no candidato, porque ele ficou em Milão. Acho que essa pausa vem do fato de que ele deve estar pensando em uma porta de saída honrosa, com um nome que lhe agrade", disse Sgarbi, acrescentando que a operação foi "interrompida".

Berlusconi e seu partido, o conservador Força Itália (FI), fazem parte de uma coalizão com as legendas de ultradireita Liga e Irmãos da Itália (FdI), que são lideradas, respectivamente, por Matteo Salvini e Giorgia Meloni.

Essa aliança se dividiu no apoio ao governo de Mario Draghi - Meloni preferiu ficar sozinha na oposição -, porém controla a maior parte das regiões do país e detém o maior número de votos no colégio eleitoral que vai escolher o próximo presidente, formado por 1009 senadores, deputados e delegados regionais.

No entanto, Berlusconi tinha dois desafios: angariar votos em outras forças, que não gostariam de ver uma figura tão controversa no cargo institucional mais importante do país, e evitar traições na aliança de direita, já que o sufrágio é secreto.

Na última segunda-feira (17), o próprio Salvini, que dias antes garantira apoio à candidatura, já havia deixado Berlusconi na corda bamba ao dizer que faria na semana que vem uma "proposta convincente para todos".

"Hoje faltam cerca de 100 votos. Não vou me render, mas o fato de que ele [Berlusconi] atrasou a chegada em Roma me faz pensar que...", disse Sgarbi, sem concluir seu pensamento.

Votos necessários

Para ser eleito, um candidato precisa obter dois terços dos 1009 votos (673), mas esse patamar vale apenas para os três primeiros escrutínios. Se o pleito chegar até a quarta votação, passa a ser necessária apenas a maioria simples (505).

O plano de Berlusconi era esperar a quarta votação e ser eleito com o apoio da coalizão conservadora, de parlamentares de centro e de deputados e senadores do grupo misto, que não estão ligados a nenhum partido e hoje reúnem cerca de 10% dos votos.

O Partido Democrático (PD), de centro-esquerda, e o antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S) nunca cogitaram votar no ex-premiê, especialmente pelo fato de ele ainda ser uma liderança partidária e por seu longo histórico de problemas com a justiça.

Berlusconi já cumpriu um ano de serviços sociais por fraude fiscal, ficou inelegível por seis anos e responde a processos por compra de testemunhas. Na impossibilidade de chegar à Presidência, o ex-premiê seria favorável à reeleição de Sergio Mattarella, que, no entanto, não quer continuar no cargo.

Em 75 anos de história republicana na Itália, apenas um presidente foi reconduzido - Giorgio Napolitano, em 2013 -, e Mattarella teme que sua reeleição fixe um precedente perigoso para um cargo de mandato tão longo.

Por outro lado, manter o atual chefe de Estado seria uma maneira de dar continuidade ao atual cenário político do país. A eleição para presidente começa em 24 de janeiro, e é comum que os partidos deixem para revelar seus indicados no último momento. 

Ansa - Brasil   
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