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Boris Johnson: por que primeiro-ministro britânico está sob pressão para que renuncie

O cargo de primeiro-ministro de Boris Johnson está sob ameaça, mas o que está por trás dos pedidos por sua renúncia?

20 jan 2022 - 07h39
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O cargo de primeiro-ministro de Boris Johnson está sob ameaça
O cargo de primeiro-ministro de Boris Johnson está sob ameaça
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, está tentando sobreviver politicamente a uma série de escândalos envolvendo reuniões realizadas em sua residência oficial que teriam violado as regras de isolamento de covid criadas pelo seu próprio governo.

Em um momento delicado de seu governo, Johnson está sendo acusado de mentir para o povo e para o Parlamento sobre festas com bebidas que aconteceram na 10 Downing Street, em Londres - residência oficial e escritório do primeiro-ministro britânico.

Os pedidos de renúncia de políticos estão partindo não só da oposição, mas também de membros de seu próprio Partido Conservador.

Além das revelações sobre as reuniões, ele também enfrenta pressão em outras frentes — incluindo financiamento para uma reforma de apartamento e um outro escândalo, no ano passado, em que seu governo tentou ajudar um deputado conservador (Owen Paterson) que estava envolvido em outra crise.

Para complicar ainda mais as coisas, houve uma enxurrada de críticas do ex-assessor principal de Johnson, Dominic Cummings, que disse que o primeiro-ministro foi avisado de que haveria uma festa no jardim de Downing Street.

Os conservadores agora estão avaliando se Johnson — que foi importante na campanha que aprovou o Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia) e que obteve uma maioria considerável na última eleição — é dispensável.

Com a posição do primeiro-ministro parecendo cada vez mais frágil, a BBC analisa como a crise evoluiu até este ponto e o que pode acontecer agora.

O que sabemos sobre os encontros?

Na primavera de 2020 (março a maio), durante o primeiro lockdown na Inglaterra, Johnson participou de uma festa "BYOB" ("Bring Your Own Bottle", ou "traga sua própria bebida") no jardim de Downing Street.

Na época, as restrições impostas pelo governo diziam que as pessoas não podiam sair de suas casas — ou ficar fora do local onde moram — sem um motivo razoável. Entre esses motivos aceitáveis, estavam trabalho (para quem não podia trabalhar em casa), exercícios e sair para comprar comida e remédios.

A lei também proibiu encontros de mais de duas pessoas em lugares públicos, a menos que fossem todos membros da mesma família ou a reunião fosse "essencial para fins de trabalho".

Cerca de 30 pessoas participaram da festa no jardim de Downing Street. No entanto, advogados observaram que o local não é um espaço público.

Em outro incidente, uma foto de maio de 2020 mostrou o primeiro-ministro e sua equipe com garrafas de vinho e uma tábua de queijos no jardim de Downing Street. Quando questionado, Johnson disse que as pessoas da foto estavam "no trabalho falando sobre trabalho".

O primeiro-ministro pediu desculpas pelos "erros de julgamento que foram feitos" e disse que não sabia que o evento do qual participou em 20 de maio era uma festa, mas "acreditava implicitamente" que era um evento de trabalho.

Várias outras reuniões foram relatadas no final de 2020 e em abril de 2021, incluindo duas festas envolvendo a equipe de Johnson realizadas na noite anterior ao funeral do príncipe Philip — em um momento em que encontros em ambientes fechados eram proibidos.

Johnson não estava em nenhuma das festas, mas ele pediu desculpas à rainha.

As revelações e sua maneira de lidar com o caso irritaram eleitores e políticos de todos os partidos.

O que está sendo investigado?

Conservadores agora estão avaliando se Johnson — que foi importante na campanha que aprovou o Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia) e que obteve uma maioria considerável na última eleição — é dispensável
Conservadores agora estão avaliando se Johnson — que foi importante na campanha que aprovou o Brexit (a saída do Reino Unido da União Europeia) e que obteve uma maioria considerável na última eleição — é dispensável
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Uma investigação está em andamento para estabelecer "um entendimento geral da natureza" das reuniões de Downing Street e se alguma "ação disciplinar individual" deve ser tomada.

A investigação, liderada pela funcionária pública sênior Sue Gray, provavelmente fornecerá um relato dos fatos, sem um julgamento sobre se as leis de lockdown foram violadas.

No entanto, se sua investigação descobrir evidências de comportamento potencialmente criminoso, ela será encaminhada à polícia.

Embora o profissionalismo de Gray tenha sido elogiado, ela tem a difícil tarefa de investigar seus chefes — incluindo o primeiro-ministro.

Johnson tem pedido aos parlamentares que esperem o resultado do relatório de Gray antes de julgar seu comportamento.

Em dezembro de 2021, o funcionário público do Reino Unido Simon Case deixou de liderar esse mesmo inquérito sobre festas quando se descobriu que uma delas havia sido realizada em seu próprio escritório.

O primeiro-ministro pode ser expulso do cargo sem eleições?

Sim. O Reino Unido não elege diretamente seu primeiro-ministro - portanto, como líder do Partido Conservador, Johnson depende do apoio contínuo de seus parlamentares.

Diante das acusações, parlamentares conservadores que questionam a capacidade de Johnson de liderar o país podem enviar cartas manifestando falta de confiança nele.

Se 54 deputados do próprio partido do primeiro-ministro enviarem cartas, isso leva a ochamado voto de confiança, que por sua vez desencadearia uma disputa de liderança se o primeiro-ministro perder essa votação.

Outros líderes em potencial precisarão ser indicados por pelo menos dois deputados conservadores.

Se houver vários candidatos, eles serão reduzidos a dois indivíduos por meio de uma série de votações.

Os candidatos podem se retirar entre as rodadas e, se todos, exceto um, desistirem, o candidato restante se tornará líder do partido (e primeiro-ministro), sem necessidade de voto dos membros.

Apenas um grupo pequeno de parlamentares conservadores declarou publicamente não confiar no primeiro-ministro, mas acredita-se que outros estejam considerando enviar cartas. Um parlamentar disse à BBC que achava que o limite mínimo necessário para desencadear um voto de confiança pode ser alcançado em breve.

O que acontece depois?

Embora alguns parlamentares conservadores tenham se juntado aos partidos da oposição para pedir a renúncia de Johnson, a maioria disse publicamente que está preparada para aguardar a conclusão da investigação de Sue Gray antes de decidir como proceder.

Além disso, assim como os deputados podem enviar cartas manifestando falta de confiança, eles podem retirá-las, e não está claro nesta fase quantos vão seguir adiante com suas manifestações.

A investigação de Gray, cujos resultados são esperados para a próxima semana, pode concluir que não há evidências incontestáveis de que Johnson foi explicitamente informado de que o evento de bebidas em seu jardim era uma violação das regras.

Mas os parlamentares conservadores estarão observando de perto o que os eleitores pensam. E a popularidade do primeiro-ministro já está caindo.

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