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Mundo

Bélgica se desculpa por assassinato de herói do Congo em 1961

Premiê Patrice Lumumba foi torturado, morto e dissolvido

20 jun 2022 - 14h36
(atualizado às 14h51)
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O primeiro-ministro da Bélgica, Alexander De Croo, admitiu uma "responsabilidade moral" de diversos membros do governo do país nos anos 1960 e pediu desculpas pelas "circunstâncias" que levaram ao assassinato do herói da independência do Congo e ex-premiê da nação africana Patrice Emery Lumumba.

O pedido ocorreu nesta segunda-feira (20) durante uma cerimônia de restituição de espólio ao governo congolês no Palácio Egmont, em Bruxelas. Os belgas devolveram um dente que pertenceu a Lumumba, torturado e assassinado em 1961. Já os restos mortais do líder foram desmembrados e dissolvidos em ácido, o que não permitiu um sepultamento do líder.

"Os ministros, os diplomatas, os funcionários ou os militares belgas poderiam não querer que Patrice Lumumba fosse assassinado", afirmou De Croo, acrescentando que "nunca foram encontradas provas que demonstrem" a participação direta de alguns deles.

"Mas, eles deveriam ter percebido que a transferência [após a prisão] para Katanga iria colocar sua vida em risco. E eles escolheram não ver. Escolheram não agir. Essa responsabilidade moral do governo belga precisamos reconhecer e repito mais uma vez nesse dia oficial de adeus da Bélgica a Patrice Emery Lumumba. Quero aproveitar essa ocasião, com a presença de sua família, de pedir desculpas em meu nome pelo governo belga e pela maneira que ele influenciou a decisão de por fim à vida do primeiro-ministro da ex-colônia belga", acrescentou.

A família vai levar a relíquia de volta pra o Congo, que já decretou luto nacional entre os dias 27 e 30 de junho, com um caixão exposto no Palácio do Povo, sede do Parlamento congolês, com uma cerimônia oficial de sepultamento em 30 de junho. O dia escolhido representa o 62º aniversário da República do Congo e o mausoléu que conterá a relíquia foi construído na periferia de Kinshasa.

O país africano declarou sua independência da Bélgica em 30 de junho de 1960 e, nas primeiras eleições do Congo, Lumumba venceu o pleito e se tornou o primeiro-ministro. Ele tinha muito reconhecimento popular por conta de sua forte atuação pela independência e contra o imperialismo.

No entanto, ele só ficou no poder por cerca de três meses, sendo alvo de um golpe de Estado liderado pelo coronel Joseph Mobutu.

Por conta da perseguição política, Lumumba tentou fugir e foi capturado em janeiro de 1961 com o apoio tanto dos belgas como dos norte-americanos, que viam o líder como um possível aliado da então União Soviética.

O dente do ex-premiê foi encontrado pelo policial belga Gerard Soete, que anos depois contou que a missão foi ordem do comissário Frans Verscheure, que supervisionava os trabalhos policiais no Congo. Soete levou a relíquia para a Bélgica, onde ficou conservada até hoje.

Em 2011, François Lumumba, primogênito do político congolês, denunciou uma série de funcionários e diplomatas belgas iniciando um processo judicial, ainda em andamento em Bruxelas, por "crimes de guerra". .

Ansa - Brasil   
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