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Meninos presos em caverna na Tailândia: qual será o impacto sobre a saúde mental dos garotos

Especialistas estimam que situação dramática pode deixar sequelas como depressão, ansiedade e transtorno do estresse pós-traumático sobre pelo menos um terço do grupo.

4 jul 2018 - 07h55
(atualizado às 11h37)
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Equipes de resgate preparam tubo para drenar águas em rede de cavernas em que garotos estão presos
Equipes de resgate preparam tubo para drenar águas em rede de cavernas em que garotos estão presos
Foto: EPA/RUNGROJ YONGRIT / BBC News Brasil

O caso dos 12 meninos e de seu treinador de futebol encontrados vivos após nove dias em uma caverna no norte da Tailândia tomou conta do mundo.

Equipes de resgate tentam descobrir agora como retirá-los da caverna com segurança, enquanto militares tailandeses alertam que as crianças podem ser obrigadas a permanecer no local por até quatro meses.

Os meninos, de idades entre 11 e 16 anos, passaram 9 dias isolados no escuro sem alimentos sobre uma rocha em uma caverna apertada, e terão de passar mais um bom tempo nessas condições. Mesmo recebendo alimentos e atendimento médico, enfrentam uma situação dramática extrema, que levanta preocupações sobre o impacto disso tudo na sua saúde mental.

Andrea Danese, psiquiatra na Clínica Nacional e Especialista em Trauma e Ansiedade de Crianças e Adolescentes, em Londres, diz que, em curto prazo, um incidente dessa proporção poderia deixar crianças amedrontadas, ansiosas, irritáveis e extremamente apegadas a outras pessoas.

Ele pondera, no entanto, que o fato de as crianças na Tailândia serem parte de uma comunidade - nesse caso, um time de futebol - terá sido uma "proteção" mental.

Donelson R. Forsyth, da Universidade de Richmond, na Virgínia, concorda.

"Casos anteriores sugerem que o grupo vai se engajar, organizando os recursos conjuntos de que dispõe para sobreviver, porque se há alguém que pode sobreviver a um desastre como esse, esse alguém é um grupo - e organizado", diz ele.

Foto postada no Facebook mostra o treinador de futebol cpom algumas das crianças que estão presas na caverna
Foto postada no Facebook mostra o treinador de futebol cpom algumas das crianças que estão presas na caverna
Foto: Facebook/ekatol / BBC News Brasil

Embora possam surgir emoções como sentimento de culpa, desânimo, raiva e problemas de hierarquia entre eles, o histórico do grupo enquanto equipe pode ajudar os garotos a permanecerem unidos, acrescenta.

O que precisa acontecer agora?

Esta é uma situação muito incomum, ainda mais porque, ao contrário de incidentes anteriores - como o caso dos mineiros chilenos que ficaram presos sob a terra por quase 70 dias em 2010 -, os envolvidos agora, salvo uma exceção, o técnico de 25 anos, são crianças ou adolescentes.

Danese enfatiza o papel essencial que adultos têm a desempenhar para ajudá-las a lidar com a situação atual, e isso envolve desde o treinador que está preso com eles até os mergulhadores de resgate e da equipe médica.

Ele diz que uma comunicação "clara e honesta" com as crianças será essencial para minimizar qualquer possível trauma.

"É importante que eles tenham informações sobre o que vai acontecer", diz o especialista, apontando que qualquer imprevisibilidade pode aumentar eventuais impactos negativos de longo prazo na saúde mental deles.

As crianças também devem ser encorajadas a falar sobre seus sentimentos e evitar esconder suas emoções.

A previsão é que o contato com a família, por meio de linhas telefônicas que estão sendo instaladas na caverna, também ajude a melhorar o ânimo dos meninos.

E os mergulhadores terão o importante papel de fazer companhia ao grupo.

Equipe de resgate tenta instalar linhas telefônicas no local para permitir que garotos falem com os pais
Equipe de resgate tenta instalar linhas telefônicas no local para permitir que garotos falem com os pais
Foto: Reuters / BBC News Brasil

E a falta de luz?

Um dos maiores desafios do grupo em se adaptar à caverna tem sido a escuridão.

Sem luz suficiente para distinguir entre a noite e o dia, o relógio biológico ou o ritmo circadiano "oscila fora de sincronia", de acordo com o professor Russell Foster, diretor de Neurociência Circadiana na Universidade de Oxford.

Isso não terá impacto apenas sobre seus padrões de sono, já que o ritmo circadiano também afeta o humor, a função intestinal e muitas outras áreas do corpo humano.

No entanto, o professor Foster acredita que as equipes de resgate tentarão instalar iluminação dentro das cavernas para imitar o ciclo noturno e diurno, como aconteceu com os mineiros chilenos.

Além de prevenir o jet lag quando retornarem à superfície - ou seja, a sensação de cansaço e confusão normalmente associada a longas viagens de avião para lugares com fuso horário diferente - a exposição planejada à luz ajudará o grupo a desenvolver, na medida do possível, uma rotina diária, o que, segundo Danese, lhes dará "alguma ideia de normalidade".

Qual será o efeito a longo prazo?

O impacto das experiências que tiverem na caverna provavelmente permanecerá com as crianças por muito tempo após o eventual resgate.

Sandro Galea, reitor da Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston, e Robert A. Knox, da mesma instituição, dizem que crianças que experimentam um trauma dessa magnitude "têm um alto risco de sofrer transtornos de humor de médio a longo prazo", como depressão, ansiedade e transtorno do estresse pós-traumático.

Isso não significa que todos os meninos desenvolverão esse tipo de transtornos, mas os especialistas estimam que "um terço do grupo" venha a ter problemas de saúde mental como resultado dessa experiência.

Destes, um terço poderá experimentar problemas de longo prazo, diz Galea, o que, com a ajuda certa, é tratável com terapia cognitivo-comportamental e medicação.

Mas a relação dos integrantes do grupo entre si e com o mundo exterior - vista como um dos fatores mais importantes no subsolo - desempenhará um papel significativo na sua recuperação a longo prazo.

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