Jovem lembra os 3 dias nos escombros de fábrica que desabou em Bangladesh
Aos 21 anos, Merina era uma das jovens que trabalhavam na fábrica que desabou na última quarta-feira; ela foi encontrada com vida três dias depois
Entre os sobreviventes resgatados dos escombros da fábrica de roupas que desabou em Bangladesh na semana passada, matando pelo menos 377 pessoas, está a jovem Merina, 21 anos. No hospital onde está internada para tratar os ferimentos, ela contou como sobreviveu três dias embaixo de puro concreto quase sem conseguir se mover.
Merina estava sentada em sua máquina de tricô no quarto andar do edifício na manhã da última quarta-feira quando começou a ouvir explosões. Assim como os cerca de 3 mil trabalhadores, ela não teve tempo de sair. Tentou correr para a porta, mas pedaços do teto caíram sobre ela. Desesperada, Merina rastejou em busca um lugar para se esconder. Acabou entre dois pilares caídos, em uma pequena área junto com outros dez colegas de trabalhos.
"Nós vamos morrer, nós vamos morrer", diziam uns aos outros. Eles quase não conseguiam se mexer. Conforme o tempo passava, os sobreviventes sofriam com a falta de água. Alguns chegaram a beber a própria urina.
Durante o período que ficou embaixo dos escombros, Merina diz que só conseguia pensar em suas irmãs, com as quais compartilhava uma cama de solteiro em um quarto de um barraco perto da fábrica. No entanto, elas tiveram mais sorte. Sharina, a mais velha, fugiu na hora certa e, do lado de fora, viu o edifício onde trabalhava desabar. Logo depois, encontrou a irmã mais nova, Shewli, 16 anos.
Ao não encontrar Merina, Sharina ligou para seus pais. "Consegui escapar, mas Merina ainda está presa", disse. Eles pegaram o primeiro trem para Dhaka e chegaram ao local do desabamento na quinta-feira pela manhã. A mãe de Merina conta que rezou muito durante a viagem. "Se você salvar a vida da minha filha, eu vou sacrificar uma cabra para você", prometeu em suas orações.
Na sexta-feira, Merina começou a ouvir barulhos de lajes sendo cortadas em cima de sua cabeça. “Nos salve! Nos salve!”, gritou, com a ajuda dos outros sobreviventes. Mas os socorristas só conseguiram alcançá-la no sábado pela manhã, quando já estava desorientada e quase inconsciente.
Ela lembra que foi colocada em uma ambulância. "Onde você está me levando?" perguntou. "O que aconteceu?". "Não tenha medo, você está indo para o hospital", foi a resposta.
A jovem foi levada para um hospital próximo e, mesmo após três dias sem comer, beber e se mover, os médicos constataram que ela teve apenas machucados na cabeça, resultado do concreto que desabou, e dor nas costas por ficar deitada na mesma posição por tanto tempo.
"Deus me deu uma segunda vida", comemora a jovem. "Quando eu estiver recuperada, vou voltar para casa e eu nunca vou trabalhar em uma fábrica de roupas outra vez", sentencia.