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Araras oferecem "terapia" a venezuelanos em meio a crise

17 jul 2019 - 12h16
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Em busca de uma fuga das realidades cotidianas da Venezuela em crise, Carmen Gómez encontra consolo recebendo visitantes no telhado de seu prédio de apartamentos de Caracas todas as manhãs: bandos de araras azuis e douradas que chegam ao raiar do dia.

Vittorio Poggi coloca comida para araras em sua casa
18/06/2019
REUTERS/Manaure Quintero
Vittorio Poggi coloca comida para araras em sua casa 18/06/2019 REUTERS/Manaure Quintero
Foto: Reuters

Carmen, terapeuta de medicina alternativa de 49 anos, se sentou em uma manhã ensolarada de maio no alto do edifício de 11 andares com uma lata de sementes de girassol e uma travessa de bananas para esperar sua chegada.

Depois de quase uma hora, duas araras pousaram. Uma terceira atravessou o céu e se empoleirou casualmente em sua cabeça, soltando dois dos grasnados típicos que ressoam com frequência na cidade.

"Esta decidiu que é minha, ou antes, que eu sou dela", disse Carmen, acrescentando reconhecer a ave por uma marca em seu bico. "Acho que elas se tornaram as terapeuta de Caracas", brincou, indiferente às bicadas impacientes da ave em sua testa enquanto descascava uma banana.

Descritas há tempos como um raio de luz em uma cidade que está em declínio há anos, as araras de Caracas se tornaram um mecanismo de escape do sacrifício diário de se encontrar água potável, lutar com as falhas da internet e evitar as ruas tomadas pelo crime.

O simples contato com as araras cada vez mais amistosas com os humanos, algumas variedades das quais estão ameaçadas por contrabandistas de animais, virou uma alternativa aos ingressos de cinema caros ou às excursões à praia que costumavam ajudar as pessoas a relaxarem.

Um estudo de 2015 revelou que Caracas tem entre 200 e 300 araras-canindé, que se acredita terem vindo das florestas do sul da Venezuela, segundo a bióloga María González, da Universidade Simón Bolívar.

Nenhum estudo populacional foi realizado desde então por falta de recursos, disse María, acrescentando que é difícil rastrear as aves com transmissores porque elas os retiram.

"Caracas é perfeita porque tem muitas árvores, é muito verde, tem muitas árvores frutíferas, e não tem predadores de araras", explicou. "Onde existe muita comida e nada de predadores, parece o paraíso."

Vitorio Poggi, de 75 anos, alimenta araras há décadas, já que ficou fascinado com uma que o seguiu quando ele andava de moto nos anos 1970.

"Adoro a maneira como elas voam, especialmente porque voam em pares", disse Poggi em sua casa nos arredores de Caracas, onde atualmente alimenta cerca de 20 delas duas vezes por dia.

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