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Mundo

Análise/G20 acontece durante pior momento de Macri

Crise, inflação e escândalo de corrupção abalam o governo

20 jul 2018 - 16h24
(atualizado às 17h36)
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A diretora-geral do FMI, Christine Lagarde, chega à cúpula do G20 na Argentina no pior momento da gestão do presidente Mauricio Macri, colocado em xeque por uma "tormenta social' e econômica agravada por um escândalo sobre doações ilegais à campanha da coalizão Mudemos, que o elegeu em 2015.

Mal-estar com Mauricio Macri vem crescendo por causa de crise econômica
Mal-estar com Mauricio Macri vem crescendo por causa de crise econômica
Foto: EPA / Ansa - Brasil

"Atravessamos uma tormenta, mas manteremos o rumo", disse Macri depois que seu chefe de gabinete, Marcos Peña, anunciou que os argentinos passarão por "meses de mais contração e dificuldades".

Lagarde desembarcou em Buenos Aires na última quinta-feira (19) para participar da cúpula de ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais de países-membros do G20, que reúne 20 das maiores economias do mundo. À noite, a diretora jantou com Macri, que contraiu um empréstimo de US$ 50 bilhões para pôr freio a uma crise cambial que fez a cotação do dólar disparar de 20 a 28 pesos em poucos meses.

Essa "tormenta" ameaça converter-se em uma "tempestade", que desencadeou um novo descontrole da inflação, com índice projetado para 30% neste ano, frente aos 17% esperados pelo governo.

A minicúpula do G20 acontece no momento mais delicado da gestão do presidente argentino, que tem a imagem desgastada pela alta da inflação no país, problema que ele mesmo minimizara durante a campanha de 2015. "Inflação alta é demonstração de incapacidade para governar. No meu governo, esse não vai ser um tema", prometeu na ocasião.

Os ministros do G20 se reúnem neste fim de semana em Buenos Aires, em meio a novos protestos de sindicatos e cidadãos contra um governo que é questionado em várias frentes. Inflação, crise cambial, um severo ajuste acordado com o FMI e uma difícil situação social agravada por um aumento na pobreza, apontado pelo observatório social da Universidade Católica Argentina (UCA), colocaram o governo em uma situação delicada na segunda metade do mandato de Macri.

Para o analista político argentino Rosendo Fraga, "o segundo semestre começou como previsto: a situação social está ainda mais difícil". Nos últimos dias, no entanto, o governo somou a essa combinação de problemas um escândalo de corrupção que pode ter efeitos negativos na popularidade do presidente. Macri assumiu o cargo com um discurso que pregava mudança, honestidade e um forte combate à corrupção, um mal endêmico na vida cotidiana do país.

A Justiça investiga doações falsas à campanha eleitoral da coalizão Mudemos na província de Buenos Aires durante as eleições de 2017, no que parece ser um caso de "lavagem de dinheiro". Na lista de "doadores", aparecem dirigentes que negaram ter contribuído com a campanha, assim como pessoas carentes, que vivem com ajuda de programas sociais. Muitas pessoas descobriram que haviam sido afiliadas compulsoriamente pelo Proposta Republicana (PRO), partido de Macri.

A governadora da província de Buenos Aires, María Eugenia Vidal, uma das principais líderes governistas, viu-se obrigada a demitir a contadora-geral de seu governo, Fernanda Inza, sua amiga pessoal e ex-tesoureira da campanha.

A oposição, por sua vez, já tem em vista as eleições presidenciais de 2019 e adverte que "o pior ainda não chegou". "A tempestade ainda não começou. As metas [pautadas pelo FMI] são impraticáveis, a não ser que se faça um ajuste delirante.

Estamos caminhando para uma rua sem saída", alertou Alberto Fernández, líder da Frente Renovadora Peronista e ex-chefe de gabinete de Néstor Kirchner, que governou a Argentina entre 2003 e 2007.

Ansa - Brasil   
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