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América Latina

Venezuelanos enfrentam escassez de remédios; governo culpa empresários

15 mai 2013 - 10h04
(atualizado às 10h34)
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Mulher procura medicamentos em farmácia de Caracas na última sexta-feira
Mulher procura medicamentos em farmácia de Caracas na última sexta-feira
Foto: EFE

A cena se repete nas farmácias venezuelanas: caras de decepção dos clientes por não encontrar o remédio que buscam e funcionários que precisam lidar com as queixas de muitos doentes que não podem seguir seu tratamento porque o medicamento de que necessitam não está disponível.

A situação reflete as crescentes dificuldades no país para conseguir uma ampla gama de remédios, produto dos impedimentos cada vez maiores para importá-los no meio do controle de câmbio que rege na Venezuela há dez anos.

Entre os afetados está Héctor Mendoza, que se mostra resignado pouco depois de entrar na quinta farmácia que visita em uma semana na busca pelo remédio que necessita para tratar as sequelas de uma trombose pulmonar.

"É o pão de cada dia. Está horrível conseguir qualquer remédio", lamentou em conversa com a agência EFE este aposentado de 72 anos que, acompanhado de sua esposa, procura o medicamento Prodaxa em uma farmácia do leste de Caracas. "Há tempo que o tomo e agora está mais difícil consegui-lo", garantiu.

O problema de Mendoza se estende a muitos venezuelanos, que em algumas ocasiões têm que percorrer várias farmácias para conseguir o remédio procurado. Ainda que a situação não seja nova, se aguçou desde que começou o ano pelas dificuldades dos laboratórios para obter receitas necessárias para pagar seus fornecedores internacionais, depois que o governo eliminou um sistema alternativo onde as empresas podiam conseguir dólares.

Colírios, pílulas para dormir e tratar a hipertensão e até coquetéis antirretrovirais contra o HIV são alguns dos remédios que faltam nas farmácias e centros clínicos. A indústria farmacêutica atribui a escassez a uma lei que mantém congelados há dez anos os preços de 30% dos remédios disponíveis no país e ao atraso do governo em entregar ao setor as divisas necessárias para a importação.

"O primeiro problema tem a ver com a liquidação de divisas, nós estimamos que o tempo de resposta às nossas solicitações é de 180 dias em média", disse à EFE o vice-presidente executivo da Câmara da Indústria Farmacêutica, Ángel Márquez. "Há outro elemento, que é o que tem a ver com os preços. Nós temos uma regulação desde 2003 sobre uma bolsa de um pouco mais de 1,4 mil produtos farmacêuticos. Os preços destes 1,4 mil produtos não foram revisados desde essa data", acrescentou.

Já o governo costuma atribuir a culpa a "empresários inescrupulosos" que, segundo sua opinião, especulam com o preço dos remédios e respondeu com tentativas de impulsionar a produção farmacêutica nacional ao calor de uma série de convênios assinados com vários países, entre eles Cuba. Além disso, montou uma rede de farmácias chamada Farmapatria, que vende remédios a preços abaixo do mercado em bairros populares do país.

A EFE entrou em contato com o Ministério da Saúde venezuelano, mas não foi possível conhecer a postura oficial do governo sobre a situação.

A indústria farmacêutica estima que 40% da bolsa de remédios do país apresentam falhas em sua distribuição. "Há falhas pontuais, que em alguns casos estão se tornando sistemáticas. Em cada uso terapêutico sempre há um remédio que está faltando", afirmou Márquez.

Os problemas são sentidos também nos remédios antirretrovirais para tratar o vírus da aids, disse à EFE o presidente da organização venezuelana StopVIH, Jhonatan Rodríguez. "Nós temos um balanço que aponta que neste ano estiveram escasseando sete remédios antirretrovirais", assinalou. "Não há um mês sem que falte remédios para tratar o HIV. A situação é bastante delicada. O desabastecimento foi de forma intermitente, mas a intermitência foi se aguçando", detalhou.

Frente a estas denúncias, a ministra da Saúde, Isabel Iturria, assegurou ao canal estatal que a Venezuela é um dos poucos países do mundo que garante atendimento e tratamento gratuito aos portadores de HIV e criticou o alto custo das patentes dos remédios para tratar a doença.

As dificuldades para conseguir remédios se somam aos problemas dos venezuelanos para encontrar também alguns alimentos básicos nos supermercados do país, onde o governo mantém controles tanto no preço como no acesso às divisas para a importação.

O atraso na entrega de divisas se sente com especial força nos laboratórios, que devem driblar uma série de obstáculos para obter dólares devido a um controle de câmbio que, desde sua implementação em 2003, regula a quantidade de divisas que as empresas podem conseguir pelo preço oficial.

"A situação é cada vez mais complexa", comentou Márquez, acrescentando que em alguns casos os fornecedores ameaçaram os laboratórios com ações legais por não realizar os pagamentos nos prazos previstos.

Estas dificuldades aguçaram o engenho dos venezuelanos, que recorreram às redes sociais Facebook e Twitter para tentar conseguir os remédios. Outros se organizam e pedem ajuda a seus vizinhos ou amigos. Neste grupo está Carmen Hernández, uma dona de casa de 51 anos que aproveitou uma visita a Caracas para buscar uma pílula contra a hipertensão que lhe encomendou uma vizinha.

"Já está desesperada. Foi duas vezes ao médico para que lhe desse amostras gratuitas, mas já acabaram", conta Carmen. A poucos metros, a aprendiz de farmácia Miriam García lhe sugere que deixe seu telefone para que seja avisada quando recebam o remédio. "Há muita escassez, o povo se queixa, mas infelizmente nós não podemos fazer muito", lamentou Miriam.

EFE   
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