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América Latina

Por que todos os policiais de uma cidade foram parar na cadeia no México

O diretor da polícia municipal de Ocampo e mais 29 oficiais foram presos pelas autoridades federais após terem sido acusados por promotores de envolvimeto no assassinato do candidato a prefeito; três políticos da cidade foram mortos no intervalo de 8 dias.

25 jun 2018 - 11h12
(atualizado às 13h57)
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O empresário Ángeles Juárez era candidato a prefeito de Ocampo e foi o terceiro político assassinado na cidade em 8 dias
O empresário Ángeles Juárez era candidato a prefeito de Ocampo e foi o terceiro político assassinado na cidade em 8 dias
Foto: AFP / BBC News Brasil

A prisão da cidade mexicana de Ocampo tem uma peculiaridade: 30 policiais estão detidos ali.

As autoridades federais do Estado de Michoacán mandaram prender os policiais municipais porque eles são os principais suspeitos do assassinato de um candidato a prefeito nas eleições gerais do próximo domingo.

Fernando Ángeles Juárez, de 64 anos, foi morto a tiros, por três homens armados, pouco antes das 8h na quinta-feira passada em frente a uma de suas propriedades. Ele é o terceiro político assassinado num intervalo de oito dias em Michoacán.

Desde o início da temporada eleitoral mexicana, em setembro de 2017, mais de 100 políticos foram mortos.

De acordo com a Subsecretaria de Segurança Pública de Michoacán, o diretor da polícia local, Oscar González García, e os 29 oficiais que compunham as forças da ordem em Ocampo foram presos na madrugada deste domingo, 24. Os promotores acusam os policiais de terem ligações com o crime organizado no Estado.

No sábado, 23, agentes federais chegaram à cidade para prender González García, mas foram eles que acabaram na prisão: foram detidos por policiais locais.

Os policiais federais voltaram então com reforços no domingo de manhã e prenderam toda a força policial e seu chefe, que posteriormente foi transferido para interrogatório na capital do Estado, Morelia.

Desde o início da campanha eleitoral no México, em setembro, mais de 100 políticos foram assassinados; os cartéis são os principais suspeitos de ordenar as mortes
Desde o início da campanha eleitoral no México, em setembro, mais de 100 políticos foram assassinados; os cartéis são os principais suspeitos de ordenar as mortes
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Quem era o candidato morto

Antes de iniciar a carreira política, Ángeles Juarez era um empresário de sucesso.

Segundo a imprensa local, ele havia considerado a possibilidade de concorrer a prefeito como candidato independente, mas depois se juntou a um dos principais partidos do México, a Revolução Democrática (PRD, de centro-esquerda).

"Ele não suportava ver tanta pobreza, desigualdade e corrupção, então decidiu fugir", disse um dos seus amigos mais próximos, Miguel Malagón, ao jornal El Universal.

Ele era um empresário hoteleiro em Ocampo, uma área turística famosa. A região é visitada todos os anos por milhões de borboletas monarcas, uma espécie que migra do Canadá para o México.

A mídia local fala sobre a pressão do crime organizado e os analistas concordam que os cartéis são tão poderosos que podem estar infiltrados em diferentes níveis na política e nas forças de segurança (embora isso varie em cada Estado).

Segundo a correspondente da BBC Mundo, Ana Gabriela Rojas, os políticos com maior risco no México são os locais, porque seriam o elo mais fraco. São assassinados porque não servem aos interesses dos cartéis, porque não querem concordar com eles ou porque não os cumprem.

Em Michoacán, existem 3 cartéis: o cada vez mais poderoso Jalisco Nova Geração, o Zetas e a Família Michoacán.

Por que matam políticos no México?

Mais de cem políticos foram assassinados no México desde setembro de 2017, quando começou o processo eleitoral, um dos mais sangrentos da história recente do país.

Especialistas consultados pela BBC Mundo ressaltam que esses crimes refletem a luta do crime organizado para eleger líderes de base a fim de continuar operando com impunidade.

Os assassinatos de políticos no México mostram que "há lugares no país onde aqueles que governam são os criminosos, o poder de fato, e não as autoridades eleitas", diz José Reveles, jornalista especializado em violência e tráfico de drogas.

A guerra contra o narcotráfico no México começou em 2006 e desde então mais de 200 mil pessoas morreram
A guerra contra o narcotráfico no México começou em 2006 e desde então mais de 200 mil pessoas morreram
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

"A violência no México é realmente alarmante e a indiferença em relação ao que acontece lá é muito grande do resto do mundo", diz Oscar Arias, ex-presidente da Costa Rica e ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1987 em conversa com a BBC Mundo.

O país sofre a pior onda de violência de sua história, com 25.340 homicídios dolosos registrados no ano passado, segundo dados oficiais, uma média de quase 70 por dia.

Desde que o governo começou em 2006 a chamada guerra contra as drogas, mais de 200.000 pessoas morreram no México, muitas delas devido ao conflito em si.

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