Paraguai: eleições marcam normalização institucional na região
Ex-presidente Fernando Lugo foi destituído em junho de 2012 por "mal desempenho de suas funções" em um julgamento político no Congresso
As eleições de domingo no Paraguai, onde os partidos tradicionais disputam a supremacia, marcarão a normalização institucional do país aos olhos de governantes da região, que não reconhecem o atual presidente Federico Franco, sucessor do ex-mandatário de esquerda destituído Fernando Lugo.
Horacio Cartes, do opositor Partido Colorado, e Efraín Alegre, do governista Partido Liberal, protagonizarão uma apertada disputa, recebendo nas pesquisas entre 36% e 37% das intenções de voto cada um.
Outros partidos, em sua maioria de esquerda, lançaram candidaturas com o principal objetivo de conquistar assentos no Congresso.
Um dos candidatos ao Senado é o ex-presidente e ex-bispo católico Lugo, destituído em junho de 2012 por "mal desempenho de suas funções" em um julgamento político no Congresso após o massacre de 17 pessoas ocorrido dias antes em Curuguaty, 250 km a nordeste de Assunção, durante a desocupação de uma propriedade particular.
Em visita a Curuguaty na segunda, Lugo chamou de "golpista" o atual governo do liberal Franco, que fora seu vice-presidente na aliança que o levou ao poder em 2008.
Os presidentes dos países membros do Mercosul e a maioria dos mandatários da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) romperam suas relações diplomáticas com Assunção em solidariedade com Lugo, mas prometeram reconsiderar sua posição depois das eleições de domingo.
O tema será abordado em um encontro bilateral entre as presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, da Argentina, em Buenos Aires, em 25 de abril, segundo a imprensa local.
Lugo reiterou a jornalistas na segunda que foi expulso do governo "por um golpe parlamentar" ao justificar a exclusão do Paraguai como sócio do Mercosul e da Unasul. "A ruptura democrático-institucional de 22 de junho de 2012 terá seu preço", profetizou. "Normalizar as relações terá seu tempo e seu processo", acrescentou.
O saída de Lugo em um julgamento sumário serviu de argumento para que o Paraguai fosse afastado do Mercosul na cúpula de Mendoza (Argentina), no dia 29 de junho. Na mesma reunião, os presidentes de Argentina, Brasil e Uruguai resolveram incluir a Venezuela, que até tinha seu ingresso bloqueado pelo Congresso paraguaio desde 2006.
Os ministros das Relações Exteriores de Argentina e Brasil, Héctor Timmermann e Antonio Patriota, declararam depois de uma reunião bilateral no Rio de Janeiro, em março, que seus países "esperam e desejam que o Paraguai volte a ocupar o lugar que lhe corresponde" no bloco.
Para Franco, atual presidente paraguaio, Argentina, Brasil e Uruguai "traíram os princípios fundamentais do Mercosul" ao suspenderem o Paraguai. "Privilegiaram os critérios políticos sobre os jurídicos", ressaltou Franco na Organização de Estados Americanos (OEA) em Washington, para defender finalmente pela refundação do bloco formado em 1991 em Assunção.
O governista Efraín Alegre, perguntado se se imaginava sentado ao lado dos presidentes de Argentina, Brasil, Uruguai e Venezuela depois da punição ao Paraguai, respondeu: "Em condições dignas". "Ninguém vai me chantagear. Vou defender com firmeza os interesses do Paraguai. O Mercosul é importante para o Paraguai, mas o Paraguai também é importante para o Mercosul", ressaltou.
Sobre a entrada da Venezuela, decidido na ausência do Paraguai em Mendoza em 29 de junho, disse: "Vamos nos sentar para conversar com base nos termos dos tratados e da institucionalidade, não da força". Já Cartes afirmou que está disposto a reintegrar o Paraguai aos blocos regionais, "mas sem ferir o Estado de direito".
O candidato colorado advertiu que, se os demais presidentes decidirem que questões políticas prevalecerão, então o Paraguai se manterá à margem. "Se esse for o preço, paciência, vamos a ter que continuar sendo punidos. Mas, em algum momento, terão que entender que o jurídico deve prevalecer".