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América Latina

Papa Francisco diz que chegou a hora de uma mudança de sistema

9 jul 2015 - 21h20
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O papa Francisco afirmou nesta quinta-feira, diante de integrantes dos movimentos sociais em Santa Cruz, no segundo dia de sua visita à Bolívia, que "chegou o momento de uma mudança em um sistema que já não se sustenta".

"Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estrutura. Este sistema já não se sustenta, não sustenta os camponeses, não sustenta os trabalhadores, não sustenta as comunidades, não sustenta os Povos. E a Terra também não sustenta esse sistema, a irmã 'Mãe Terra' como dizia São Francisco", declarou o papa.

Além disso, Francisco esclareceu que seu discurso era sobre "os problemas comuns de todos os latino-americanos e, em geral, de toda a humanidade".

"Reconhecemos que as coisas não andam bem em um mundo onde há tantos camponeses sem-terra, tantas famílias sem-teto, tantos trabalhadores sem direitos, tantas pessoas com suas dignidades feridas?", questionou o papa.

Em seguida, o pontífice exclamou: "Vamos dizer sem medo: precisamos e queremos uma mudança!" e indicou que "muitos esperam uma mudança que os liberte dessa tristeza individualista que escraviza".

No discurso mais longo que pronunciou desde que chegou à América Latina, Francisco pediu que os movimentos não brigassem entre si porque parece que "o tempo está acabando". Inclusive, o papa argentino brincou sobre seu longo discurso ao dizer: "o padre fala muito".

"A terra, os povos e as pessoas estão sendo castigadas de um modo quase selvagem. E, por trás de tanta dor, tanta morte e destruição, é possível sentir o cheiro daquilo que Basílio de Cesareia (330-379) chamava de 'o esterco do diabo' (dinheiro)", assinalou.

O papa criticou a idolatria ao dinheiro, que, afirmou, é responsável por conduzir "as escolhas dos seres humanos". "Quando a avidez pelo dinheiro tutela todo o sistema socioeconômico, ela arruína a sociedade, condena o homem e o transforma em escravo", sentenciou.

E, então, Francisco convocou todos os movimentos populares a se mobilizarem porque "podem fazer muito" para mudar o mundo.

"Vocês, os mais humildes, os que são explorados, os pobres e excluídos, podem e fazem muito. Me atrevo a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, em suas mãos", declarou Francisco.

O papa repetiu a mensagem que já havia pronunciado em outubro, no Vaticano, quando celebrou a primeira reunião dos movimentos sociais, que, assim como hoje, contou com a presença do presidente boliviano, Evo Morales, ao pedir "os três 'Ts': trabalho, teto e terra".

"Não se diminuam!", disse Francisco aos presentes, para em seguida convidá-los "a construir uma alternativa humana à globalização excludente".

Apesar de ter afirmado que não tem receitas prontas, Francisco fez recomendações para essa mudança, como "colocar a economia a serviço dos povos" e se opor a "uma economia de exclusão e desigualdade".

O pontífice também defendeu que se devolvam "aos pobres e aos povos o que lhes pertence" e considerou que "a propriedade, muito especialmente quando afeta os recursos naturais, deve estar sempre em função das necessidades das pessoas".

Além disso, o papa afirmou que "nenhum poder fático e constituído tem o direito de privar os países pobres do pleno exercício de sua soberania" e lamentou o fato de que isto alimente "novas formas de colonialismo que afetam seriamente as possibilidades de paz e de justiça".

Aos movimentos sociais, Francisco pediu união, citando o sonho da chamada "Pátria Grande", para que "a região cresça em paz e justiça".

O pontífice também alertou sobre o perigo do "novo colonialismo" que chega pelas mãos de "alguns tratados denominados de livre comércio e a imposição de medidas de austeridade, que sempre apertam o cinto dos trabalhadores e dos pobres".

Em outras ocasiões, acrescentou o papa, o colonialismo aparece "sob a nobre roupagem da luta contra a corrupção, contra o narcotráfico e o terrorismo" e que para isso são impostas medidas que "pouco têm a ver com a resolução desses problemas e, muitas vezes, só pioram as coisas".

Francisco fez críticas a todos os setores e também falou da "concentração monopólica dos meios de comunicação social". Além disso, lamentou que "o colonialismo, novo e velho, reduz os países pobres a meros fornecedores de matéria-prima e trabalho barato".

"Digamos não às velhas e às novas formas de colonialismo. Digamos SIM ao encontro entre povos e culturas. Felizes são aqueles que trabalham pela paz", concluiu Francisco em seu discurso.

EFE   
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