PUBLICIDADE

América Latina

Novo governo argentino deve encarar panorama econômico sombio

22 out 2015 - 20h50
Compartilhar
Exibir comentários

Reativar a economia, acabar com o conflito pela dívida, reduzir a inflação e as restrições cambiais são alguns dos desafios que o próximo presidente da Argentina terá pela frente.

Segundo as últimas previsões do Fundo Monetário Internacional, a economia argentina terminará neste ano com um crescimento quase nulo, de 0,4%, e terá recessão de 0,7% em 2016, um panorama sombrio para o ganhador das eleições do dia 25, que assumirá o governo no dia 10 de dezembro.

Cristina Kirchner deixará a Casa Rosada com uma taxa de inflação anual que, segundo consultores privados, é de cerca de 25%, déficit fiscal, uma forte emissão monetária e reservas em queda: cerca de US$ 27,7 bilhões, 40% a menos que em dezembro de 2007, quando assumiu seu primeiro mandato.

"Depois de anos de crescimento alto, a economia vai desacelerar e piorará a situação das contas fiscais do país", advertiu Gabriel Torres, analista da agência de classificação de riscos Moody's, que ainda reserva algum otimismo se o próximo governo adotar "políticas um pouco mais pró-mercado e possa se recuperar".

Segundo o especialista, o atual governo não informa sobre o verdadeiro nível de déficit fiscal e o "mascara" com emissão monetária, o que leva "a uma falta de credibilidade" que afeta toda a economia e "isto é parte do desafio do próximo governo".

A Argentina enfrenta problemas para se financiar por desajustes em sua balança comercial, menor fluxo de investimento externo e, em particular, por não poder comparecer aos mercados de dívidas internacionais. Este último fator ocorreu após a Argentina ser declarada em moratória seletiva por causa do litígio em Nova York com fundos especulativos por uma dívida de US$ 1,3 bilhão mais juros por bônus em moratória desde 2001.

A briga com os chamados "fundos abutre" é um tema que tanto o candidato governista Daniel Scioli, governador da província de Buenos Aires e favorito nas pesquisas, como o conservador Mauricio Macri, que está em segundo, sabem que deverão solucionar o mais rápido possível se chegarem à presidência.

Macri, prefeito em fim de mandato da capital, aposta por negociar com os querelantes. Já Scioli afirmou que não pactuará contra os interesses do país e publicamente compartilha a dura posição do governo de Christina neste litígio, mas colaboradores do candidato admitem que é preciso buscar uma solução.

"O principal desafio é o tema dos holdouts, a razão pela qual a Argentina fez um default em 2014. Mas além disso, a Argentina não tem acesso ao financiamento internacional. Seus pagamentos de dívida estrangeira dependem do uso de suas reservas, e elas são limitadas", advertiu Torres.

Para o economista Mario Brodersohn, da empresa de consultoria Econométrica e ex-secretário de Fazenda, a maior preocupação dos candidatos é corrigir o atraso cambial e melhorar a competitividade.

O grande dilema está em fazer que as restrições cambiais que no final de 2011 foram impostas por Cristina Kirchner tentem conter a fuga de capitais que derivou no florescimento do mercado negro de divisas, em problemas para importar e gerar dividendos e um menor fluxo de investimentos externos.

Macri prometeu acabar com o "estoque cambial" e voltar a uma única taxa de câmbio, com livre flutuação, mas para que o preço do dólar não dispare, antes precisa criar uma atmosfera de credibilidade e confiança.

"Um ingrediente fundamental na credibilidade é o acerto com os holdouts, isto é, não eliminar o estoque se antes não se houver o sinal de que finalmente a Argentina saiu do default", frisou Brodersohn em um recente relatório.

Segundo o analista, Scioli, por outro lado, apostará em manter o dólar oficial e o informal e corrigir o atraso cambial com uma desvalorização gradual da taxa de câmbio oficial.

Cientes de que a economia é uma das principais preocupações dos argentinos na hora de votar, os candidatos começam a antecipar quem vai liderar suas equipes econômicas em caso de vitória.

Scioli, da governista Frente para a Vitória, optou por sua atual ministra da Economia na província de Buenos Aires, Silvia Batakis, conhecida como "a grega", que obteve financiamento internacional para sua administração e reformou o sistema tributário local.

Macri, candidato da aliança Mudemos, já pensa entre Alfonso Prat-Gay, ex-presidente do Banco Central, e Rogelio Frigerio, que lidera o Banco Cidade de Buenos Aires.

Sergio Massa, terceiro nas pesquisas pela aliança União por uma Nova Alternativa, conta com o ex-ministro Roberto Lavagna, cérebro da recuperação após a crise de 2001 junto ao então presidente Néstor Kirchner.

EFE   
Compartilhar
Publicidade
Publicidade