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Morte de Hugo Chávez

Na Espanha, venezuelanos emigrantes criticam o governo de Hugo Chávez

Cidadãos que deixaram a Venezuela e hoje vivem na Espanha veem com pessimismo os 14 anos de poder do comandante bolivariano

10 mar 2013 - 10h46
(atualizado em 9/9/2013 às 14h09)
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<p>Hugo Chávez ficou 14 anos no poder</p>
Hugo Chávez ficou 14 anos no poder
Foto: Jorge Silva / Reuters

"O que mudou nos 14 anos de presidência de Chávez? Ele construiu casas e criou projetos de educação, mas também converteu a Venezuela em um país totalmente corrupto, um país em que já havia delinquência em um lugar com cifras três vezes piores. Uma nação onde não se vive, mas se sobrevive".

Isto, para Jonathan Moura, é só uma parte das consequências do governo do presidente morto. Ele nasceu em 1986 no país que, segundo conta, era o melhor do mundo. O calor humano do povo venezuelano e sua alegria fizeram que sua infância fosse como a de qualquer outro menino. E quando o militar chegou ao poder, trouxe esperança de um futuro de desenvolvimento para sua família. "Lembro que familiares meus votaram em Chávez, que nem parecia um político", recorda.

Mas ações como o controle do câmbio - sistema em que não se podia mais trocar a moeda local por uma estrangeira - e o aumento do custo de vida, criaram um mercado negro sólido e um país mais pobre e dividido. "O pior que Chávez fez foi incitar a violência ao dividir o povo entre chavistas e os não chavistas", conta Jonathan.

"Na Venezuela, eu não tinha como sair da casa dos meus pais e me manter como um adulto, via meu futuro estancado". Em 2005, o venezuelano decidiu ir para a Espanha em busca de conhecimentos para alcançar suas metas pessoais.

Assim como Jonathan, Pablo José Cruz Otero, nascido em Caracas em 1965, filho de espanhóis emigrados de classe média alta, também foi viver no país ibérico. Pablo saiu da Venezuela em 1992, antes do governo de Chávez, mas deixou ali seus pais. "Depois de fazerem a vida na América, meus pais sofreram com a insegurança nas ruas e as incertezas de como seria o dia de amanhã. Por isso, aos 60 anos, voltaram para Espanha sem nem querer ouvir falar num possível retorno a Venezuela", conta Pablo.

Anhell Alvarez, venezuelano nascido em 1964 saiu de sua terra natal com destino a Espanha em 1995 e faz questão de deixar claro que não saiu de lá por Chávez. "Meu país sempre foi desorganizado, sem os serviços públicos básicos. Saí de lá para me respeitar como cidadão e trabalhador", afirma.

Apesar disso, ele acredita que seu país piorou nos últimos anos. "Hoje, sou parte do mundo que está em crise, mas acredito que minha realidade seria triste se eu tivesse ficado na Venezuela . Meus amigos e familiares que continuam lá estão submetidos ao chavismo e à idolatria a Hugo Chávez, que hoje é quase uma doença. O produto disso, pra mim, é a desesperança e submissão ao modo de pensar dele", completa.

O venezuelano Anhell Alvarez quer continuar bem longe do chavismo
O venezuelano Anhell Alvarez quer continuar bem longe do chavismo
Foto: Erica Chaves / Especial

Jonathan conquistou a independência financeira que desejava, trabalhando na área de tecnologia, ao contrário de seus amigos que ficaram. Estão todos na economia informal e ainda morando com os pais num país, agora sem aquele que foi seu líder por mais de uma década.

Para Pablo, a morte de Chávez talvez venha a debilitar o chavismo, mas as mudanças positivas dependerão da ação dos venezuelanos. "O povo tem que entender que todos fazem parte de um mesmo país e que seu presidente deve governá-lo para todos".

Jonathan teme os políticos chavistas que, em nome do ex-líder, podem ganhar novas eleições e continuar no poder. Para Anhell, a atual situação também é negativa: "Não gostei de vê-lo morrer sem ter sido preso por seus delitos. Ele morreu como um grande herói e, na verdade, tenho medo de um chavismo sem Chávez, um chavismo que o qualifica como 'filho de Bolívar', 'novo pai da pátria', 'o militar mais nobre', 'o único venezuelano que o mundo inteiro chorou'".

Fonte: Especial para Terra
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