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Análise: Brasil teve papel moderador no governo Chávez

7 mar 2013 - 13h10
(atualizado às 13h51)
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O ex-presidente Lula defendeu as ações de Chávez para a integração regional
O ex-presidente Lula defendeu as ações de Chávez para a integração regional
Foto: AFP

Desde que Hugo Chávez chegou ao poder na Venezuela, o Brasil exerceu um papel de "moderador" de sua explosiva personalidade e também soube atenuar diversos conflitos, principalmente pela "mão diplomática" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um de seus melhores conselheiros e amigos.

Chávez, que sempre admitiu a influência que Lula tinha gerado "em sua vida", costumava a situá-lo entre os grandes líderes latino-americanos e, em uma conversa com à agência EFE em Manaus há nove anos, confessou que pouco sabia sobre o político brasileiro até o mesmo ser mencionado por Fidel Castro.

Nesta ocasião - em 1994, nove meses após ter deixado a prisão onde ficou após sua tentativa golpista de 1992 -, Chávez visitou Castro pela primeira vez em Havana e este lhe recomendou: "Se você quer fazer política, siga Lula. Esse é o homem".

Na mesma entrevista, o presidente venezuelano também ressaltou que conheceu Lula somente em 1996, em San Salvador, durante um encontro do "Foro de São Paulo"(FSP), grupo que agrupa partidos de esquerda da América Latina e ao que o Movimento Bolivariano começava a se aproximar.

Multidão presta homenagens para Chávez em cortejo fúnebre:

"Conversamos poucos minutos, mas Fidel tinha razão. Lula era o homem", apontou Chávez, que dois anos depois do primeiro encontro com Lula se transformou no presidente da Venezuela.

Durante seu primeiro mandato no governo venezuelano, Chávez fortaleceu suas relações com o Brasil, que na época era presidido por Fernando Henrique Cardoso, de quem revelou que foi o primeiro líder latino-americano que tentou aproximá-lo com o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush.

"FHC quis, mas era impossível", disse posteriormente Chávez, que passou a se aproximar ainda mais do Brasil a partir de janeiro de 2003, quando Lula assumiu a Presidência.

A Venezuela atravessava nesse mesmo momento de grande agitação social em meio a uma "greve petroleira", convocada pela oposição que tinha praticamente paralisado o país. Neste contexto, a primeira decisão de Lula em relação à política externa foi propor a criação de um "Grupo de Países Amigos" para intermediar as discussões entre Chávez e seus adversários.

O grupo em questão era integrado pelo Brasil, México, Chile, Espanha, Portugal e, até mesmo, Estados Unidos, país que Chávez aceitou de má vontade e aconselhado por Lula, que, por sua vez, lhe dizia que o órgão não podia contar só com "amigos".

A atuação diplomática desses países, auxiliados pela OEA, foi fundamental para a realização do referendo "revogatório" que a oposição venezuelana conseguiu convocar para agosto de 2004, quando Chávez foi ratificado em seu cargo por 58% dos venezuelanos.

"Que ninguém semeie dúvidas agora sobre esse processo e sobre a legitimidade de Chávez", declarou Lula após o referendo.

Além do plano interno, o Brasil de Lula foi um constante "bombeiro" nas incendiárias relações de Chávez com a região, especialmente nos recorrentes conflitos com a Colômbia e o próprio Estados Unidos.

De acordo com analistas latino-americanos, esse papel do Brasil foi um dos fatores que levou a Lula a propor e impulsionar a criação da União de Nações Sul-americanas (Unasul), que, além de promover a integração, serviria para "conter" o líder bolivariano e sua crescente influência regional.

Apesar da rejeição de muitos setores internos, Lula também foi um fervente defensor do ingresso da Venezuela ao Mercosul, concretizado no último ano. Na opinião de muitos observadores políticos, um dos motivos dessa medida também era tentar manter Chávez sob "certo controle".

No entanto, essa intenção era mantida em segredo, como confirmava o ministro das Relações Exteriores de Lula, Celso Amorim, que mais de uma vez especificou que "era a Venezuela que iria entrar no Mercosul, não o Mercosul na Venezuela".

Na América Latina também se debatiam os diferentes "modelos" propostos por Lula e Chávez, um marcado pelo pragmatismo e o outro pela beligerante ruptura.

Essa discussão ganhou corpo, inclusive, em processos eleitorais, como o que levou o nacionalista Ollanta Humala ao poder no Peru em 2011. Na época, Humala se viu quase que forçado a se definir entre um ou outro, se identificando claramente com o líder brasileiro.

As diferenças entre ambos os políticos até foram citadas em outros debates, centrados na forma como eles lidaram quando souberam que estavam com câncer.

Lula, desde que foi detectado com um tumor na laringe, decidiu que tudo deveria ser tratado com transparência absoluta e que os médicos teriam que enviar comunicados oficiais e precisos.

No caso de Chávez, a doença foi marcada pela incerteza, pela desconfiança e pela falta de informações precisas e, por isso, acabaram gerando diferentes conjunturas até o momento de sua morte na última terça-feira em Caracas.

EFE   
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