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América Latina

Milei sofre nova derrota no Senado enquanto busca ajuda financeira dos EUA

Universitários, médicos pediatras e ampla maioria de senadores conseguem anular outros dois vetos presidenciais, somando agora três derrotas ao governo do presidente Javier Milei que, sem controle do Congresso e diante de novas turbulências financeiras, procura acelerar um prometido -mas ainda não fechado- socorro financeiro dos Estados Unidos.

3 out 2025 - 08h02
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Universitários, médicos pediatras e ampla maioria de senadores conseguem anular outros dois vetos presidenciais, somando agora três derrotas ao governo do presidente Javier Milei que, sem controle do Congresso e diante de novas turbulências financeiras, procura acelerar um prometido -mas ainda não fechado- socorro financeiro dos Estados Unidos.

Uma mulher segura um cartaz com os dizeres “Não ao veto” enquanto pessoas protestam do lado de fora do Congresso Nacional e senadores debatem dentro do prédio os vetos do presidente Javier Milei à lei de financiamento universitário e à lei de emergência para hospitais pediátricos, alegando esforços para controlar os gastos públicos, em Buenos Aires, Argentina, na manhã de 2 de outubro de 2025.
Uma mulher segura um cartaz com os dizeres “Não ao veto” enquanto pessoas protestam do lado de fora do Congresso Nacional e senadores debatem dentro do prédio os vetos do presidente Javier Milei à lei de financiamento universitário e à lei de emergência para hospitais pediátricos, alegando esforços para controlar os gastos públicos, em Buenos Aires, Argentina, na manhã de 2 de outubro de 2025.
Foto: REUTERS - Francisco Loureiro / RFI

Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires

Com ampla folga de votos, o Senado argentino anulou nesta quinta-feira (2) outros dois vetos do presidente Javier Milei referidos às leis de Emergência Pediátrica e de Financiamento Universitário, somando à anulação, em 4 de setembro, do veto presidencial à Lei de Emergência aos Portadores de Deficiência, primeira anulação de um veto após 22 anos.

Eram necessários dois terços do Senado (48 votos), mas a oposição somou 58 votos a favor da anulação, sete contra e quatro abstenções no caso do Financiamento Universitário. Quanto à anulação do veto à Emergência Pediátrica, foram 59 votos afirmativos, sete negativos e três abstenções.

"Essas rejeições, tanto nas ruas quanto no Congresso, são golpes ao plano de ajuste de um governo que não aceita estar errado, mesmo vendo que a maioria da população está contra as suas políticas", disse à RFI o manifestante Sergio Coelho, em frente ao Parlamento argentino.

Milhares de manifestantes celebraram a derrubada dos vetos do presidente às leis de financiamento universitário e de emergência pediátrica que concedem aquilo que Milei não quer dar: aumentos salariais e mais dinheiro para a Educação superior e para os hospitais pediátricos, especialmente ao Garrahan, referência no país de atendimento infantil e orgulho dos argentinos.

Impacto no equilíbrio fiscal

Assim, o presidente Milei sofreu outra dura derrota, desta vez dupla, quando a oposição conseguiu insistir com as duas leis que, segundo o governo, põem em perigo o equilíbrio fiscal, núcleo do plano econômico, baseado no ajuste do setor público em 5% do Produto Interno Bruto.

Do lado de fora do Congresso, manifestantes pressionavam por esse resultado. Eram movimentos estudantis, sindicatos, pessoal da área de Saúde, setores políticos, grupos de direitos humanos e organizações sociais.

A convocação original era para pressionar a favor dos universitários e dos médicos, mas tornou-se um manifesto contra o governo Milei que, dentro de três semanas, deverá enfrentar eleições legislativas nacionais cujo resultado, em caso de derrota, pode afetar a governabilidade.

"Acredito que estejamos num ponto de cansaço social no qual a população e também os políticos percebem que a promessa de que estaríamos melhor com as políticas de Milei era mentira. Este é um governo que deixa as pessoas famintas. Sem dinheiro, fazem escambo em troca de comida. As pessoas cada vez mais pedem dinheiro pelas ruas, cada vez aguentam menos", critica Sergio Coelho.

Desde abril, o país não cresce, está a ponto de entrar em recessão e o poder de compra dos argentinos encolhe. Os salários dos professores universitários, por exemplo, perderam 40,8% do poder aquisitivo desde que Milei chegou ao poder em dezembro de 2023.

Se a microeconomia padece, as variáveis macroeconômicas dão sinais de esgotamento com elevada taxa de juros, disparada da taxa de risco-país, queda acelerada das reservas internacionais do Banco Central e uma corrida cambial contra o peso argentino.

"Milei esquece que atrás dos números macroeconômicos existe um povo. É deprimente que uma pessoa com pouca capacidade de governo, com tão pouco critério social, mas com muita violência verbal esteja conduzindo um país", lamenta à RFI a psicóloga Fernanda Abalde, de 43 anos, empunhando um cartaz "Não Ao Veto".

"Este é um governo sem empatia com as crianças, com os aposentados, com os estudantes, com as pessoas com deficiências e com todos os segmentos sociais empobrecidos", acusa Fernanda.

"Não tenho dúvidas de que o governo quer desmantelar as universidades e os hospitais. Todas as medidas que Milei toma visam diminuir a presença do Estado", acusa a professora de escola primária Amancay Rodríguez, de 50 anos.

Soma de derrotas

Em 7 de setembro passado, o governo Milei sofreu uma dura derrota eleitoral por 13,6 pontos de diferença com a oposição na província de Buenos Aires, responsável por quase 40% dos eleitores.

Leila Catrón, de 34 anos, licenciada em psicomotricidade, ergue um cartaz no qual se lê "Propina de 3% para Karina". Outra razão pela queda na popularidade de Milei é uma denúncia de corrupção através da qual todas as compras públicas de medicamentos para pessoas com deficiência pagavam um sobrepreço de 8%, dos quais 3% ficariam para Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Presidência.

"Não há dinheiro para as pessoas com deficiência nem para o pessoal da Saúde que atende as pessoas com deficiência, mas para a propina, sim", indigna-se Leila, explicando à RFI que estudou na universidade pública e que hoje atende crianças diagnosticadas no hospital Garrahan.

As leis de financiamento universitário e de emergência pediátrica obrigam ao Poder Executivo a uma recomposição salarial imediata e a atualizar automaticamente por inflação os salários e os gastos com o funcionamento das instituições.

Na visão dos agentes de mercado, a derrota legislativa por um lado atinge o plano econômico ao ameaçar o equilíbrio fiscal; por outro, demonstra que o governo perdeu o controle do Congresso. A derrota legislativa soma-se à derrota no principal colégio eleitoral do país num possível prenúncio do que pode ocorrer nas eleições legislativas nacionais de 26 de outubro.

O cenário promove uma corrida cambial contra o peso argentino. Sem poder frear a corrida cambial com as escassas reservas do Banco Central, o governo recorreu, em 23 de setembro, a um socorro financeiro do presidente norte-americano Donald Trump, aliado ideológico de Milei.

À espera do socorro

Trump prometeu "ajudar no que for necessário" para salvar o amigo argentino. No entanto, dez dias depois, a ajuda ainda não foi oficializada. Fora algumas publicações vagas pelas redes sociais por parte do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, não se tem certeza nem do montante, nem do formato da ajuda, nem se estaria condicionada a um resultado eleitoral favorável ao governo.

Bessent tinha indicado, na semana passada, que o Tesouro norte-americano negociaria uma linha de "swap" (troca de moedas) de US$ 20 bilhões de dólares com o Banco Central da Argentina e que também compraria dívida argentina nova ou velha. "Estamos prontos para comprar títulos argentinos em dólares", acrescentou.

No entanto, em declarações posteriores à imprensa, Scott Bessent limitou o alcance da ajuda.

"Estamos dando à Argentina uma linha de 'swap'; não estamos pondo dinheiro na Argentina", diferenciou, omitindo os demais instrumentos apontados na semana passada como um crédito e a compra de títulos argentinos.

Uma semana depois da promessa de ajuda de Trump, os mercados voltaram às turbulências financeiras em relação à Argentina. Scott Bessent, então, confirmou que o ministro da Economia da Argentina, Luis Caputo, viajará a Washington para "avançar significativamente com as negociações sobre as opções para conceder ajuda financeira".

"O Tesouro dos Estados Unidos está totalmente preparado para fazer o que for necessário", reafirmou Bessent.

O Ministério da Economia da Argentina anunciou que Luis Caputo partirá nesta sexta-feira (3). Dois dias antes, a chancelaria argentina tinha anunciado que o presidente Javier Milei será recebido na Casa Branca por Donald Trump no próximo dia 14 de outubro - apenas 12 dias antes das eleições.

Nos Estados Unidos, em pleno "shutdown", o socorro financeiro à Argentina sofre duras críticas da oposição democrata, de setores que sofrem cortes no orçamento público e de produtores agrícolas, já que os Estados Unidos ajudam um concorrente nas exportações à China.

RFI A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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