PUBLICIDADE

América Latina

Kirchnerismo busca se reinventar com Scioli e enfrenta uma oposição dividida

22 out 2015 - 20h50
Compartilhar
Exibir comentários

Após 12 anos no poder, o kirchnerismo concentrou suas apostas no governador da província de Buenos Aires, Daniel Scioli, confiando em sua capacidade de reinventar o grupo político e vencer as eleições de domingo na Argentina, enquanto a oposição, dividida, pretende enterrar o "atual modelo" com novas coalizões.

As tentativas da presidente do país, Cristina Kirchner, de tentar impor algum de seus colaboradores mais fiéis como candidato a sucedê-la se chocaram contra as pesquisas.

Há seis meses, elas mostravam a preferência do eleitorado por Scioli à frente de outras referências do kirchnerismo e agora, na reta final da campanha, refletem que ele se mantém como favorito, com uma margem de 37% a 39% das intenções de voto.

Cristina teve que se contentar a escolher o companheiro de chapa de Scioli, o atual secretário legal e técnico da presidência, Carlos Zanninni, considerado um dos homens mais próximos da líder argentina. Mas nem sequer sua presença em um futuro gabinete garante a continuidade do projeto político iniciado em 2003 pelo ex-presidente Néstor Kirchner, morto em 2010.

Se a Frente para Vitória (FpV) se mantiver no poder, o kirchnerismo ganhará uma sobrevida, mas o novo presidente deve "dinamitá-lo internamente", opinou Jorge Arias, da empresa de consultoria Politat.

A nova construção política, como é habitual no peronismo, busca ganhar força, e Scioli conta, por enquanto, com apoio de importantes governadores, como Sergio Urribarri (Entre Ríos), Juan Manuel Urtubey (Salta) e Maurice Closs (Misiones), a quem ofereceu ministérios caso chegue à Casa Rosada.

Os analistas não descartam que, se esse cenário se concretizar, o kirchnerismo fique excluído do novo governo. E até mesmo pode enfrentar o até então aliado nas eleições legislativas de 2017, para lutar para manter a liderança do peronismo.

Essa ambição é compartilhada pelo peronista dissidente Sergio Massa, líder da coalizão Unidos por uma Nova Alternativa, terceiro colocados nas pesquisas de intenções de voto, com 20% a 23%, atrás e outro representante da oposição, o conservador Mauricio Macri, do Mudemos, que tem 30% da preferência do eleitorado.

Segundo o diretor da consultoria Diagnóstico Político, Patrício Giusto, uma vitória de Macri daria a oportunidade de Massa "tentar se consolidar como novo líder do peronismo". A hipótese também não seria fácil de ocorrer porque o kirchnerismo também vai buscar se alinhar em torno da presidente.

"O peronismo é um partido que se divide nas eleições, mas se reconstrói quando chega ao poder", sustentou Giusto.

As declarações do especialista lembram uma das muitas frases atribuídas ao ex-presidente Juan Domingo Perón (1895-1974): "Os peronistas são como gatos: quando parece que nós estamos brigando é que nós estamos nos reproduzindo".

Pela primeira vez, o peronismo não enfrentará nas urnas seu tradicional rival, a União Cívica Radical, que se aliou a Macri e faz parte da aliança Mudemos.

"O radicalismo é uma estrutura vazia de dirigentes, de conteúdo e de militância", afirma Giusto, que vê o partido uma "clara tendência de declínio", ao contrário do grupo criado por Macri para vencer as eleições à Prefeitura de Buenos Aires, a Proposta Republicana (Pro).

O governo classificou o Pro como "partido vizinho", já que seu poder se limita até agora à capital argentina. No entanto, as primárias realizadas no último dia 9 de agosto refletiram que o poder da coalizão começou a se expandir fora da província de Buenos Aires, o maior distrito eleitoral do país, com mais um terço do eleitorado nacional.

"Não se deve subestimá-lo. Eles têm quebrado a lógica bipartidária de peronistas e radicais pela primeira vez em 30 anos", destacou o diretor da Diagnóstico Político.

Quase todos os analistas concordam que as próximas eleições serão um ponto de inflexão para o rumo dos principais partidos políticos da Argentina.

Praticamente sem chances estão as coligações de esquerda, como a Aliança Progressista, liderada pela socialista Margarita Stolbizer, e a Frente de Esquerda, que apresenta o jovem Nicolás del Caño, mas que conta apenas com 2% das intenções de voto.

"Nesse processo político, a Argentina está navegando com multidões de lanchas reunidas em um oceano imenso, mas não há nenhum transatlântico que seja um continente medianamente razoável para a navegação do próximo período constitucional. Esse barco vai ser construído nos próximos anos", concluiu Arias.

EFE   
Compartilhar
Publicidade
Publicidade