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América Latina

Equador: programas sociais e oposição fraca garantem liderança de Correa

Analistas políticos equatorianos avaliam que a oposição não conseguiu emplacar um discurso combativo contra o atual presidente

16 fev 2013 - 10h18
(atualizado às 10h19)
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<p>Em uma das últimas pesquisas divulgadas, Correa aparecia com 56% das intenções de voto</p>
Em uma das últimas pesquisas divulgadas, Correa aparecia com 56% das intenções de voto
Foto: Divulgação

O presidente do Equador, Rafael Correa, é franco favorito para vencer as eleições deste domingo e conquistar seu segundo mandato. Além disso, ele é o líder americano de maior popularidade – pesquisa do ano passado revela que 80% dos equatorianos aprovam o mandatário. Mas quais são os fatores que transformaram Correa em um líder com tanta força política? Analistas equatorianos ouvidos pelo Terra apontam como principais motivos para o sucesso político do presidente os pesados investimentos em programas sociais e a debilidade da oposição.

Quando Correa assumiu a presidência em 2007, "iniciou um novo ciclo histórico" no país na opinião do doutor em história e professor da Pontifícia Universidade Católica do Equador (Puce), Juan José Paz y Miño Cepeda. O governo socialista de Rafael Correa, sustenta o professor, criou um novo modelo econômico (economia social e solidária, segundo a Constituição de 2008), "re-institucionalizou o Estado, definiu o poder político a favor de amplos setores populares e trabalhadores". "Graças às políticas sociais do governo do presidente Correa, se conseguiu uma melhoria social indiscutível", afirma.

<p>Além da liderança nas pesquisas, Correa é o presidente americano com a maior popularidade: 80%</p>
Além da liderança nas pesquisas, Correa é o presidente americano com a maior popularidade: 80%
Foto: Divulgação

A opinião é compartilhada com o professor da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO) Mauro Cerbino, para quem Correa promoveu mudanças sociais e econômicas que deram estabilidade ao país. No entanto, ele aponta outro motivo que contribui para o sucesso do governo atual. "Os candidatos da oposição não conseguiram elaborar um discurso de campanha coerente e atrativo. Isso faz com que as pessoas que não querem votar em Correa não encontrem alternativas e, provavelmente, acabem votando nulo ou em branco", afirma Cerbino.

Paz y Miño aponta "múltiplos fatores" para a consagração do estilo Rafael Correa de governar. "Na frente de todos, está o fato de que o presidente Correa tem sido um líder e condutor coerente e decidido de um projeto que conseguiu fortalecer a institucionalidade, a obra pública do Estado, o investimento social, uma série de reformas administrativas e uma importante atenção ao sistema de educação", diz. De acordo com ele, essas conquistas são “visíveis” e, por isso, dificilmente o discurso opositor convencerá os eleitores.

Os candidatos de oposição sustentam que não há democracia no país e que "tudo está mal", mas, segundo Paz y Miño, se esse discurso fosse factível, "os resultados previsíveis das eleições seriam diferentes". Mauro Cerbino faz coro: para ele, apesar do estilo agressivo de Correa, seus adversários são piores. Ele critica o vínculo do principal opositor, o empresário Guillermo Lasso, com o setor bancário e condena o "modo de fazer campanha" do ex-presidente Lucio Gutiérrez, terceiro nas pesquisas, a quem acusa de fazer "clientelismo".

Lasso, que aparece em algumas pesquisas com mais de 20% das intenções de voto, é o único que pode ameaçar Correa e levar a decisão para o segundo turno. No entanto, na avaliação dos analistas, o discurso de campanha não deve cativar os equatorianos porque ele defende, entre outras coisas, "o velho modelo empresarial". "O candidato Guillermo Lasso é quem melhor encarna esse desejo (de voltar ao modelo dos anos 90) porque atende aos interesses tradicionais dos grandes empresários e dos políticos de direita. Nessa conjuntura, uma população bem informada, como ocorre hoje, e mais intuitiva em sua visão política, não deve ser atraída pelas propostas de retorno ao modelo empresarial e neoliberal, ainda que este seja apresentado com outra linguagem e encoberto como uma saída do atual modelo econômico", avalia Juan José Paz y Miño Cepeda.

Correa já entrou para a história do Equador como o primeiro presidente eleito a completar um mandato. Os seus três antecessores escolhidos pelo voto direto saíram do Palácio de Carondelet pela porta dos fundos: após protestos nas ruas, Abdalá Bucaram (1996-1997) foi destituído pelo Congresso com o argumento de “incapacidade mental”, mesmo sem exame médico que comprovasse tal situação; Jamil Mahuad (1998-2000) foi expulso do governo por uma aliança de indígenas e militares; e Lucio Gutiérrez (2003-2005) foi retirado do poder pela Forças Armadas após uma série de protestos populares contra sua administração.

"Durante todo o ciclo (de 1976 a 2006), se construiu no Equador uma economia empresarial e um 'Estado de partidos', dominado pela 'classe política'. Essa confluência, 'des-institucionalizou' o Estado e derrubou as condições de vida e trabalho da população. É lógico que as reações sociais progressivamente se acumularam e estalaram na última década", afirma o historiador Paz y Miño.

Fonte: Terra
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