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Mundo

Venezuela: governo quer responsabilizar oposição por onda de violência

16 abr 2013 - 15h19
(atualizado às 16h03)
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O presidente da Assembleia Nacional venezuelana, o chavista Diosdado Cabello, disse que pedirá nesta terça-feira uma investigação formal para responsabilizar o opositor Henrique Capriles pela violência que deixou pelo menos sete pessoas mortas durante manifestações convocadas pela oposição.

Vários incidentes foram registrados durante os protestos organizados por Capriles, que se recusa a aceitar a definição das eleições do último domingo.

Membros do Partido Socialista Unido Venezuelano (PSUV), ligado ao presidente eleito Nicolás Maduro, sofreram ataques e intimidações em suas casas, inclusive a presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Tibisay Lucena, que oficializou os resultados eleitorais.

Um membro do PSUV foi morto a tiros no estado de Táchira, e houve mortes também nos Estados de Zulia e Baruta, que o governo está investigando para estabelecer se têm ou não relação com a violência da noite de protestos.

Em diversas partes do país, grupos opositores atacaram os Centros de Diagnóstico Integral (CDI) das chamadas missões do governo, por sua associação com os médicos cubanos que trabalham nos programas sociais chavistas.

Na capital Caracas, as sedes das emissoras oficiais Venezolana de Televisión (TVT) e Telesur foram cercadas e os jornalistas disseram ter sofrido intimidações.

Mesmo em zonas onde o protesto ocorreu com menos incidente, como na zona de Altamira, na capital, grupos de motociclistas pilotavam motos agressivamente. Bloqueando as ruas, pôsteres de Maduro eram queimados no asfalto.

Nas ruas ou das janelas de suas casas, antichavistas participavam de um panelaço que se estendeu por cerca de duas horas. 

"Solicitaremos ante à Assembleia Nacional que se dê início a uma averiguação penal contra Capriles pela violência gerada no país", expressou Cabello, em sua conta no Twitter. "Fascismo puro, atacaram e destruíram CDI (centros médicos dos programas sociais de Chávez), perseguem os médicos, queimam casas", disse.

"Você gerou tudo isto, Capriles irresponsável. Fascista, me encarregarei pessoalmente de que pague por todo o dano que está causando à nossa pátria e ao nosso povo."

Retórica do conflito

Na noite da segunda-feira, em seu primeira entrevista coletiva como presidente eleito, Nicolás Maduro, responsabilizou Capriles e outro líder de seu partido (Primero Justicia), Leopoldo López, pela violência, chamando-os de "braço da direita imperial".

Ele convocou seus partidários a sair às ruas nesta terça-feira em defesa dos resultados eleitorais, mesmo dia em que a oposição também promete colocar seus apoiadores nas ruas.

A queda de braço por meio dos protestos também poderia se repetir na quarta-feira, data para a qual Capriles convocou uma marcha "de grandes dimensões" até a sede do CNE, em Caracas.

"Continuo pedindo a paz, e convoco o povo ao combate em paz, a mobilizar-se amanhã (terça-feira) em todo o país, e na quarta, e na sexta (data da posse), todos em Caracas. Basta de abusos", disse o presidente eleito.

Povo protesta nas ruas de Caracas contra eleição de Maduro:

"Se querem pensar de forma distinta, pensem, mas vamos trabalhar pela educação dos nossos filhos. Quero trabalhar pela saúde, a educação, a infância, os programas de saúde."

Também na noite da segunda-feira, o líder da oposição, Henrique Capriles, deu uma entrevista a jornalistas na qual culpou o que chamou de intransigência do governo pela "raiva" expressada nos protestos e pediu paz a seus partidários.

"Quero pedir a todos os venezuelanos, pensem como pensem", disse Capriles, "vocês me deram a confiança e eu peço que me mantenham a confiança em enfrentar essa crise política na qual se encontra noss país".

"Isso requer ser responsáveis, ter um compromisso e não estar caindo em provocações nem deixar-nos levar. Por mais que sintamos raiva, esse é o momento da razão."

Ele disse que trazia uma mensagem de "paz e tranquilidade" e culpou a recusa do governo em recontar os votos pelos incidentes.

"Ontem (domingo) nós saímos a votar contra a violência, que é a violência que existe nas ruas da Venezuela. Nunca poderemos nos colocar do lado da violência", afirmou o opositor. "Quero dizer à reitora do CNE (Lucena): é você quem precisa respeitar o povo. O povo que votou ontem tem direito a que o seu voto seja verificado, seja contado."

Reações internacionais

Segundo os últimos números do CNE, com 99,34% dos votos contados, Maduro havia obtido 7,57 milhões de votos (50,78%) contra 7,3 milhões de Capriles (48,95%), uma diferença de 1,83 ponto percentual ou 272 mil votos.

Entretanto, o deputado e um dos líderes do partido de Capriles (Primero Justicia), Julio Borges, disse que nas suas contagens seu candidato saiu "ligeiramente à frente" de Maduro.

Ele defendeu "um processo não somente de contar todos os votos, mas também de impugnar aqueles nos quais nós achamos que os resultados saíram mal", disse.

Nesta terça-feira, a União Europeia disse que "tomou nota" das eleições venezuelanas, mas ressaltou a importância de que "o resultado seja aceito por todas as partes".

Segundo a agência EFE, a porta-voz do Exterior do bloco, Maja Kocijancic, não quis entrar em detalhes sobre a posição europeia em relação às eleições venezuelanas. Kocijancic disse que o bloco ainda divulgará um comunicado final sobre o tema.

Espanha, França e Reino Unido têm sido mais relutantes em relação ao processo eleitoral, a Espanha em particular demonstrando sua insatisfação.

Mas, adiantou a porta-voz europeia, "se o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) decidir fazer uma recontagem, confiamos em que se faça rápidamente e com total transparência, principalmente tendo em vista a margem (de vitória) extremamente estreita".

Os Estados Unidos e a Organização dos Estados Americanos (OEA) apoiaram a ideia de uma recontagem - que os EUA chamaram de "prudente e necessária". A chefe do órgão eleitoral, Tibisay Lucena, rejeitou as declarações, que qualificou de "ingerência".

Outros países do mundo já felicitaram Maduro pela sua vitória, inclusive o Brasil, que subscreveu o comunicado das 12 nações da Unasul, o bloco sul-americano.

Ainda nesta terça-feira, em entrevista à Televen, a presidente do Conselho Legislativo do estado de Miranda, Aurora Morales, deu 24 horas para que Capriles assuma o governo estadual, para o qual foi eleito em dezembro.

Morales disse que Capriles está demonstrando um "problema de atitude frente às instituições do país", por não ter questionado a margem de votos de quatro pontos pela qual bateu o candidato chavista, Elias Jaua.

"São quase 300 mil votos (de diferença de Maduro para Capriles)", disse. "É uma atitude negligente, indolente. O que quer é fazer baderna."

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