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América Latina

Eleição pode marcar volta dos colorados ao poder no Paraguai

19 abr 2013 - 13h30
(atualizado às 13h36)
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Quase um ano após impeachment de Fenrndao Lugo, paraguaios vão às urnas em pleito que deve devolver poder a partido que ficou no governo por seis décadas. Em meio a impasse com o Mercosul, vizinhos acompanham votação com atenção.

<p>Fernando Lugo foi destituído por acusações de má gestão</p>
Fernando Lugo foi destituído por acusações de má gestão
Foto: Reuters

O Partido Colorado governou o Paraguai por 61 anos - de 1954 a 1989 -, apoiando o ditador Alfredo Stroessner. A sequência só foi quebrada em 2008, quando o ex-bispo Fernando Lugo chegou ao poder.

Sua eleição prenunciava uma reviravolta num país minado pela pobreza. Ele prometeu política social, educação e reforma agrária, mas quase nada foi tornado realidade. No ano passado, Lugo tropeçou em um massacre de sem-terras que ocupavam uma fazenda. Após um tiroteio que matou 18 pessoas, o Parlamento o acusou de má gestão e o destituiu do cargo, num processo de impeachment-relâmpago contemplado na Constituição, porém sumário.

A medida abriu as portas para o retorno do Partido Colorado ao poder - o que pode se concretizar nas eleições deste domingo. Seu candidato, o milionário da indústria do tabaco Horacio Cartes, é tido como favorito à Presidência.

<p>Efrain Alegre, candidato do Partido Liberal, lembra processo sobre evasão de divisas, em 1985</p>
Efrain Alegre, candidato do Partido Liberal, lembra processo sobre evasão de divisas, em 1985
Foto: Paraguay Alegre / Divulgação

Pesquisas mostram desde um empate técnico até uma larga vantagem para Cartes. Uma das sondagens, do instituto Grau e Associados, chega a colocá-lo quase 11 pontos percentuais à frente do representante da situação Efraín Alegre, do Partido Liberal.Ambos lançam mão de munição pesada na campanha, fazendo-se mutuamente graves acusações. Cartes acusa Alegre de ter desviado US$ 25 milhões em sua gestão como ministro das Obras Públicas do governo Lugo. Alegre, por sua vez, lembra que Cartes foi indiciado em 1985, denunciado por uma milionária evasão de divisas, embora o processo tenha sido arquivado. 

<p>Candidato do Partido Colorado à Presidência do Paraguai, Horacio Cartes aparece à frente nas pesquisas</p>
Candidato do Partido Colorado à Presidência do Paraguai, Horacio Cartes aparece à frente nas pesquisas
Foto: Jorge Adorno / Reuters

Mais graves são as acusações que não vêm apenas de adversários internos de Cartes. O empresário conservador e tradicionalista seria "a personificação do contrabando, da máfia e da pirataria", segundo Alegre. O presidente do Uruguai, José Mujica, foi explícito ao dizer que por trás da destituição de Lugo da Presidência estava o 'narcocoloradismo', uma referência à suposta aliança entre o Partido Colorado e traficantes. 

Um país nas mãos dos ricos

Independente de quem ganhe a corrida à Presidência, a maioria dos paraguaios não espera grandes mudanças. Mesmo na atual gestão, dos liberais, as medidas de âmbito social implementadas por Lugo foram suspensas, e o tom do governo com relação aos indígenas e aos movimentos sociais não é dos mais simpáticos.

Quase ninguém se interessa pelo fato de apenas 2% da população deterem mais de 80% do solo fértil e mais de dois milhões de pessoas viverem abaixo da linha da pobreza. Na opinião de muitos paraguaios, os fazendeiros e pecuaristas do país já fazem o que querem, de qualquer maneira.

Paraguai se prepara para eleições presidenciais:

Para piorar a situação, o Paraguai ficou em grande parte isolado internacionalmente após a deposição de Lugo. A Unasul e Mercosul suspenderam o pequeno país como membro, o que afeta sensivelmente o comércio com os países vizinhos e, por consequência, a economia local. Um retorno às duas entidades após as eleições é possível, mas não uma certeza.

Compra de votos

Por isso, as eleições despertam interesse. Somente do exterior, cerca de 300 observadores eleitorais estarão fiscalizando o pleito. Eles terão muito o que fazer, já que compras de votos e tentativas de influenciar eleitores não são raras no Paraguai.

"Quem alega que não compra votos está mentindo. Todo mundo que deseja fazer carreira política precisa de muito apoio. Há uma forte concorrência entre quem consegue comprar mais", reconhece Dany Durand, candidato a deputado pelo Partido Colorado. O ex-ministro do Interior Rafael Filizzola acrescenta, ainda, já quase resignado: "Se alguém vende o seu voto, não temos como controlar. E também não podemos ver se alguém é subornado num local de votação."

Outros métodos populares são aqueles em que os partidos levam os eleitores até a zona eleitoral e também o "aluguel" de carteiras de identidade. "É como num leilão. O preço depende do candidato e do momento em que ele está pedindo seu apoio. Nas eleições de 2008, meu irmão ganhou 3,5 milhões de guaranis (cerca de R$ 1,6 mil) vendendo a sua identidade, a de um outro irmão e a da sua esposa morta", conta um morador de Assunção.

Deutsche Welle A Deutsche Welle é a emissora internacional da Alemanha e produz jornalismo independente em 30 idiomas.
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