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Colômbia terá segundo turno entre Duque e Petro

Disputa presidencial colombiana ficará entre dois candidatos com visões distintas, um uribista conservador e outro liberal de esquerda.

27 mai 2018 - 20h14
(atualizado às 20h25)
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O conservador Iván Duque e o liberal de esquerda Gustavo Petro vão se enfrentar no segundo turno das eleições presidenciais colombianas, de acordo com os resultados parciais oficiais do primeiro turno, realizado neste domingo (27/05) no país latino-americano.

Foto: Reuters

Duque, um seguidor político do ex-presidente Álvaro Uribe e concorrendo pelo partido Centro Democrático, conquistou 39,11% dos votos, com 99,03% das urnas apuradas. Liderando há meses as sondagens eleitorais, sua ida ao segundo turno já era dada como certa.

Já Petro, do Movimento Colômbia Humana e ex-prefeito de Bogotá, recebeu 25,09% dos votos, ocupando a segunda vaga na disputa marcada para 17 de junho.

O terceiro colocado, o ex-prefeito de Medellín Sergio Fajardo, da Coalizão Colômbia, de centro, obteve somente 300 mil votos a menos, somando 23,77%. Em quarto lugar ficou Germán Vargas Lleras, do movimento de centro-direita Mejor Vargas Lleras, apoiado por parte do oficialismo, com 7,3%.

O pleito é visto como decisivo para o futuro do país, que em 2016 assinou um acordo de paz histórico com o antigo grupo guerrilheiro Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e agora negocia um pacto com o Exército de Libertação Nacional (ELN).

Entre os temas que vinham preocupando a população às vésperas das eleições estão justamente a inclusão dos ex-combatentes das Farc na sociedade e as negociações de paz com o ELN, além da crise migratória venezuelana, que deixa rastros na Colômbia.

Pela primeira vez na história recente do país, os candidatos não centraram sua campanha eleitoral em formas de derrotar os guerrilheiros rebeldes, como vinha ocorrendo nas últimas décadas antes do acordo. Temas como segurança, educação, saúde e economia ganharam mais destaque.

Eleições tranquilas e com alta participação

Neste domingo, 36 milhões de colombianos foram convocados para escolher seu próximo presidente, que sucederá Juan Manuel Santos. A participação foi a maior em duas décadas, chegando a 53% - em comparação, pouco mais de 40% dos eleitores foram às urnas no primeiro turno de 2014.

Santos, que em 2016 recebeu o Prêmio Nobel da Paz por seus esforços para pacificar o país, se despede do governo no próximo dia 7 de agosto, com uma popularidade abaixo da marca de 20%.

Ao votar durante a manhã, o presidente descreveu as eleições deste ano como "as mais tranquilas da história da Colômbia", que "fecha um ciclo de uma eleição em paz, após o fim de uma longa guerra".

Segundo o Registro Civil Nacional da Colômbia, responsável pelo processo eleitoral, o pleito transcorreu com tranquilidade. O chefe do órgão, Juan Carlos Galindo, informou que ataques cibernéticos tentaram atingir o sistema da entidade, mas garantiu que nenhum deles "prejudicou seu funcionamento".

Após votar em Bogotá, o esquerdista Petro declarou que a garantia de transparência nestas eleições "não é dada hoje pelo Estado, mas pelos cidadãos". Por isso, fez um pedido para que as pessoas gravassem com seus celulares "qualquer tipo de crime e de fraude".

O candidato denunciou dias antes do pleito que estava sendo preparada uma "fraude" contra ele para que não alcançasse a quantidade de votos suficientes para ir ao segundo turno. Segundo ele, as autoridades eleitorais buscam favorecer o ex-vice-presidente Lleras, que nas pesquisas de intenção de voto aparece em quarto lugar.

Duque, por sua vez, aproveitou para fazer campanha ao falar com a imprensa em seu colégio eleitoral neste domingo, reiterando que deseja governar a Colômbia "sem espelho retrovisor, olhando para o futuro do país". "Quero um país de legalidade, de luta frontal contra a corrupção, em que sempre haja segurança em todo o território", afirmou logo após votar.

Recebido por simpatizantes aos gritos de "Duque presidente", o conservador disse se sentir "muito honrado de chegar a estas eleições" como representante de uma geração de colombianos "que quer governar com todos e para todos".

Posições conflitantes

Durante a campanha eleitoral, Duque e Petro apresentaram visões profundamente diferentes sobre o futuro econômico da Colômbia e dos processos de paz, em eleições marcadas pela polarização.

Sobre o tema imigração, a divergência entre os dois candidatos não foi diferente. Duque promete proteger melhor os mais de 2 mil quilômetros de fronteira verde da Colômbia com a Venezuela, apesar de propor a criação de um programa de convalidação de diplomas e vistos de trabalho temporários.

Petro, por sua vez, pleiteia o acolhimento sem burocracias e pretende criar um modelo de abastecimento alimentar para os refugiados venezuelanos. Apesar de ser criticado por sua proximidade com a esquerda da Venezuela, o candidato à presidência pretende denunciar em instâncias internacionais a violação de direitos humanos no país vizinho.

"Na Venezuela impera uma ditadura com consequências devastadoras para a população. O primeiro dever do governo colombiano consiste em ajudar os venezuelanos", declarou, ao jornal El País, o ex-guerrilheiro do Movimento 19 de Abril (M-19), desmobilizado em 1990.

Segundo a agência estatal Migración Colombia, mais de 800 mil refugiados do país vizinho se encontram atualmente em território colombiano. Sobretudo às vésperas das eleições venezuelanas de 20 de maio, o número de cruzamentos de fronteiras cresceu 40%.

Em relação ao acordo de paz com as Farc, Petro defende o pacto e a reintegração dos ex-combatentes à sociedade, além de ser saudado por sua ampla atenção aos setores mais necessitados e por seu entusiasmo em eliminar a desigualdade social. Ele pretende seguir as negociações com o ELN.

Já Duque agrada aos eleitores que desejam modificar o acordo de paz com as Farc, pois é o candidato que mais se mostrou em desacordo com o pacto. Seu objetivo é evitar que os ex-guerrilheiros tenham acesso a cargos eletivos antes de cumprir suas penas. Quanto às negociações com o ELN, sinalizou que preferiria voltar-se para a via militar.

Ex-senador, Duque é visto por alguns como o homem que poderia chegar à presidência para obedecer as instruções do ex-presidente Uribe (2002-2010), que hoje é o líder máximo do Centro Democrático, partido que apesar de se autodenominar de centro, é considerado de direita.

Cristian Rojas, diretor do programa de Ciências Políticas da Universidade de La Sabana, afirma que os pontos estruturais do acordo de paz com as Farc dificilmente poderão ser mudados, ainda que o novo presidente deva tomar a decisão de continuar com a implementação do acordo ou modificá-lo.

Possível guinada à esquerda

A candidatura de Petro faz a esquerda colombiana sonhar com a possibilidade de chegar pela primeira vez à presidência, aspiração que encontra oposição de parte da sociedade que não vê com bons olhos o passado guerrilheiro do político.

Esta é a segunda tentativa de Petro de assumir a presidência. Em 2010, ele se candidatou pelo Polo Democrático Alternativo (PDA) e obteve 1,3 milhão de votos no pleito vencido por Santos.

Se o esquerdista for eleito presidente, analistas temem que ele não consiga formar uma equipe para governar, aludindo à imagem pouco favorável que construiu nos anos em que foi prefeito de Bogotá (2012-2016). Sem maioria no Congresso, Petro não teria força para impulsionar reformas.

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