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Alto nº de indecisos pode causar surpresas em pleito mexicano

19 jun 2012 - 10h16
(atualizado em 25/6/2012 às 15h22)
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Elisa Martins
Direto da Cidade do México

A pouco menos de duas semanas das eleições presidenciais no México, um grupo alheio à competição que se acirra entre os candidatos à Presidência pode causar surpresas na ida às urnas. São os eleitores indecisos, cerca de 20% do eleitorado do país, que ainda não sabem em quem votar e podem fazer a diferença no resultado final do dia 1º de julho. Até agora, mesmo com discrepâncias, as pesquisas de intenções de voto mantêm a liderança do candidato Enrique Peña Nieto, do PRI, na corrida presidencial, apesar dos avanços do esquerdista Andrés Manuel López Obrador, do PRD, à frente da governista Josefina Vázquez Mota, do PAN. Mas as sondagens pouco destacam os pelo menos dez milhões de eleitores ainda indecisos, que anunciam um desfecho difícil de prever nessa campanha.

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Foto: EFE

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No segundo e último debate antes das eleições, realizado no domingo passado, os candidatos apelaram aos indecisos na esperança de conquistar uma folga nas urnas. López Obrador, do PRD, e Gabriel Quadri, do Panal, foram os que mais se dirigiram a essa faixa de eleitores. Analistas concordam que se trata de um grupo importante do eleitorado, e que ainda não se mostrou decidido mesmo após o recente debate presidencial. O certo é que para um início de campanha entediante, agora na reta final novos fatores podem influenciar as escolhas dos eleitores. Entre eles, estão os protestos de estudantes, a radicalização do discurso de López Obrador e as recentes declarações do presidente Calderón, que passou a intervir abertamente (talvez já tarde), a favor da candidata governista Josefina Vázquez Mota.

Para a cientista política da Universidade Nacional Autônoma do México Yolanda Meyenberg, os indecisos podem decidir o segundo lugar, entre López Obrador e Josefina. "Peña Nieto ainda tem uma porcentagem alta a seu favor, que será difícil de ultrapassar. Até porque não se pode garantir que os indecisos são apenas os que ainda não decidiram em quem votar ou se, por não ter um candidato favorito, vão abster-se da escolha de um novo presidente porque nenhuma das opções lhes convence", disse ela ao Terra.

No México, o voto é considerado um dever cidadão obrigatório, mas não existe punição para os eleitores que faltem às urnas. A participação em eleições gerais costuma ficar em torno de 60% do eleitorado. Fatores como o movimento estudantil "Yo soy 132" podem incentivar mais mexicanos a votar, principalmente os jovens, mas só será possível avaliar o ânimo dos eleitores após a apuração na noite do dia 1º de julho.

"O número de indecisos pode ser ainda maior do que se fala. Nas pesquisas, a recusa em responder é muita alta, chega a 60% em algumas e no mínimo 25% em outras", explicou ao Terra Arturo Alvarado, diretor do Centro de Estudos Sociológicos do Colégio de México. "Se os eleitores não respondem, não sabemos qual será seu comportamento nas urnas. O que temos são apenas hipóteses", acrescentou.

Na atual campanha, o número de indecisos é mais alto que o das eleições passadas, em 2006. Nas últimas votações presidenciais, a disputa foi acirrada, com uma clara tendência de apoio aos candidatos então disponíveis. Naquela ocasião, López Obrador, do PRD, perdeu por uma polêmica diferença de 0,56% de votos para o atual presidente Felipe Calderón, do PAN. Desta vez, existe uma grande indecisão entre os eleitores mexicanos.

Para Yolanda, alguns fatores podem esclarecer o contexto. Um deles, segundo ela, é que López Obrador já teve condições de vencer, e o hoje o seu discurso está desgastado. A candidata do PAN, por sua vez, não conseguiu transmitir as conquistas do governo em outras áres por ter direcionado a campanha para a guerra contra o crime organizado, que a sociedade encara como perdida. "Ao mesmo tempo, as pessoas estão receosas sobre a volta do PRI ao governo e não lhes agrada rever no comando esse partido que esteve à frente do país durante 71 anos. Para os indecisos, nenhum candidato convence", explicou a analista.

A briga por esses votos, no entanto, continuará. Na busca por levar os indecisos às urnas, os candidatos provavelmente assumirão um tom mais agressivo na campanha. Os recentes spots de Josefina e Peña Nieto já mostram essa tendência, principalmente de ataque a López Obrador, ignorado pelos candidatos no início da campanha e agora reconhecido como uma ameaça real. As agressões podem influenciar algumas preferências eleitorais, mas ainda é cedo para saber se moveriam toda a grande porcentagem de indecisos. É algo que as próximas pesquisas de intenções de voto poderão dizer.

A reta final da campanha também dirá se os rumores sobre um suposto voto útil de simpatizantes do PAN a favor de López Obrador, do PRD, são certos ou apenas mais boatos. O fato é que se antes os candidatos reclamavam de uma "guerra suja" na briga por votos, agora apostarão todas as suas fichas como último recurso para vencer uma eleição que, ao contrário do início da campanha, perde cada vez mais previsibilidade.

Fonte: Especial para Terra
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