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Acordo Mercosul-UE: Bolsonaro critica 'psicose ambientalista' e diz que 'no momento' Brasil está no Acordo de Paris

Apesar de parceria recém-anunciada entre blocos prever compromisso ambiental de signatários, presidente brasileiro afirma que país 'não tem como cumprir' todas as metas na área.

28 jun 2019 - 23h52
(atualizado em 29/6/2019 às 01h10)
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'O que cada brasileiro bota para fora de gás carbônico, o alemão é quatro vezes mais', afirmou Bolsonaro em cúpula no Japão
'O que cada brasileiro bota para fora de gás carbônico, o alemão é quatro vezes mais', afirmou Bolsonaro em cúpula no Japão
Foto: Brendan Smialowski / AFP / BBC News Brasil

Alguns dos últimos obstáculos para que o acordo entre Mercosul e União Europeia fosse firmado envolveram a preocupação de líderes europeus com a possível falta de compromisso do Brasil com o combate às mudanças climáticas.

Neste sábado (29, no horário local), no Japão, o presidente Jair Bolsonaro evitou dizer se o Brasil ficará no Acordo de Paris até o final de seu mandato, criticou o que chamou de "psicose ambientalista" e falou que reservas indígenas nas áreas de fronteira ameaçam a integridade do território nacional. O presidente participa da cúpula do G20 na cidade de Osaka.

A declaração ocorre um dia depois de Bolsonaro ter reuniões com a chanceler Angela Merkel, da Alemanha, e o presidente da França, Emmanuel Macron, sobre a pauta ambiental brasileira.

Os dois líderes europeus haviam feito críticas públicas à posição do governo sobre o meio ambiente e queriam garantias do presidente brasileiro quanto ao compromisso de respeitar o Acordo de Paris - entendimento pelo qual os países se comprometem a reduzir a emissão de gases poluentes.

Macron chegou a dizer que a França não fecharia o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia se o Brasil não se comprometesse com as metas de combate ao aquecimento global.

O entendimento entre os dois blocos acabou sendo firmado nesta sexta (28), após negociações em Genebra, Suíça, com a participação do ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. O texto prevê o compromisso dos signatários com o Acordo de Paris.

Perguntado se o entendimento comercial entre os dois blocos comerciais apontava que o Brasil permaneceria no Acordo de Paris durante todo o seu mandato, Bolsonaro disse que "no momento estamos no acordo" e que o Brasil "não tem como cumprir" todas as metas do Acordo de Paris.

"Falei com Angela Merkel e a Alemanha não vai cumprir o acordo no tocante a energias fósseis. O que cada brasileiro bota para fora de gás carbônico, o alemão é quatro vezes mais", disse.

"A nossa (meta), né? A gente não tem como cumprir, nem que pegue aqui agora 100 mil homens no campo e comece a reflorestar a partir de agora, até 2030 não vai atingir essa meta", emendou.

Merkel e Macron 'arregalavam os olhos' em conversa com Bolsonaro, segundo o próprio presidente

O presidente disse ainda que, tanto no encontro que com Macron quanto na conversa com a chanceler alemã, ele criticou o que chamou de mania de "colocar o meio ambiente acima de tudo".

Segundo ele, os dois europeus "arregalavam os olhos" com frequência durante o diálogo.

"De maneira cordial, mostramos que o Brasil mudou com o atual governo e vai ser respeitado. Falei da psicose ambientalista que existe conosco", relatou, argumentando que os líderes europeus "se alienam" com informações de ONGs ambientais.

"Convidei Merkel e Macron para vir à Amazônia. Eles poderiam ver que não existe esse desmatamento tão propalado", afirmou.

Durante evento no Japão, Bolsonaro discutiu com Merkel e Macron a pauta ambiental brasileira
Durante evento no Japão, Bolsonaro discutiu com Merkel e Macron a pauta ambiental brasileira
Foto: ELIOT BLONDET/AFP/Getty Images / BBC News Brasil

'Indígenas têm que ser integrados à sociedade'

O acordo comercial entre Brasil e União Europeia menciona a necessidade de uma administração sustentável e da conservação de florestas e prevê a cooperação entre os países para a proteção dos povos indígenas.

Mas Bolsonaro voltou a criticar o tamanho das reservas indígenas brasileiras, dizendo que há uma preocupação de que as áreas demarcadas perto da fronteira ameacem a "integridade territorial" do Brasil.

"A reserva ianomâmi é muitas vezes muito maior que alguns países europeus, além de ser rica em minério, urânio..."

O presidente ainda voltou a dizer que o governo pretende "integrar os indígenas à sociedade".

"A gente quer tratar índio como cidadão. O índio não pode ser tratado como ser pré-histórico confinado. Não podemos ver índio morrer com picada de cobra e trabalhando apenas com energia muscular para fazer farinha", afirmou.

"Ele quer ir para a cidade, quer o que queremos. Queremos integrar o índio à sociedade."

'Efeito dominó'

Segundo Bolsonaro, o acordo comercial recém-firmado entre Mercosul e União Europeia pode provocar um efeito em cascata, possibilitando que novos entendimentos sejam fechados entre o bloco e outros países.

"Tem um efeito dominó. Outros países terão interesse em negociar conosco".

O acordo entre Mercosul e União Europeia vinha sendo negociado há 20 anos e envolve 25% da economia global e 780 milhões de pessoas - quase 10% da população do mundo.

Segundo estimativas do Ministério da Economia do Brasil, o acordo representará um incremento no Produto Interno Bruto (PIB) do país equivalente a R$ 336 bilhões em 15 anos, com potencial de chegar a R$ 480 bilhões, se forem levados em conta aspectos como a redução de barreiras não tarifárias.

Brasil considera sanções a Cuba

Na entrevista coletiva, Bolsonaro também falou sobre as ações de pressão que discutiu com o presidente americano, Donald Trump, contra países que financiam o regime de Nicolás Maduro, na Venezuela.

Jair Bolsonaro disse que é pessoalmente favorável a que o Brasil adote sanções a Cuba para impedir que o país contribua para a manutenção de Maduro no poder.

Se o governo de fato optar por esse caminho, haverá uma quebra da tradição diplomática brasileira de só adotar sanções a outras nações se elas forem aprovadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

O presidente disse ser pessoalmente favorável a que o Brasil adote sanções contra Cuba para impedir que este contribua com o regime de Maduro
O presidente disse ser pessoalmente favorável a que o Brasil adote sanções contra Cuba para impedir que este contribua com o regime de Maduro
Foto: LUDOVIC MARIN/AFP/Getty Images / BBC News Brasil

"Eu tenho minha posição a respeito disso. Ouviria o Conselho de Defesa. Mas eu adianto para você que eu seria favorável a isso. Mas a maioria que decide", disse.

"Eu concordo com medidas dessa natureza de embargos contra países que estão alinhados com a Venezuela".

Questionado se o Brasil adotaria a mesma posição em relação à Rússia e à China, também grandes aliadas da Venezuela, Bolsonaro disse que não, porque esses dois países são grandes potências.

"Aí é outro nível. Tem hierarquia. E não vejo chineses na Venezuela. Tem russos militares lá... Mas tem uns 60 mil cubanos lá"

Bolsonaro também admitiu que desistiu de fazer uma crítica enfática à Venezuela durante reunião dos Brics durante o G20, porque não quis "polemizar" com a Rússia, "uma potência militar".

"Eu estava na presença do nosso presidente da Rússia e vi que não era o momento de ser mais agressivo nessa questão", disse.

"Não atingiria meu objetivo um posicionamento meu. Quem decide meu futuro são as potencias nucleares e eu não quis polemizar".

Viagem à China

Durante a entrevista à imprensa, em Osaka, Bolsonaro também confirmou uma data para a viagem que fará à China.

Segundo ele, a visita de Estado será em outubro. Neste sábado, Bolsonaro tem uma reunião bilateral com o presidente chinês, Xi Jinping, durante o G20.

Ele disse que, na sequência da viagem a Pequim, em outubro, pretende ir à Arábia Saudita.

Bolsonaro afirmou que a ida ao país árabe ajudará a "consertar" a imagem negativa que os árabes teriam do governo.

Desde que tomou posse, o presidente brasileiro iniciou uma forte aproximação com Israel e chegou a anunciar planos de transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, o que gerou amplas críticas de países árabes - importantes parceiros comerciais do Brasil.

No final, o Brasil acabou optando por abrir um escritório de comércio em Tel Aviv e postergou os planos de mudança da embaixada.

A forte proximidade entre o governo Bolsonaro e os Estados Unidos de Donald Trump também gerou preocupações de que isso pudesse afetar a relação brasileira com a China, a maior parceira comercial do Brasil.

Durante o G20, Bolsonaro disse que o Brasil "não tem lado" na guerra comercial entre China e Estados Unidos.

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