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Marcado por caso Queiroz, Flávio se torna 'ministro 01' de Bolsonaro

Filho do presidente, senador atua nos bastidores em Brasília e estabelece relações próximas com Maia, Alcolumbre e Toffoli

10 set 2019 - 18h51
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BRASÍLIA - O senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho "01" do presidente Jair Bolsonaro, contrariou as previsões de que ingressaria no Congresso "morto politicamente", depois da revelação, pelo Estado, de movimentações financeiras atípicas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) envolvendo seu ex-assessor Fabrício Queiroz, no fim do ano passado.

Com uma postura discreta, boa conversa e capacidade de articulação, Flávio, de 38 anos, tem crescido em influência em Brasília e já estabeleceu uma relação próxima com os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, do Senado, Davi Alcolumbre, e do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli.

Dado o acesso privilegiado ao pai, o 01 tem sido recebido como uma espécie de ministro lotado no Congresso e tem atuado em diversas áreas, incluindo os feudos dos "superministros" Sérgio Moro, da Justiça, e Paulo Guedes, da Economia.

Nas recentes indicações de Bolsonaro para a Procuradoria-Geral da República (PGR) e para o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Flávio foi ouvido, e Moro não.

Augusto Aras, escolhido para a PGR, teve conversas frutíferas com o senador, e nenhum encontro com o ministro, que era a favor da lista tríplice, desprezada pelo presidente.

Moro também viu seu indicado ao Cade, Vinícius Klein, ser desconvidado por Bolsonaro, que emplacou a advogada Lenisa Rodrigues Prado, ungida por Flávio.

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Flávio foi protagonista, junto a Rodrigo Maia, na articulação do acordo fechado na semana passada para mudar a regra de distribuição de recursos do megaleilão do pré-sal, prevendo R$ 2,5 bilhões de verba extra ao Rio de Janeiro, sua base eleitoral. Também está mergulhado no tema da reforma tributária, próxima prioridade da equipe econômica.

Em uma pauta que está entre as prioridades da família, o filho 01 tem participado de jantares tentando destravar a indicação do filho "03", o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), à Embaixada dos Estados Unidos.

Nos encontros reservados, Flávio tenta mostrar aos colegas quais seriam as vantagens de ter o irmão como embaixador. Embora a aprovação ainda seja dada como incerta, opositores à indicação ouvidos pela reportagem afirmam que, sem Flávio, seria impossível.

No primeiro mandato no legislativo federal, Flávio mostra atividade parlamentar mais intensa do que o pai enquanto deputado federal, na proposição de emendas e projetos. Jair pregava sozinho na planície da Câmara e em 26 anos teve dois projetos aprovados. Aliados dizem que o filho tem mais gosto pelas negociações políticas.

Um dos feitos do senador tem sido quebrar a resistência de parte da bancada do PSL no Congresso quanto ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, pela ligação histórica com o PT. Toffoli advogou pelo partido e foi advogado-geral da União do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o indicou ao STF.

Flávio Bolsonaro atua para enterrar CPI da Lava Toga

Contrário à CPI da Lava Toga - que teria entre os alvos Toffoli -, Flávio Bolsonaro também foi escalado para convencer senadores do seu partido, o PSL, a retirar o apoio à criação da comissão. Flávio foi o único dos quatro representantes da sigla na Casa a não assinar o requerimento. O movimento gerou reação na bancada. A senadora Juíza Selma (PSL-MS) afirmou nesta terça-feira, 10, que avalia deixar o partido.

Além de tentar enterrar a CPI, Flávio também iniciou uma aproximação até pouco tempo inimaginável de Toffoli com parlamentares do partido, incluindo um jantar conjunto no dia 21 de agosto. A deputada Carla Zambelli (PSL-SP), que já fez um boneco do presidente do STF, não compareceu.

Segundo o Estado apurou, Flávio vê Toffoli como uma autoridade que traz estabilidade para o cenário político nacional. Enxergava, da mesma forma, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge.

Pragmático, não se opôs à recondução da PGR por ter denunciado o pai. As ressalvas que tinha eram pela ênfase da procuradora na defesa da área ambiental e dos direitos humanos.

Toffoli foi o autor da ordem para paralisar todas as investigações no País que utilizassem informações de órgãos de controle sem aval da Justiça. A decisão teve como base um pedido de Flávio. O presidente do STF apontou ilegalidade no compartilhamento dos dados do Coaf com o Ministério Público do Rio de Janeiro sem a prévia autorização judicial.

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Estadão
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