Malafaia cobra ministros do Centrão a defender indicação de Mendonça ao STF
Evangélicos são a principal base de apoio ao indicado ao Supremo, que enfrenta demora recorde para ter escolha votada pelo Senado
BRASÍLIA — O pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, divulgou nesta segunda-feira, 11, um vídeo em que cobra dos ministros da Casa Civil, Ciro Nogueira, da Secretaria de Governo, Flávia Arruda, e das Comunicações, Fábio Faria, uma defesa para aprovação de André Mendonça como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).
Neste vídeo eu reafirmo mais uma vez que não foram os líderes evangélicos que indicaram André Mendonça, e sim Bolsonaro. O presidente apenas nos consultou perguntando se ele era um 'terrivelmente evangélico' ou não.https://t.co/fKbT4iJc7N
— Silas Malafaia (@PastorMalafaia) October 11, 2021
"Se o senhor Ciro Nogueira é a favor da indicação de André Mendonça, convoque a imprensa. Não é para mim, não. O senhor é obrigado a vir a público dar uma satisfação", declarou o pastor, que é aliado próximo do presidente Jair Bolsonaro. Os evangélicos são o principal pilar de sustentação da indicação de Mendonça ao STF e têm se esforçado mais do que o governo para que a escolha seja concretizada.
As declarações de Malafaia acontecem um dia depois de reportagem do jornal Folha de S. Paulo apontar que políticos do Centrão - grupo do qual fazem parte Ciro, Flávia e Fábio - articulam para que a indicação de Mendonça ao STF seja retirada e substituída pela do presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Alexandre Cordeiro, que é apadrinhado pelo ministro da Casa Civil.
"Os ministros palacianos são políticos. Ele (Fábio Faria), o ministro Ciro Nogueira, que é da Casa Civil, e a ministra Flávia Arruda, que é da Secretaria de Governo, são políticos. Eles são obrigados a emitirem nota e trabalharem pela indicação do presidente", afirmou Malafaia.
Bolsonaro fez a indicação para o STF há quase três meses, no dia 13 de julho. Mesmo se forem desconsiderados os 15 dias de recesso parlamentar, a demora para acontecer a sabatina é maior que o tempo que os dez ministros atuais do Supremo tiveram que esperar.
Num movimento pouco usual e que expõe a crise na articulação política do governo, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), se recusa a colocar na pauta a indicação de Mendonça. Sem a sabatina e a votação na CCJ, o processo não anda.
Alcolumbre, que está insatisfeito com o governo por ter perdido o controle da liberação de emendas e ter sido preterido para escolha de um ministério, tem dito a interlocutores que não há votos para aprovar o nome do ex-ministro e sugere ao Palácio do Planalto que troque a indicação pelo procurador-geral da República, Augusto Aras.
Na semana passada, não houve sequer sessão da CCJ no Senado, apesar de Alcolumbre ter ficado em Brasília e participado da convenção que selou a união entre DEM e PSL para formar o novo partido União Brasil. Durante o evento, o senador declarou que a sabatina do ministro ainda segue sem previsão de acontecer.
Também na semana passada, em manifestação oficial ao STF, em uma ação em que é cobrado a justificar a demora na sabatina, o senador do Amapá disse que ainda não pautou a indicação de Mendonça por não haver "consenso" em torno da escolha dele.
Na última sexta-feira, 8, Malafaia também havia criticado Ciro Nogueira por conta do atraso na sabatina de Mendonça. O pastor também incluiu nas críticas o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), que é responsável por representar os interesses do Palácio do Planalto na Casa Legislativa.
"Queria aproveitar e mandar uma mensagem também para o ministro Ciro Nogueira e para o líder do governo, Fernando Bezerra, que ninguém vai enganar a comunidade evangélica. E que não adianta jogo debaixo dos panos para botar alguém de interesses porque não vai dar certo", afirmou o líder religioso.
Ontem, 10, o presidente Jair Bolsonaro criticou Alcolumbre por não pautar a sabatina de André Mendonça na CCJ do Senado. Em entrevista coletiva no litoral de São Paulo, onde passa o feriado prolongado, Bolsonaro insinuou que o senador estaria travando a apreciação por ter interesse em conduzir outro nome para a Corte. "A indicação é minha. Se ele quer indicar alguém para o Supremo (...), ele se candidata a presidente ano que vem", afirmou Bolsonaro, que até agora vinha evitando criticar abertamente Alcolumbre.
Bolsonaro, por sua vez, atribuiu a demora a um suposto jogo político por parte do senador. Segundo o presidente, o parlamentar estaria se antecipando ao plenário da Casa e impedindo a sabatina por não querer dar prosseguimento à indicação. "Ele pode votar contra, mas o que ele está fazendo não se faz", reclamou.