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Itália está a caminho do impasse político após eleição

2 mar 2018 - 08h46
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Populistas de direita e de esquerda lideram sondagens eleitorais, mas nem eles nem os social-democratas deverão obter maioria. E todos os três descartam alianças entre si para formar governo.De acordo com as pesquisas de intenção de voto, a Itália está diante de uma enorme vitória de populistas tanto de esquerda quanto de direita nas eleições legislativas que se realizam no próximo domingo (04/03).

Luigi di Maio confia na vitória do Movimento 5 Estrelas, que deverá ser o partido mais votado
Luigi di Maio confia na vitória do Movimento 5 Estrelas, que deverá ser o partido mais votado
Foto: DW / Deutsche Welle

Segundo os prognósticos, a legenda com o maior número de votos (28%) deverá ser o Movimento 5 Estrelas, um partido de protesto de tendência esquerdista fundado há nove anos pelo comediante Beppe Grillo. Atualmente ele é liderado por Luigi di Maio, de 31 anos, que não chegou a completar as duas graduações que iniciou.

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O 5 Estrelas se apresenta como um movimento contra o establishment. Ele promete benefícios sociais, é eurocético e critica o acolhimento de refugiados e migrantes na Itália. "Acredito que seremos a maior força política e conseguiremos formar um governo", afirmou Di Maio à DW. "Os demais países da Europa perceberão que a verdadeira ameaça parte de Le Pen, da AfD. Não participamos disso. Politicamente, somos de esquerda. Lutamos contra Salvini e a Liga."

O principal candidato do 5 Estrelas vê os populistas de direita da Liga (que cortou o "Norte" do nome) e seu presidente, Matteo Salvini, como seus maiores adversários. Salvini, que é tachado de xenófobo e faz campanha com o slogan "A Itália em primeiro lugar", fechou uma aliança com a conservadora Força Itália, do ex-premiê Silvio Berlusconi, e com os neofascistas Irmãos da Itália.

Com 38% dos votos, esse bloco conservador e populista de direita deverá ser a principal força no novo Parlamento, mas não deverá obter a maioria absoluta de assentos. A terceira e menor ala política é formada pelos social-democratas, que estão no poder e cuja coligação deverá chegar a 28% dos votos, segundo sondagens. A coligação é liderada pelo ex-premiê Matteo Renzi.

Coalizões não estão planejadas

Todos os três grupos - 5 Estrelas, bloco de direita e social-democratas - descartaram coalizões entre si. O grande mistério para os eleitores italianos continua a ser como um governo poderá ser formado dessa maneira.

Uma legislação eleitoral extremamente complexa também não ajuda nesse ponto, assinalou o especialista em assuntos italianos Lutz Klinkhammer. "Essas forças políticas iriam, provavelmente, se bloquear no Parlamento", disse Klinkhammer, vice-diretor do Instituto Histórico Alemão em Roma. "Isso pode significar que se chegue a um governo interino que tente rapidamente aprovar uma nova lei eleitoral no Parlamento, partindo então para novas eleições."

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, advertiu que era preciso preparar-se para o "pior cenário", ou seja, um Parlamento não operacional. Os comentários de Juncker fizeram com que o custo do refinanciamento da exorbitante dívida soberana italiana aumentasse temporariamente.

Com a economia italiana crescendo lentamente e o setor bancário vulnerável a crises, os mercados estão nervosos e o sistema permanece instável. Durante a campanha eleitoral, pouco se falaou sobre como se pode reduzir um endividamento estatal correspondente a 130% do Produto Interno Bruto. "Todo mundo faz promessas, mas ninguém tem uma receita", afirmou o economista Ruggero Bertelli.

Ressurgimento da evasão fiscal

Para Berlusconi, agora com 81 anos e 50 anos mais velho que o principal candidato do 5 estrelas, a eleição pode significar um grande retorno.

Na verdade, Berlusconi se encontra inelegível desde que foi condenado num processo de evasão fiscal. Mesmo assim, ele comanda o bloco de direita, que é liderado por sua conservadora Força Itália. Todos os escândalos do passado envolvendo orgias, sexo com a prostituta menor de idade Ruby ou transações questionáveis com antigos ditadores não prejudicaram a imagem do empresário de mídia e multimilionário.

"Partes do governo e algumas instituições me atacaram com insultos indecentes e falsos. Mas as pessoas percebem que essas conversas sobre orgias, festas, etc foram todas mentiras inventadas pelas partes interessadas em eliminar o oponente político", declarou Berluconi em entrevista à TV.

Esse papel de vítima por parte do eternamente sorridente magnata da mídia é aceito por muitos eleitores. Nas pesquisas, seu partido conta com cerca de 16% dos votos, sendo a principal força do bloco de direita. Berlusconi não teme a proximidade de neofascistas e populistas de direita. Ele acredita firmemente que um primeiro-ministro de sua escolha vai liderar o próximo governo e já anunciou que ele será Antonio Tajani, o presidente do Parlamento Europeu e seu companheiro partidário de longa data. Berlusconi promete benefícios fiscais e a criação de empregos para muitos jovens desempregados. Mas não revela como pretende financiar tudo isso.

Os problemas da Itália continuam

O prefeito de Palermo, Leoluca Orlando, mostra-se cético quanto ao provável grande número de votos para populistas e partidos de protesto à esquerda e à direita. Para Orlando, as eleições serão decididas, provavelmente, no sul, na parte mais pobre da Itália. Seu partido liberal de esquerda Itália dos Valores tem somente chances modestas, disse ele à DW em Palermo.

"Eu acho que todos os populistas são vulneráveis ao risco que eu chamaria de 'Máfia'. Os populistas não têm experiência de governo. Eles podem ser influenciados negativamente", disse o prefeito, que lutou contra a Máfia durante toda a sua vida. Ele não chama Berlusconi de mafioso, mas diz que o clima político muda com ele no poder. "O estilo de Berlusconi é exatamente o que a Máfia precisa."

Após as eleições, a Itália não se afundará imediatamente no caos nem sua economia vai entrar em colapso. O país continuará a ser a terceira maior economia da zona do euro. "Uma eleição não vai mudar isso", apontou Klinkhammer.

"Os problemas pendentes são de médio e longo prazo. Trata-se de investimentos. Trata-se, sobretudo, do fato de que não há perspectivas para a geração mais jovem e, portanto, muitos partirão para o exterior, especialmente aqueles com boa formação", observou.

As urnas italianas fecharão às 23h (hora local) de domingo. Somente duas horas mais tarde serão anunciadas projeções confiáveis. A distribuição final dos assentos em ambas as câmaras do Parlamento em Roma só será conhecida na manhã de segunda-feira.

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