A mulher no Irã

Talvez poucos filmes tenham marcado o imaginário popular sobre a mulher no Irã quanto o sucesso Nunca sem Minha Filha (1991), estrelando Sally Field no papel de uma mulher americana casada com um iraniano que é obrigada a fugir do marido e do país para continuar com a filha. E poucos filmes são também tão detestados no Irã.

“A verdade é que o filme é detestado não porque não mostra uma situação verdadeira, mas muito mais porque fere o orgulho iraniano”, diz Chalipa Djallili, iraniana de Teerã, que trabalha para uma representação diplomática ocidental e viveu anos na Europa e América do Sul.

“Por um lado somos forçadas a vestir o véu, nos vilarejos e cidades do interior não podemos escolher com quem vamos nos casar, e as leis impostas pelo regime de acordo com a tradição islâmica protegem largamente o homem. Por outro lado, o respeito e proteção da sociedade em relação à mulher no Irã são algo pouco comuns nas sociedades ocidentais – temos vagões de metrô separado e casos de roubo a mulheres ou estupros são praticamente inexistentes por aqui”, conta Djallili.

A sociedade iraniana é mais aberta que a árabe no que diz respeito aos direitos femininos.

No Irã, é comum ver mulheres trabalhando em todos os campos – de subempregos a altas posições governamentais, passando por cargos de engenharia, pesquisa e em hospitais como médicas e enfermeiras. Ao contrário da Arábia Saudita, no Irã as mulheres podem dirigir, votar e estudar qualquer coisa que desejem.

Mas “o que realmente nos coloca em desvantagem é tudo aquilo que seja relacionado ou controlado pela religião”, explica Djallili. Os assuntos regidos pela religião na República Islâmica são muitos e abrangem praticamente todos os campos da vida privada. O exemplo mais óbvio é a proibição de que qualquer mulher – mesmo as não muçulmanas – saiam em público sem o véu. “Em pequenas cidades e locais mais conservadores, a pressão para que as mulheres se cubram completamente é tão grande, que não usar o xador significa ser automaticamente excluída da vida pública”, prossegue a iraniana.

Na lei iraniana, a mulher é tratada como propriedade de sua família. Nas localidades mais tradicionais, os casamentos são arranjados, e sexo antes do casamento é um dos motivos que podem levar à morte de uma garota (geralmente levada a cabo por familiares) para garantir a honra de sua família.

Em casos de divórcio, a mulher é protegida por leis que forçam o marido a ceder parte de seu patrimônio, porém a guarda dos filhos geralmente permanece com a família do homem. Ademais, a lei islâmica permite a um homem ter até quatro esposas simultaneamente desde que tenha condições de mantê-las de forma confortável. O adultério masculino é punível com prisão ou multas, mas não dá a mulher o direito de se divorciar. Já quando é a mulher quem trai, o marido além de poder pedir o divórcio e não ser obrigado a ceder qualquer bem à ex-esposa, pode solicitar que a mesma seja apedrejada até a morte para recuperar sua honra. O conceito se aplica mesmo a viúvas que não tenham se casado formalmente.

“É por este motivo que tantas pessoas desprezam o regime quando se sentem à vontade para conversar sobre o assunto. Mesmo grande parte dos homens ache este tipo de lei absurda, e é realmente inadequado que uma parcela de radicais religiosos possa obrigar a todas as mulheres do país a seguir leis medievais que decidem inclusive os trajes que a mulher deve utilizar”, conclui Djallili

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