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G7 mantém abertas as portas para o diálogo

27 ago 2019 - 11h38
(atualizado em 29/8/2019 às 10h20)
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Cúpula é marcada menos pelos resultados concretos e mais pela astúcia de Macron ao evitar arroubos de Trump. Grupo propõe ajuda à Amazônia e mantém acesa esperança de solução para as crises com a China e o Irã.O fato mais notável da decisão do G7 de ajudar na erradicação dos incêndios florestais na Amazônia não foi a magra soma de 20 milhões de dólares - rejeitada pelo Brasil - nem o fato de que foram necessários três dias para alcançar um acordo sobre a medida, mas que Donald Trump simplesmente faltou à reunião sobre mudanças climáticas, proteção dos oceanos e outras preocupações ambientais.

Cúpula em Biarritz foi encerrada sob o signo da unidade
Cúpula em Biarritz foi encerrada sob o signo da unidade
Foto: DW / Deutsche Welle

Basicamente, foi o G6 que decidiu ajudar moradores da Amazônia com a compra de aviões de combate a incêndios e apoio a um plano de reflorestamento. Além disso, houve declarações de intenção ambiental do G6, que devem - ou não - ser implementadas pelos países individualmente.

No geral, esta cúpula do G7 foi caracterizada menos pelo que foi capaz de apresentar em resultados concretos do que pelo sucesso do anfitrião, Emmanuel Macron, em impedir novos surtos por parte de Trump e também abrir uma janela para negociações, tanto no comércio mundial quanto na crise do Irã. Todos sabem, no entanto, que as promessas de unidade e boa vontade no G6+1 só duram enquanto persistir o bom humor do presidente dos Estados Unidos.

Embora tenha anunciado que não haveria uma declaração final conjunta, o presidente francês chegou ao final com um documento, mesmo que de apenas uma página. Nele estão um compromisso para a reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC), o consenso de que o Irã não deve ter armas nucleares e de que a paz e a estabilidade são uma meta para a região. Além disso, o texto propõe uma cúpula sobre a Ucrânia e uma conferência sobre a Líbia. E, quanto aos protestos em Hong Kong, a declaração lembra do acordo anglo-chinês de 1984.

Mas ainda no domingo, parecia que a cúpula do G7 iria naufragar num mar de má vontade, desunião e comunicação equivocada. No entanto, no dia do encerramento, o presidente dos EUA mudou a coisa de rumo, após espalhar incerteza por dois dias sobre a guerra comercial com a China e sobre sua posição a respeito do Irã. Donald Trump acenou com boa vontade em direção a Pequim e pelo menos aturou a iniciativa do presidente francês para tentar resolver a crise com Teerã.

Habilidade diplomática

O anfitrião Macron conseguiu, com muita habilidade diplomática, manter o humor do presidente dos EUA, que declarou deixar a França satisfeito com o trabalho conjunto, dizendo ter havido muito consenso e que as discussões foram positivas. No final, a cúpula foi encerrada sob o signo da unidade. Por isso, os dois chefes de Estado realizaram, lado a lado, uma conferência de imprensa, na qual Trump chamou o anfitrião de um "líder político notável", e Macron elogiou largamente a amistosa cooperação com o americano.

Macron teve sucesso principalmente ao conseguir de Trump trânsito livre para tentar uma aproximação com o Irã. Como cossignatário do acordo nuclear com Teerã, o francês quer acabar com as tensões com os EUA no Estreito de Ormuz. É por isso que ele recebeu o ministro do Exterior iraniano, Mohammad Javad Zarif, na noite de sábado em Biarritz, como convidado-surpresa. A princípio, Trump reagiu com relutância e, na segunda-feira, repentinamente, sinalizou estar aberto a uma possível abordagem diplomática.

"Nós mapeamos um caminho", disse o presidente Macron, ponderando que as circunstâncias ainda continuam frágeis. Mas ele garantiu que telefonou ao presidente do Irã, Hassan Rohani, e que o iraniano estaria disposto, nas circunstâncias apropriadas, a se encontrar com Trump. Talvez um acordo seja possível - de qualquer forma, o G7 concordou que o Irã não deve obter armas nucleares e que uma solução deve ser tentada.

Surpreendentemente, Trump também declarou ser possível uma reunião com Rohani. Ele disse ser importante garantir que o Irã não tenha armas nucleares nem mísseis balísticos. Isto, segundo Trump, é algo que pode ser conseguido rapidamente com um novo acordo - assim como, sob certas circunstâncias, a suspensão das sanções. "Eles têm que colaborar", acrescentou o presidente dos EUA; ressaltando que, caso contrário, eles enfrentarão violência e resistência.

Trump assegurou que não busca uma mudança de regime no Irã, justificando que isso não funcionaria. Ele acrescentou, em seguida: "Tenho bons sentimentos em relação ao Irã."

O americano também disse que foi informado com antecedência por Macron sobre o encontro do francês com o representante do Irã à margem da cúpula do G7. Além disso, afirmou que o Irã tem um "grande potencial", comparando o país com a Coreia do Norte de Kim Jong-un. O rigor político não é um dos pontos fortes do presidente dos EUA.

Aproximação na guerra comercial

Da mesma forma, os dois presidentes também se manifestaram otimistas sobre um possível fim da disputa comercial com a China. "O assunto foi discutido longamente, e estamos de acordo que as práticas comerciais da China, como em relação a propriedade intelectual e a dumping, não são justas", disse Macron, acrescentando ser importante intensificar as tentativas de se entrar em acordo sobre novas regras para o comércio mundial. "Além disso, a guerra comercial entre os EUA e a China cria incerteza para a economia global, e um acordo seria bom para todos", destacou.

Nesse ponto, Trump pareceu assumir posições discrepantes durante o fim de semana. Ainda no domingo, aparentemente lamentava a guerra comercial com a China. Mas logo em seguida afirmou que essa é uma interpretação falsa e que ele lamentava, na verdade, não ter imposto tarifas ainda mais elevadas contra Pequim. Mas ao final da cúpula do G7, o presidente americano dizia acreditar que "eles querem um acordo", porque a China estaria sendo afetada duramente pelas taxações.

A França também se disse confiante de que a disputa em torno do novo imposto digital - ao qual Donald Trump respondeu ameaçando sobretaxar importações de vinho francês - poderia ser resolvido em 2020 por meio de regulamentação internacional a nível da OCDE.

E a chanceler federal alemã, Angela Merkel, conseguiu, num encontro bilateral com o presidente dos EUA, trazer de volta as esperanças da retomada de negociações comerciais com a UE sobre taxação de bens industriais, uma preocupação da indústria automotiva alemã. Pelo menos Trump não disse não imediatamente.

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